Nunca vi filho do justo mendigar

Nunca vi filho do justo mendigar

"Um crente pode experimentar privações se o salmista disse que nunca viu desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão (Salmos 37.25)?"

A passagem acima, em um primeiro momento, parece ser de difícil interpretação e pode até oferecer alguma dificuldade de entendimento. Daí porque achamos por bem analisá-la sob dois aspectos: o histórico e o teológico.

Do ponto de vista histórico, gostaríamos de lembrar primeiramente que, na época em que Davi escreveu este Salmo, havia crianças passando necessidades, assim como hoje. Então, o que ele quis dizer quando afirmou que os filhos dos justos não passariam fome? Certamente sabia que os crentes não deixariam seus irmãos passarem necessidades ao ponto de mendigarem; eles ajudariam os necessitados, porque o próprio Davi foi testemunha ocular disso em seus dias. Na época de Davi, Israel obedecia às leis do Senhor, que asseguravam que o pobre deveria ser tratado com justiça e misericórdia. Quando a nação era obediente, havia alimento suficiente para todos. Quando Israel se esquecia de Deus, os mais abastados cuidavam somente de seus interesses, e os pobres sofriam muito.

Davi, então, se refere aqui não apenas ao cuidado direto de Deus para com os Seus, suprindo suas necessidades, mas provavelmente também à observância do povo aos mandamentos divinos resultando na garantia de que os mais necessitados não passarão maiores privações.

Quando vemos um irmão em Cristo sofrendo, normalmente respondemos de três modos: (1) como os amigos de Jó, podemos dizer que a própria pessoa acarretou à situação; (2) que se trata de uma prova para desenvolver a paciência e confiança da pessoa  em Deus; (3) ou podemos ajudá-la. Davi aprovaria apenas a última opção.

Do ponto de vista teológico, o questionamento que se levanta é: Por que sofrem os justos? 

A pergunta do nosso distinto leitor tem procedência. No entanto, convém lembrar que o mesmo salmista que escreveu o texto acima também escreveu: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (Salmos 34.19).

Muitas vezes, o Senhor permite provações na vida do crente, até mesmo de ordem material e financeira, para provar a sua fé, haja vista o caso do sofrimento de Jacó, o qual teve de mandar seus filhos ao Egito comprar alimentos para que não perecessem de fome. Porém, em toda aquela situação, Deus queria revelar seu grande plano na vida de José e conservar a descendência de Israel com vida: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haver vendido para cá; porque, para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face”, Gênesis 45.5. Veja também o caso de Jó (Jó 1.1-12; 2.1-13; 42.10-17), quando Satanás questiona a fé daquele patriarca e Deus permite que todos os seus bens sejam tomados, seus filhos sejam mortos e sua saúde seja grandemente abalada. No entanto, a Bíblia nos mostra o fim que o Senhor lhe deu: “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso”, Tiago 5.11. 

Lembramos ainda o profeta Elias, que, em meio à crise de uma grande fome em Israel, foi alimentado pelos anjos, pelos corvos e por uma viúva (1 Reis 17.1-24). Deus também permitiu tribulação e pobreza aos crentes na Igreja de Esmirna (Apocalipse 2.9a). Eles tiveram seus bens confiscados ou destruídos por causa da sua fé em Cristo. Porém, nesses e em tantos outros casos, Deus nunca permitiu que seus servos perecessem. Muitas vezes, Deus permite certas situações acontecerem em nossas vidas não porque nos abandonou, mas, sim, para testar a nossa confiança Nele. Fica demonstrado assim que Deus usa os tempos de aperto da nossa vida para nosso próprio crescimento e benefício.

Por, Waldemar Pereira Paixão.

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