As pessoas que saiam em busca de um profeta acreditavam que ele era um vidente. Era assim que eles eram chamados no Velho Testamento (1 Samuel 9.9), pois eram pessoas que falavam em nome de Deus ou daquele que falava na presença de Deus.
As profecias eram algo constante e bem comunitário, não estavam reduzidas apenas aos profetas maiores e menores. Além disso, outra coisa que marcava a vida de um profeta era o seu envolvimento social com a sua comunidade, com os reis. Isso pode ser visto na vida do profeta Elias, Eliseu e Oséias, que denunciaram várias práticas abusivas de governo e do envolvimento com atos pecaminosos. Essa era uma das características dos profetas do norte. Já os profetas do sul estavam envolvidos na perspectiva davídica e também com as tradições de Jerusalém.
O julgamento dos profetas começou a surgir porque foram surgindo muitos profetas que tinham pontos de vista conflitantes com os profetas que eram diretamente enviados por Jeová. Tais profetas apontavam para uma direção diferente e faziam isso porque tinham seus próprios interesses; eles não estavam interessados nas questões espirituais (Deuteronômio 13.1-3; Ezequiel 13.1-16). Exemplo bem claro disso é Elias, que foi distinguido dos 450 profetas de Baal não apenas pela diferença quanto a quem adoravam, mas também em relação aos seus interesses diferentes. Os profetas de Baal procuravam tão somente agradar a casa de Acabe (1 Reis 18.22).
O profeta Miquéias se posicionou contra alguns profetas que seduziam o povo de Deus (Miquéias 3.8,8). Jeremias foi confrontado pelo falso profeta Hananias (Jeremias 28.1-16), que apresentava mensagem ilusória ao povo de Deus, contradizendo o verdadeiro profeta, que era rejeitado por não entregar uma mensagem ilusória, ou seja, que estivesse de acordo com o desejo do povo e do rei.
O julgamento da profecia no contexto veterotestamentário era feito pela comunidade israelita. Se a profecia dita não tivesse o seu comprimento, ou se o profeta se apresentasse com um comportamento fora do padrão divino, ele não deveria ser temido pelo povo (Deuteronômio 18.19-22; Jeremias 28.9).
Quase todos os profetas de Deus do Velho Testamento foram rejeitados por não profetizarem aquilo que o povo queria, mas o que Deus queria e o povo precisava. Por exemplo, Elias teve que fugir para não ser morto, pois suas mensagens proféticas incomodavam muito, já que ele não profetizava ilusão. Amós foi expulso e censurado, Oséias foi chamado de louco, Jeremias foi ameaçado de morte. Posteriormente, as próprias comunidades entenderam que esses homens eram verdadeiros profetas de Deus, pois viram se cumprir as suas profecias.
A autoridade de um profeta não está naquilo que ele está anunciando, mas no cumprimento do que anuncia e em sua vida. Era assim que deveriam ser julgadas as profecias no Velho Testamento (Deuteronômio 18.22).
No Novo Testamento, quem incentiva a julgar as profecias e o próprio Paulo. Ele diz que a profecia deveria ser julgada pela própria Igreja, pois essa mensagem não era infalível; sendo assim, ela deveria ser julgada para evitar certos abusos (1 Tessalonicenses 5.21; 1 Coríntios 14.36-38).
Existem dois tipos de profecias: preditiva e proclamativa. Quais dessas duas devem ser julgadas e avaliadas?
Na Bíblia, aparece tanto as profecias preditivas como as proclamativas. Em Atos 11.28 e 21.11, temos o caso de duas profecias preditivas, quando Ágabo fala da fome que viria e também profetiza preditivamente o que aconteceria a Paulo quando chegasse a Jerusalém. Veja que Ágabo apenas predisse, prognosticou, vaticinou algo que iria acontecer antecipadamente, mas não deu nenhuma direção de como Paulo deveria agir ou como o problema da fome deveria ser solucionado.
A profecia preditiva deve ser julgada por duas razões: primeiro, ela não pode ser normativa, dogmatizada; e em segundo lugar, a profecia deve ser julgada pelo fato de não ter apenas uma parte divina (a procedência da mensagem), mas também uma parte humana (o profeta, que deve ser fiel a mensagem). Além disso, pode ser que o profeta esteja falando de si próprio, e não da parte do Senhor (1 João 4.1). Já a profecia proclamativa, que consta da proclamação da Palavra de Deus, que revela o plano de Deus para com o homem, fiel às Escrituras, não pode ser objeto de nossa avaliação, pois a Sua Palavra é perfeita. Sem dúvida alguma, a profecia que Paulo trata em 1 Coríntios 12.8-11 tem ligação direta com a Palavra de Deus. Veja que, em 1 Coríntios 14, Paulo exalta a profecia porque ela tem a função de edificar, confortar e consolar a Igreja, já em relação às línguas estranhas, ele fala que estas só edificam aquele que fala; somente quando há interpretação é que elas ficam no mesmo nível da profecia. Paulo disse que a profecia é maior que as línguas estranhas, porque ela, sobretudo, esclarece o plano de Deus para a salvação do homem. Por meio da mensagem profética, os pecados do homem são revelados através da ação do Espírito Santo, que sabe todos os segredos do coração do homem (João 16.8).
Em relação a profecia preditiva, que é aquela que vem ao crente de modo sobrenatural, súbito, que não é a pregação preparada, ordinária, ela deve ser julgada pela Igreja (1 Coríntios 14.29). Ou seja, enquanto dois ou três irmãos estiverem falando, a Igreja tem a responsabilidade de julgar e discernir aquilo que está sendo dito pelo profeta. "Fazer distinção", "separar" esse é o significado da palavra "julgar" no grego "diakrino". Toda a questão de Paulo quanto as línguas estranhas e as profecias, tratadas em 1 Coríntios 14, tinha como objetivo corrigir os abusos cometidos pela igreja de Corinto para manter a boa ordem e o equilíbrio, evitando assim uma grande confusão.
Cuidado com os profetas que se apresentam ao povo de Deus como sendo "guias espirituais" que são consultados como "orientadores", que afirmam ter sempre uma mensagem especial para o povo de Deus, que sempre dizem receber novas visões ou revelações. Nós cremos indubitavelmente na profecia que é falada com sabedoria e fé, e que busca a edificação do povo de Deus, e não no desequilíbrio e confusão (1 Coríntios 14.3).
Por, Osiel Gomes.
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