Enoque profetizou o Arrebatamento?

Em Judas 14 lemos que "profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de sues santos". O que isto significa?

Em seus ensinos fundamentais, tanto na Exegese quanto na Hermenêutica, destaca-se uma regra básica: um texto bíblico não pode ser analisado fora de seu contexto. Outra regra fundamental é que a Bíblia interpreta a si mesma. Assim, faz-se necessário aplicar ao texto canônico de Judas 14 essas regras, como devem ser aplicadas em todos os textos bíblicos, a fim de não serem criadas reflexões de cunho subjetivista, distanciando-se do sentido real do texto bíblico. O texto bíblico tem a sua mensagem, logo ele não precisa da interpretação de perfil subjetivista.

Uma nota contida na Bíblia de Estudo Palavras-Chave, publicada pela CPAD, assim se refere a Judas 14-16: “Nesta passagem, Judas faz uma citação do livro apócrifo de Enoque. Embora este livro não tenha sido incluído no cânone das Escrituras, os historiadores da Igreja Primitiva escreveram que a igreja o aceitava como uma fonte confiável de informação. Portanto, é plausível concluir que Judas, escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo, usou esta profecia de Enoque como um meio de descrever os falsos ensinadores que procuravam afastar os crentes da verdadeira fé em Cristo” (Cf. Judas 14-16, Bíblia de Estudo Palavras-Chave - Novo Testamento, p. 1318).

Mesmo sendo um texto breve, a Epístola de Judas tem uma preocupação quanto a falsos ensinadores, uma questão tão vívida e latente no seio da Igreja Primitiva. O problema vívido que permeava o contexto da Epístola era o gnosticismo, ensinado por alguns mestres que negavam a divindade de Jesus. O gnosticismo era um movimento sincrético que inquietou o mundo e principalmente o cristianismo no primeiro e segundo séculos da Era Cristã. É um movimento que se apresenta com interesses filosóficos, revestido de monumentos bizarros, incoerências, mitos estranhos e outras atitudes. Tem como parte fundamental a gnose, que se traduz pelo dito conhecimento total, incomensuravelmente superior à fé e à razão. Tem a pretensão de ter a sabedoria primordial e original das diversas religiões particulares. Era urgente uma batalha em prol da fé que foi dada aos santos (Judas v. 3). Muitos falsos mestres foram introduzidos na igreja, “homens ímpios” que dissuadiam os crentes da graça de Deus; esses negavam a Deus como único Deus criador e salvador e produziam certo ensino ateísta sobre o Deus que se revelou em Jesus Cristo (v. 4).

A temática do “Arrebatamento” é tratada pelo apóstolo Paulo e não por Judas em sua epístola. Quando Judas faz menção de Enoque sobre o ter profetizado, refere-se a uma profecia registrada em um de dois livros antigos, de nome Enoque, de caráter apocalíptico. Essa profecia não fala do Arrebatamento da Igreja, mas da Vinda do Senhor para julgamento.

Quem foi Enoque? Foi personagem histórico, o sétimo dos patriarcas antediluvianos (Gênesis 5.21-24). O registro bíblico mostra que ele viveu 365 anos, tendo sido homem piedoso, porquanto “andava com Deus”, até que finalmente foi arrebatado, sem ter experimentado a morte física. O relato hebraico permite, mas não necessariamente requer a ideia de que a piedade de Enoque tenha começado com o nascimento de Matusalém. Andou com Deus é réplica de “viveu”, isto é continuou vivendo. Isto era vida para ele. Por isso, Deus se agradou de Enoque, e assim, não foi mais achado entre os mortais, porque Deus o tomou para si.
Quando Judas fala de Enoque é também para afirmar que é muito importante ter uma vida piedosa, considerando Deus como o único bem supremo que o ser humano deve reconhecer em sua existência. Enoque vivia de acordo com a vontade de Deus, do Deus verdadeiro. Ao fazer isso, obteve testemunho de que agradava a Deus.

Antes de tudo, a exortação da Epístola de Judas é para os crentes andarem na verdade, que é Jesus Cristo. Desse modo, importa que a Igreja do Senhor não seja iludida por falsos ensinadores, falsos profetas, que não glorificam o verdadeiro Deus. Quem andar com Deus seguramente estará com o Senhor em Seu Retorno, conforme o apóstolo Paulo ensinou em 1 Tessalonicenses 4.13-18.

Por, Nelson Célio de Mesquita Rocha.

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