Respondendo aparentes contradições

“Quem comprou José: os midianitas ou os ismaelitas (Gênesis 37.25,27,28,36)?”; “Davi estava sozinho ou acompanhado diante de Aimeleque (1 Samuel 21.1; Marcos 2.25)?”

A respeito de José ter sido comprado pelos midianitas ou ismaelitas, apesar de nem sempre notada, esta é uma questão que há muito intriga os estudiosos do texto bíblico. Para resolvê-la, ou ao menos tentar, os eruditos estabeleceram uma lista de possibilidades. As mais prováveis são estas:

1. Apesar de sua origem distinta, os ismaelitas (descendentes da união entre Abraão e a egípcia Agar) e os midianitas (que são filhos de Quetura, com quem o mesmo Abraão casou-se após a morte de Sara) misturam-se ao ponto de serem tomados uns pelos outros. Essa é uma possibilidade plausível, pois as traduções siríacas do texto sagrado utilizam-se apenas do gentílico árabes, sem distinguir midianitas e ismaelitas.

2. Outra possibilidade é que os irmãos de José o houvessem vendido aos ismaelitas e estes, por seu turno, o revenderam aos midianitas, e foi assim que o amado filho de Jacó chegou ao Egito. Embora apontada por alguns estudiosos como razoável, não considero esta uma possibilidade válida. Prefiro, pelos apontamentos históricos e sociais, a primeira opção.

No segundo questionamento, o texto de 1 Samuel 21 relata o encontro de Davi com Aimeleque, quando o herói judeu fugia da ira assassina de Saul. Na ocasião, Aimeleque estranhou que Davi, líder militar do exército de Saul, estivesse sozinho e desacompanhado – ele parecia desconhecer o fato de o rei Saul desejar matar a Davi, o que, aliás, obrigou o filho de Jessé a fugir apressadamente e de forma improvisada. Faminto, Davi vai ao sacerdote para pedir-lhe os pães da proposição – o que não era aceitável, mas acabou sendo feito. O contexto do diálogo entre Davi e Aimeleque leva a crer que o futuro rei de Israel mentia para fazer parecer que estava em missão real e acompanhado por uma milícia, quando na verdade estava em fuga e aparentemente sozinho. Alguns séculos mais tarde, Jesus cita esta história (Marcos 2.25) e diz que Davi comera dos pães da proposição, juntamente com os homens que o acompanhavam. Daí a indagação: Davi estava só ou acompanhado?

Ele estava, possivelmente, só. Ou, no máximo, fazendo-se seguir por algum ajudante imediato – Cristo não erraria essa informação! O importante, porém, no diálogo entre Davi e Aimeleque, bem como da citação que Jesus fez desta passagem, não é quantos estavam ou não com o Davi, mas o fato de que as coisas sagradas existem para a adoração a Deus, e não para a escravização ritual do ser humano. Davi não podia comer os pães, mas comeu; assim como o sábado não existe para a letargia forçada do homem, mas para que o homem possa desfrutar do sábado.

Aliás, em ambas as questões respondidas nesta coluna, algo há de comum: uma atenção extrema aos detalhes (o que é bom), mas um apego exagerado a eles (o que é mal). Quando houver aparentes dificuldades ou supostas contradições no texto bíblico, devemos utilizar uma regra de ouro: os textos fáceis explicam os textos difíceis. Aimeleque julgou que Davi estava só, Cristo disse que com ele havia mais alguém... Jesus é melhor companhia neste caso! Um texto complementa o outro. Foram os midianitas ou os ismaelitas que comercializaram José? Está é uma curiosidade étnica; o importante é que José tornou-se governador da maior potência de sua época, e nunca ousou dizer que o Senhor Jeová era o causador de suas provas e lutas.

Quanto ao mais, confortemo-nos em saber que a Bíblia é inspirada (quanto à origem), inerrante (quanto ao passado), infalível (quanto ao futuro), insubstituível (quanto à utilidade) e completa (quanto à revelação)!

Por, Gunar Berg

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