Processos do discipulado cristão

O discipulado cristão não é um processo automático, que ocorre imediatamente após a conversão, como se fosse um estalar de dedos ou o apertar um interruptor para acender uma lâmpada. Não! Trata-se de um processo vagaroso e difícil. As dificuldades são reais. Eis o motivo que leva muita gente a negligenciar esse ministério.

Na Bíblia, vemos o apóstolo Paulo lidando frequentemente com o tema, em todas as suas epístolas, como algo indispensável à vida cristã. Na Carta aos Filipenses, por exemplo, embora a destinatária fosse a igreja, note que no capítulo 4, versículo 9, especificamente a mensagem torna-se pessoal ou endereçada para uma única pessoa. Esta carta é considerada, em unanimidade, a carta da alegria, porque nela não há críticas ou repreensões como acontece, por exemplo, nos escritos aos coríntios ou aos gálatas (1 Coríntios 3.1; Gálatas 3.1); pelo contrário, há profundas revelações acerca da pessoa de Cristo (Filipenses 2.5,11). A palavra alegria é mencionada pelo menos oito vezes. Paulo utiliza duas vezes a expressão regozijo no mesmo versículo (4.4).

Mas, em que contexto os trabalhos dessa igreja tiveram início? Os pioneiros foram alvo de severa perseguição, embora a direção partisse diretamente do Espírito Santo, que mostrou a vontade de Deus para que a equipe demissionários iniciasse a evangelização naquelas partes da Macedônia. Isso ficou muito claro através da revelação divina ao apóstolo (Atos 16.9,10), depois de duas tentativas frustradas (Atos 16.6,7).

A quantidade de crentes que participaram da fundação da igreja na cidade de Filipos era inexpressiva. Segue a lista: a irmã Lídia, comerciante de tecidos; uma jovem possessa que adivinhava para o lucro de seus senhores; e um carcereiro e sua família. Mas, a igreja cresceu. Cresceu tanto a ponto de ser a igreja que sustentava seu fundador nas viagens missionárias.

Discipulado e comunhão

O verdadeiro discipulado inclui uma vida de comunhão entre os irmãos. “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que sintam o mesmo no Senhor” (Filipenses 4.2).

Comunhão é essencial na vida do cristão. Note como Paulo se dirige às duas irmãs. Ele diz: “Rogo”. Isso vai além de um simples pedido. Observemos a insistência e a demonstração de humildade, como a súplica por um amigo doente (Era fato, as irmãs estavam doentes!)

Ora, o princípio da identidade do crente ensinado pelo Senhor Jesus é “Amai-vos uns aos outros” (João 13.34,35). É mais fácil amar nossos irmãos ou obedecer ao mandamento que ordena amar nossos inimigos (Mateus 5.44)? O que você prefere? Embora não existam pessoas perfeitas, pecadores sem falhas, a primeira opção mais razoável, não?

Esse assunto é tão importante para o Reino de Deus que Paulo buscou apoio de outros líderes para auxiliar na restauração desta comunhão perdida: “Rogo a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres” (Filipenses 4.3). Aqui o mencionado é Epafrodito (Filipenses 2.25).

Discipulado e regozijo

O versículo 4 de Filipenses 2 revela que o novo convertido precisa experimentar constante regozijo. “Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos”. Paulo observara que a alegria havia sido perdida entre as duas irmãs filipenses.

Regozijo é muito mais que simples alegria. Neemias conhecia muito bem esse fruto do Espírito chamado alegria, por esta razão pôde exclamar e incentivar seus contemporâneos a experimentarem-na: “A alegria do Senhor é a vossa força” (Neemias 8.10).

Discipulado e moderação

Discipulado passa por uma vida moderada, outro fruto do Espírito. Vejamos Filipenses 4.5: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor”. Devemos conduzir a nossa vida em equilíbrio em todos os setores, principalmente em nosso falar.

Discipulado e oração

Oração acompanhada de ações de graças são instrumentos indispensáveis, registrados no versículo 6: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças”. O apóstolo exorta os crentes a manter a famigerada ansiedade sob o absoluto controle do Espírito. Alguém já disse muito sabiamente que “depressão é o excesso de passado; estresse é o excesso de presente; e ansiedade é excesso de futuro”.

Renovação da mente

O novo convertido experimenta a renovação de seu intelecto. Veja os versículos 7 e 8: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (RC). A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) traz: “Seja isso que ocupe o pensamento de vocês”.

Em outra epístola, o apóstolo faz uma declaração aos coríntios que “nós temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2.16), referindo-se ao homem espiritual. As pessoas que possuem a mente de Cristo testificam de sua renovação. Isso é um exercício diário, conforme Romanos 12.2. Como ocorre o processo de aprendizagem

1) “O que também aprendestes”. Assim como o aprendizado ocorre de uma forma sistemática e planejada, o mesmo processo ocorre com o ensino.

Desde os tempos de Moisés, o Senhor já havia planejado o ensino sistemático às gerações futuras. Em Deuteronômio 6.2, o Criador lida com três gerações: “...tu, e teu filho, e o filho do teu filho”. Observe que o texto de Deuteronômio 6.6 chama a atenção para o pai, o receptor, que precisa entender bem a lição: “Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração”. Alguém já afirmou com muito bom senso que“ antes de levantar para ensinar é preciso sentar para aprender”.

Observe o método de memorização no Antigo Testamento, apresentado em oito etapas. Vemos em Deuteronômio 6.7-9: “...e as intimarás (v. 7 – inculcarás, NAA) a teus filhos e delas falarás (1) assentado em tua casa (culto doméstico); (2) andando pelo caminho (a conversa nas longas caminhadas não deveria ser aleatória, mas objetiva – tem coisa melhor do que falar das maravilhas de Deus?); (3) deitando-te (orações de agradecimento pelo dia); (4) levantando-te (orações matutinas, no início de um novo dia)”. O versículo 8 enfatiza que “Também (não são somente estas maneiras) as (5) atarás por sinal na tua mão, e te serão por (6) testeiras entre os teus olhos”. As recomendações prosseguem no versículo 9 – “E as (7) escreverás nos umbrais (batentes) de tua casa e nas (8) tuas portas (ou nos portões – os judeus atuais chamam de “mezuzá”)”.

Por que o Senhor confiou tanto em Abraão a ponto de chamá-lo de Seu amigo? A grande resposta está aqui: “Porque eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agirem com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gênesis 18.19). Veja o interesse de Deus na formação do discipulado. Abraão ensinaria a seus filhos os mandamentos do Senhor. E foi um ensino tão eficaz a ponto de se perpetuar à “sua casa depois dele”!

Veja o típico versículo da memorização no conhecido Salmo 119 (versos 9 a 11): “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. De todo o meu coração te busquei; não me deixes desviar dos teus mandamentos. Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti”. Observe a beleza da tradução em outras versões: “No meu coração tenho entesourado” (Sociedade Bíblica Britânica); e “Guardo no fundo do meu coração” (Versão Católica). É muito importante saber de quem temos aprendido. Por exemplo: uma verdade ensinada por mim e pelo saudoso pastor Antonio Gilberto tem o mesmo peso doutrinário?

2) “Recebestes”. Jesus disse: “Aprendei de mim...”. O apóstolo Paulo insistiu com os crentes da cidade de Corinto: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Coríntios 11.1). O processo é simples: Cristo – Paulo – cristãos de corinto... O processo de “receber” a palavra ministrada significa que receberam a palavra com alegria, não somente na mente, mas também no coração, assim como se recebe um amigo em casa. Recebido como uma revelação de Deus. Recebida de um homem de Deus.

3) “Ouvistes”. A Bíblia ensina que o termo“ ouvir” implica obediência. O termo também significa “compreensão”. É claro que não se trata do órgão da audição, mas do entendimento, da percepção. Só poderá haver o entendimento de determinado ensino se houver alguém que ministre. É o que está escrito em Romanos 10.17: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”.

A Bíblia ensina que a sabedoria e a maturidade são prerrogativas do “ouvir”, conforme Provérbios 1.5: “Para o sábio ouvir e crescer em sabedoria, e o instruído adquirir sábios conselhos”. O discipulado é um processo sistemático de crescimento, e o apóstolo Pedro compreendia os reclames desse processo: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 3.18). Mas, o esforço pessoal também faz parte do discipulado. Veja o que o apóstolo Paulo recomendou a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus...” (2 Timóteo 2.15). Isso significa que a pessoa deve demonstrar interesse, esforçar-se e fazer a sua parte. Esse processo é o caminho que promove a paz.

Por, Cyro Mello.

Se este artigo foi útil para você compartilhe com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem