Os imperativos da pregação

A importância da verdadeira pregação da Palavra de Deus e seus frutos

Em sua Segunda Carta a Timóteo, o apóstolo Paulo escreve: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vida e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino" (2 Timóteo 4.12).

A pregação em nossos dias passa, em alguns setores, por forte turbulência. Apesar de reconhecermos a existência de homens de Deus, sérios, responsáveis e comprometidos com o peso do ministério da pregação e com a fidelidade a Palavra de Deus, não podemos deixar de denunciar a presença de pregadores que não amam a Bíblia, são descomprometidos com a vocação divina e preguiçosos quanto ao estudo da Palavra de Deus.

No texto em apreço Paulo nos deixa o forte legado dos imperativos para o ministério da pregação. Suas primeiras palavras nos põe face-a-face com o fato de que um dia enfrentaremos o juízo do rei que retorna para pedir prestação de contas (v. 1). No caso de Paulo e Timóteo, há ainda mais intensidade em sua expectativa do julgamento de Cristo. Várias passagens do Novo Testamento deixam claro que a igreja Primitiva cria que a maioria dos cristãos sobreviveria até o segundo advento de Cristo (1 Coríntios 15.51; 1 Tessalonicenses 4.15). Logo, percebe-se que o contexto do primeiro apelo é carregado de uma perspectiva escatológica. Paulo espera que Timóteo seja alguém que viva a vida diante de Deus e de Cristo Jesus, perante quem é responsável e tendo em mente a certeza das realidades escatológicas cristãs.

Conscientes de que seremos julgados perante o tribunal de Cristo (2 Coríntios 5.10), devemos nos dedicar com máximo esmero a pregação e à entrega de nossos sermões. Ah, se alguns dos nossos pregadores se dessem conta de que Deus está assistindo a cada apresentação, a cada showzinho que promovem sobre os púlpitos de nossos templos! Sim, Cristo voltará! Seu aparecimento, juízo e reino devem ser para todos nós, ministros do Evangelho, uma influência tão poderosa quanto foi para Paulo e Timóteo. Todos teremos de comparecer diante de Cristo para dar conta quanto ao desempenho de nosso ofício ministerial.

Em seguida, Paulo profere uma das mais conhecidas frases da Bíblia: "Prega a palavra" (v. 2). A ordem dada é pregar. Não apenas ler, estudar, meditar ou admirar a Palavra; o pregador tem de proclamá-la. Não discutir. O pregador é um "arauto". Sua missão é proclamar, pregá-la a outros. O próprio apóstolo declarou duas vezes que foi "designado pregador" (1 Timóteo 2.7; 2 Timóteo 1.11). O pregador não precisa provar a existência de Deus ou lutar em grandes debates intelectuais. Ao arauto cabem apenas as tarefas de proclamar e apelar. Proclame fiel e detalhadamente "o ato redentor de Deus na cruz de Cristo" e, em seguida, faça um "apelo intenso e sincero aos homens para que se arrependam e creiam". O conteúdo do kerigma apostólico era a Palavra de Deus, ou seja, a palavra já proferida por Deus no Velho Testamento, palavras estas que Timóteo aprendera desde a sua infância, portanto conhecia bem (vv. 3, 4 e 7). Para Timóteo, a palavra era ainda o mesmo que "depósito" que Paulo menciona no primeiro capítulo. Para os nossos pregadores, deve ser exatamente a mesma coisa, ao invés de mensagens de auto-ajuda, filosofias modernas ou historinhas cômicas extraídas de charges e histórias em quadrinho. Pregar a Palavra é ordem bíblica que vigora ainda em nossos dias.

Nossa época é peculiar em seu conceito sobre administração de tempo. Somos orientados a ter um tempo exato para cada atividade que temos a desempenhar. Para Paulo não pode haver negligência, Timóteo deve pregar a tempo a tempo e fora de tempo (v. 2). Não se trata de um convite à grosseria, falta de tato e inconveniência; é um apelo à urgência. A pregação é urgente, Timóteo deve insistir nela. Pregadores devem apegar-se à tarefa da pregação e permanecer nela. Nós pregadores, devemos agarrar-nos à nossa vocação e entregarmos insistentemente, venha a mensagem que estamos proclamando em hora boa ou não para os ouvintes. O que devemos fazer é pregar possuídos do senso de urgência, sabendo que a igreja não pode deixar de lado sua vocação profética.

O sábio conselheiro prossegue usando três verbos que absorveriam toda a vida de Timóteo: "Admoesta, repreende e exorta" (v. 2). Eis os aspectos do ofício do pregador. O pregador deve ademoestar, ou seja, repreender os errantes (2 Timóteo 3.16; Tito 1.13, 2.15); deve ainda advertir os que não atentam para a correção, censurando-os quando necessário; e finalmente, o pregador deve exortar, ou seja, incentivar, encorajar a todos os crentes. Quanto de tudo isso temos recebido de nossos púlpitos?

Pregação deve ter esse tom quase voraz, ademoenstando, repreendendo e exortando. Entretanto, o pregador deve ser homem longânimo. Timóteo deve cumprir as três tarefas com toda a longanimidade. Seja qual for a abordagem que está empregando, o pregador nunca deve perder a paciência com as pessoas (1 Timóteo 1.16; 2 Timóteo 2.25; 3.10), esperando que Deus, a seu tempo, opere a transformação desejada. Makrothumia, a paciência divina, o ânimo longo, característica marcante do pregador cristão. Sem ela, o pregador se desespera, torna-se arrogante, manipulador e irritante. Deus nos livre desse tipo de atitude.

Além da longanimidade, o apóstolo fala do "ensino". Não devemos apenas pregar a Palavra, devemos ensiná-la. Em outras palavras, Paulo está dizendo: "Prega e põe ensino na pregação. Como pregador, mostra-te um ensinador profundo nas Escrituras, sadio na verdade cristã e cheio de recursos". Ortodoxia na fé e aptidão para o ensino são requisitos indispensáveis ao ministro cristão. Kérigma sem didachê, isto é, proclamação sem doutrina, pregação sem ensino, é, assim como gritos sem conteúdo, uma mensagem que não transforma vidas, não edifica a igreja e empobrece o ministério da pregação.

Este é o dever de que somos encarregados. Conscientes de que haveremos de prestar contas diante do juiz dos vivos e dos mortos, preguemos a Palavra e o façamos com um sentido de urgência. Que nosso conteúdo seja aplicável, carregado de admoestação, repressão e exortação. Que sejamos pacientes, longânimos e esperançosos. Que haja ensino em nossa pregação.

Por, Esdras Carvalho.

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