A Igreja e sua missão aconselhadora

Deus deu o aconselhamento à Igreja, e infelizmente a Igreja tem terceirizado essa prática a profissionais, que às vezes nem crentes são. O objetivo deste artigo é fundamentar biblicamente o aconselhamento a partir do corpo de Cristo.

Temos observado pessoas com muitos distúrbios, emoções fora de controle, desequilíbrio nas decisões, ansiedade e frustração. Se prestarmos atenção, concluiremos que a necessidade tem aumentado devido à dor que o ser humano tem tido. Por isso, todo crente deveria estar apto a praticar o ministério de aconselhamento, conforme Paulo recomenda em Romanos 15.14: “Meus irmãos, eu mesmo estou convencido de que vocês estão cheios de bondade e plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns aos outros”. Percebe-se aqui que o apóstolo menciona algumas características para o aconselhamento. Ele fala de bondade, ou seja, da importância de ter um coração compassivo, sensível à dor do próximo e cheio de coisas boas que irão transbordar na vida das pessoas. Outra característica destacada por Paulo é que as pessoas que se dispõem para o aconselhamento devem ser plenamente instruídas na Palavra. Isto significa que para exercer o aconselhamento bíblico exige preparo do(a) conselheiro(a). Todavia, somos informados pelo texto que todo crente pode exercer o aconselhamento. Há um destaque especial na orientação de Paulo para que o conselheiro seja “plenamente” instruído. Percebe-se que muitos querem fazer o aconselhamento, mas poucos estão dispostos a ter um tempo de preparação, leitura, disponibilidade e acompanhamento. Para Paulo, a soma ou a equação bondade + plenamente instruída gera pessoas capazes para exercer o aconselhamento.

Muitos irmãos têm buscado ajuda em diversos profissionais, tais como: psicólogos, psicanalistas, terapeutas e até feito cursos de “coach” na esperança de obter respostas para seus dilemas e necessidades pessoais. Não que a ajuda de profissionais seja descartada. Manuel Junior diz que “há fontes humanas de tratamento a que o crente pode e deve, em algumas circunstâncias, recorrer. Mas somos persuadidos pelas Escrituras de que a Palavra de Deus tem as respostas necessárias para a solução dos problemas emocionais e mentais do homem. Buscar simplesmente cura nos programas de tratamento humano é, na maioria das vezes, apenas mascarar, iludir ou adiar o problema”. Devemos levar em conta que às vezes um problema emocional não tratado pode tornar-se uma patologia, e nesse caso é necessária uma intervenção médica. Todavia, o que geralmente tem-se observado é que a maioria dos problemas tem tido origem no pecado, mágoas acumuladas, falta de perdão, traumas, feridas e ressentimentos. Isso quando não tratado vai gerando culpa, ansiedade e inquietação na alma. Daí a importância do aconselhamento bíblico, pois o mesmo visa não só trabalhar questões externas ou sintomas, mas mudar o coração. O comportamento ou reputação são apenas expressões externas, e que muitas das vezes não representam uma mudança verdadeira, mas apenas uma máscara que colocamos para nos apresentarmos diante da sociedade. Porém, no aconselhamento bíblico somos confrontados, ensinados e nosso coração é exposto pela Palavra de Deus, nos conduzindo a uma mudança de dentro para fora.

Assim lemos em Marcos 7.21-23: “Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e tornam o homem impuro”. Provavelmente este texto bíblico seja a chave para a compreensão da raiz dos mais diversos problemas da humanidade. Geralmente no aconselhamento as pessoas sempre atribuem seus problemas ou dores a circunstâncias, parentes, traumas vivenciados no passado, vícios, relacionamentos conturbados onde essas pessoas se colocam como vítimas e nunca responsáveis pelas decisões ou escolha. Esse texto de Marcos provavelmente seja o “cerne” do aconselhamento bíblico, pois embora muitas situações citadas acima sejam verdadeiras e legítimas, sabemos que de fato o que determina nosso comportamento é o pecado não tratado. Quando olhamos para a “lista” pecaminosa apresentada por Marcos, percebe-se que quase todos os pecados citados tem origem interna. Não adianta transferirmos responsabilidade ou procurarmos culpados, mas devemos abrir o coração para o arrependimento e reconhecimento da nossa responsabilidade pessoal.

Em Provérbios 4.23, assim lemos: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida”. Esse texto fortalece a ideia apresentada acima quanto ao texto de Marcos. Certamente o termo guardar o coração se refere ao cuidado daquilo que permitimos entrar em nossas vidas, refere-se ao que alimentamos nosso interior. O termo coração no Antigo Testamento traduz a ideia de mente, vontade e emoções. Qual é a fonte de nossos pensamentos e sentimentos? É importante no aconselhamento ressaltarmos o que o apóstolo Paulo diz em Filipenses 4.8: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”. Neste texto, Paulo mostra a importância de filtrar o que pensamos, pois através dos pensamentos é que são geradas nossas emoções e comportamentos. Se tivermos uma mente e um coração voltados para o que é bom, puro, bíblico, com certeza produziremos bons frutos e teremos um comportamento que glorifica a Deus.

Uma vez que o problema do homem está originado no coração, somente a Palavra de Deus pode rá alcançá-lo na sua totalidade. Podemos ler em 2 Timóteo 3.16, 17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. Esse texto enfatiza a importância das Escrituras no aconselhamento bíblico, pois somente a Palavra de Deus alcança o homem na sua completude. Através das Sagradas Escrituras, somos encorajados, fortalecidos e ensinados a novas práticas de vida e um novo procedimento. A Bíblia não é um compêndio de teorias falíveis, passageiras e volúveis, sujeitas a todo tipo de comprovação científica, mas um livro de verdades absolutas, atemporais, suficientes para moldar o caráter humano. Cabe ao conselheiro alertar seu aconselhado a refletir sobre o tipo de relacionamento que tem desenvolvido diariamente com Deus através de Sua Palavra, oração e relacionamento no corpo de Cristo.

Tem se tornado desafiador encorajar os crentes a entenderem que a cura está no corpo de Cristo através da Palavra de Deus no aconselhamento. Alguns acham que os irmãos não estão preparados e outros não sentem confiabilidade nas pessoas da igreja para abrir seus corações. Há casos em que nem o pastor e nem sua esposa são considerados de confiança. Isso ocorre não porque as pessoas não querem falar, mas por temerem ser expostos para outras pessoas da congregação. Concluo com Tiago 5.16: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”. Geralmente observamos somente o “orar uns pelos outros”, mas observe que a cura está atrelada a “confessar e orar”. Outro detalhe é que o contexto é de confessar culpas, medos e decepções aos irmãos da nossa congregação.

Bibliografia

JUNIOR, Manuel. Aconselhamento Bíblico Para uma Vida de Plenitude e Harmonia. São Paulo: Vida Nova, 2016.

Por, Cidrac Ferreira Fontes.

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