A frase “Existir é pensar, pois se tirarmos a memória de alguém ele não sabe nem voltar para sua própria casa” destaca um elemento fundamental da condição humana: nossa existência está intrinsecamente ligada à nossa capacidade de lembrar, refletir e criar sentido a partir de experiências. Memória e identidade formam uma teia indivisível. Quando essa memória é suprimida ou manipulada, perdemos o eixo que nos define como indivíduos. Neste artigo, discutiremos como o fenômeno contemporâneo das redes sociais tem provocado uma substituição sutil, mas significativa, das memórias reais pelas memórias virtuais, especialmente na mente dos adolescentes. Além disso, exploraremos o fundamento da verdadeira existência em Deus como base para a identidade autêntica.
A memória como pilar da Identidade
A memória desempenha um papel essencial na construção da identidade.
Daniel Schacter, psicólogo cognitivo, descreve a memória como um “sistema
prospectivo”, ou seja, um instrumento que não apenas registra o passado, mas também
guia nossas ações futuras com base em experiências pregressas. Quando um
indivíduo perde a memória, como nos casos de amnésia, ocorre uma dissolução da
compreensão de si mesmo e do mundo ao redor.
No contexto teológico, a memória também é um elemento essencial
da relação com Deus. A Escritura está repleta de convites para “lembrar” as
obras de Deus (Deuteronômio 6.12; Salmos 77.11). Essa prática de lembrar ajuda
a consolidar nossa fé e identidade como filhos do Criador.
O Inimigo de Deus e o apagamento da memória
Embora Satanás não esteja à altura de ser um adversário de Deus,
ele age como um opositor ferrenho da humanidade, buscando destruir aquilo que
reflete o caráter e a glória de Deus. Desde o Éden, o inimigo tem usado a
estratégia de questionar e distorcer a memória daquilo que Deus revelou ao
homem (Gênesis 3.1-5).
Ao longo da história, essa tentativa de apagar a memória
divina se manifestou de diversas formas, A linha do tempo demonstra como a
batalha espiritual para apagar a memória de Deus é constante. Em nossos dias,
essa luta assume formas sutis, como a reinterpretação de textos bíblicos ou a
promoção de valores que negam o caráter divino.
As redes sociais e a manipulação da memória
Com o advento das redes sociais, uma mudança fundamental tem
ocorrido na forma como memórias são registradas e compartilhadas. Plataformas
como Instagram, TikTok e Facebook não apenas facilitam o armazenamento de experiências,
mas também moldam quais memórias são valorizadas. O que deveria ser um reflexo
de experiências vividas torna-se uma curadoria de momentos que atendem à
narrativa virtual, frequentemente desconectada da realidade.
Adolescentes, em especial, estão vulneráveis a essa
dinâmica. Estudos em neuropsicologia sugerem que o córtex pré-frontal, responsável
por tomada de decisão e avaliação crítica, ainda está em desenvolvimento até os
20 anos de idade. Isso os torna particularmente suscetíveis à busca por validação
externa, como “curtidas” e “comentários”.
Quando memórias passam a ser criadas e validadas pelo engajamento
virtual, ocorre uma desconexão com o mundo real. Não é incomum ouvir
adolescentes afirmarem que, sem postagens frequentes, sentem-se inexistentes. A
existência é deslocada do ser para o parecer.
O perigo das memórias implantadas
Um dos impactos mais sutis das redes sociais é a
substituição das memórias autênticas por memórias implantadas. O fenômeno
ocorre quando uma narrativa visual, por meio de fotos ou vídeos, é revisitada
tão frequentemente que assume o papel da experiência vivida. A neurociência
explica que a memória é maleável e sujeita à reconstrução constante. Redes sociais
utilizam isso para influenciar percepções de eventos passados, criando memórias
artificiais que servem aos algoritmos, mas não à realidade.
Existência e realidade em Deus
Em contraste com a fluidez da existência digital, a
identidade em Deus é imutável e fundamentada em verdades eternas. Gênesis 1.27 nos
lembra que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, um reflexo da Sua
perfeição e criatividade. Nossa identidade é dada por Deus, não por algoritmos
ou curtidas virtuais. No Novo Testamento, encontramos em Colossenses 3.3 uma
afirmação poderosa: “Vocês morreram, e agora sua vida está escondida com Cristo
em Deus”. Essa declaração nos convida a buscar uma identidade enraizada não em circunstâncias
temporais, mas em uma relação eterna com o Criador. Essa relação transcende os
limites da memória humana, oferecendo um senso de existência que não pode ser
apagado ou manipulado.
Implicações práticas para pais e educadores
Educação Crítica: Incentivar os adolescentes a
refletirem criticamente sobre o uso das redes sociais. Isso inclui entender
como algoritmos funcionam e como podem influenciar suas percepções.
Promover conexões reais: Encorajar experiências
autênticas que não dependam de validação virtual. Atividades comunitárias, encontros
familiares e participação em grupos de fé podem fortalecer laços reais.
Resgatar o valor da memória: Relembrar a importância de
narrativas pessoais. Incentivar diários, conversas e registros que reflitam
momentos genuínos.
Espiritualidade como fundamento: Ensinar que a
verdadeira existência vem de Deus e que nossa memória é um dom para reconhecer
Sua presença e obras em nossas vidas.
Nota de Bolso
Vivemos em uma época onde o real e o virtual frequentemente colidem,
especialmente na formação da identidade adolescente. A memória, enquanto
elemento crucial da existência, tem sido manipulada e substituída por narrativas
digitais que ameaçam desconectar os indivíduos de sua verdadeira essência.
No entanto, Deus nos chama a uma existência mais profunda, fundamentada
não em memórias artificiais, mas na verdade eterna de Sua Palavra. Como Paulo
escreve em Romanos 12.2, somos chamados a “não nos conformar com este mundo,
mas transformar-nos pela renovação da nossa mente”. Essa transformação nos
capacita a viver de maneira autêntica e plena em relação a Deus e ao próximo.
por Joelson Lemos
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