O sentimento de abandono é uma das mais difíceis sensações a serem enfrenadas por alguém. Quem é que, diante de uma dificuldade, nunca olhou ao seu redor e se sentiu sozinho e sem apoio em meio à tristeza? Quem nunca procurou apoio e se viu sem poder contar com opções? Buscamos uma solução para a nossa situação, mas no momento em que mais procuramos por um escape, é quando menos o achamos. Muitas vezes, somos levados a um nível tão imensurável de desespero, quase incontrolável, que, à medida que as dificuldades aumentam, chega-nos à porta o terrível pensamento da dúvida: será que Deus está vendo meu sofrimento? Onde Ele está?
Quando o povo de Israel saiu do Egito, seu destino final era
a terra prometida de Canaã, mas, ao que parece, eles queriam que não só a
possessão destinada produzisse leite e mel, mas também o deserto se fizesse, se
não igual, pelo menos algo próximo da terra prometida. O que os filhos de Jacó
sempre esqueciam era que o Senhor não tinha prometido um deserto que manava
leite e mel, mas, sim, um destino que manava leite e mel. Os seus descendentes
queriam que o deserto lhes proporcionasse aquilo que Deus tinha prometido que a
herança futura possuía.
Todas as dificuldades que os israelitas enfrentaram diante
do caminho fazia parte do processo necessário até a chegada à sua moradia
final. Nada que acontecia em meio àquele trajeto estava saindo dos planos de
Deus, tudo estava sob o controle do Altíssimo. Desde a falta de água e comida
até à provisão de sombra durante o dia e de calor durante a noite, nada havia
ali que Deus não sabia. No entanto, aquela geração muitas vezes indagava e
murmurava contra o Soberano, insinuando que Ele não se preocupava com nada do que
acontecia entre o povo.
Deus sempre esteve atento à necessidade do Seu povo e Sua intenção
era ensinar àquela futura nação de Israel a valorização de tudo que eles teriam
na terra de Canaã. Podemos observar, inclusive, que nosso Senhor trabalhou nas
três esferas da necessidade humana deles: sede (Êxodo 15.23-25; 17.1-3), fome
(Êxodo 16.1-36; Números 11.4-6), calor e frio (Êxodo 13.21,22). Por meio de
cada acontecimento, o Senhor preparava Seu povo para o que eles experimentariam
de melhor na possessão anunciada. Para toda necessidade pessoal havia uma provisão
celestial. Contudo, os filhos do grande patriarca demonstraram, por várias
vezes, que a ansiedade e o desespero levam a atitudes impensáveis e
desesperadas, que podem resultar em descrenças e, no seu limite máximo, no
ceticismo.
Porém, ao longo de todo o caminho, nosso Senhor mostrou que
os que estão debaixo dos Seus cuidados jamais perecerão, suas necessidades são
todas supridas e realizadas milagrosamente. A sede, que tão ligeiramente os
levou a querer voltar à sua vida anterior, foi rapidamente saciada. Mas é triste
notar a rapidez com que o povo esbravejou aos céus querendo voltar a uma vida
que todos sabemos que era uma época de humilhação e escravidão (Êxodo 1.11-14).
Essas ações falavam por si de maneira intrigante que aquele povo preferia muito
mais continuar a ser escravo dos egípcios do que livre e dono de suas próprias
terras, bem como prefeririam passar por toda a antiga humilhação do que confiar
em Deus (Êxodo 14.12). Não é difícil de entender o motivo de toda a provação
que o Senhor propusera aos filhos de Jacó, visto que seu coração precisava
ainda muito ser trabalhado para que realmente pudessem ser cidadãos dignos da terra
prometida.
Não há como negar que uma grande exposição ao calor, acompanhada
com a falta de água, pode levar uma pessoa ao delírio e ao desespero, e é nesse
estado que os hebreus parecem estar diante das águas amargas de Mara. Quando o povo
recém-saído murmurava de maneira implicante e desesperadora por uma água boa
para beber (Êxodo 15.23,24), o Senhor Jeová operou de maneira simples e
sobrenatural, ordenando que Moisés pegasse um pedaço de galho e lançasse sobre
aquelas águas para que elas se tornassem potáveis (Êxodo 15.25). A cura daquela
água era uma clara mensagem de Deus ao povo de Israel, que, assim como ela,
precisava de uma cura divina para finalmente estar purificado. A falta de
paciência dos filhos de Jacó os levava a querer por demais o agora e fazia com
que eles se esquecessem da grandiosidade que Deus tinha preparado para o futuro.
Um dos grandes problemas de Israel foi pensar que Ele era seu guarda costa ou
garçom e não seu Deus digno de louvor e adoração.
Às vezes até despontava resquício de confiança nos corações dos
filhos de Jacó, mas o prazo de validade deste era relativamente curto à medida
que Deus testava sua fé. Já havia se passado um mês desde a saída do Egito, e
os suprimentos restantes já estavam a se esgotar completamente. Deus tinha tudo
sob seu controle e certamente forneceria algo ao Seu povo, contudo, na primeira
oportunidade, aquela nação elevou sua voz para murmurar contra o Senhor (Êxodo
16.1-3). Um fato que chega a impressionar é a grande agilidade que os filhos de
Jacó tinham em se esquecer do que Deus já havia feito. E como se nada tivesse
acontecido, eles novamente e novamente duvidavam da soberania divina. Tudo
estava sob o total monitoramento do Senhor. Nosso Pai já havia preparado todo trajeto
visando aos mínimos detalhes. Israel precisava tão somente confiar mais e
murmurar menos, pois Deus estava atento a todas as suas faltas para supri-las
(Êxodo 16.4-10). Para Ele, quanto maior a necessidade, maior o milagre.
Através de Sua infinita misericórdia, Jeová possibilitou uma
segunda oportunidade para que Israel atuasse diferente da última vez, ao
prová-lo novamente com a falta de água (Êxodo 17.1-7). Todos os episódios
anteriores, desde o Egito em que Deus realizou milagres fora do comum, parecem
não ter sido o suficiente para que Israel tivesse plena confiança na provisão
sobrenatural. Mais uma vez, encontramos Israel murmurando e duvidando da
provisão celestial (Êxodo 17.2,3). O povo peregrino demonstrava pensar que Deus
estava mais contra do que a favo deles. Israel precisava entender que o Senhor
pode até demorar a realizar um milagre, mas quando o faz, o resultado é
excepcionalmente grandioso. Quando Ele não faz no momento que esperamos, não
significa que não está ao nosso lado, mas que está nos preparando para sermos
maduros o suficiente para receber.
Os discípulos de Jesus descobriram isso de uma forma
fascinante quando acompanharam Jesus, em mais uma das viagens sobre o mar da
Galileia. Depois de um longo e exaustivo dia, fazia-se necessário passar para o
outro lado. Nosso Mestre havia passado um dia inteiro ministrando a uma grande multidão
e a chegada da noite já se aproximava (Marcos 4.35,36). Ao atenderem ao chamado
de atravessar para o outro lado, os discípulos estavam se submetendo aos
cuidados do Filho de Deus e deviam confiar em Sua total provisão durante a
viagem. Todavia, quando eles sofreram duros golpes de ondas que os fizeram
temer por suas vidas, sua fé fora duramente provada (Marcos 4.37). Ao que
parece, aqueles experientes pescadores nunca haviam passado por algo tão
pavoroso sobre aquele conhecido mar, e nada que eles fizessem parecia reverter
a certeza de que o barco afundaria. A única solução possível seria chamar
Jesus, que estava dormindo na popa do barco (Marcos 4.38). As palavras de
desespero dos tripulantes e a indagação que fizeram são familiares (Mateus
8.25; Mc 4.38; Lucas 8.24).
Tomados pela insegurança, os discípulos duvidaram da
soberania e do cuidado que Jesus tinha para com eles, pois, ao contrário do que
eles pensavam, nosso Mestre se importava verdadeiramente se pereceriam (Mc
4.38). Não havia dúvidas de que o Senhor estava testando a fé de Seus
discípulos, por isso Sua incisiva repreensão (Mateus 8.26; Mc 4.40; Lucas
8.25). Jesus não os reprovou pela falta de capacidade em acalmar aquela
tempestade, mas por terem acreditado que o vendaval naufragaria o barco, mesmo
com Jesus no barco. O Filho de Deus chamou a atenção de Seus servos para o fato
de que a tempestade pode ter a magnitude que for, mas enquanto Ele estiver na
tripulação, o barco jamais afundará.
O Mestre mostrou que tem tudo em Suas mãos (Marcos 4.41) e
que Sua ação é na hora certa. Pode não ser no momento esperado, mas é no tempo
exato. Ainda que Deus pareça estar quieto quando estamos passando pelas mais
duras provações, Ele ainda está ao nosso lado (Deuteronômio 31.6; Isaías 41.10;
Mateus 28.20; Hebreus 13.5).
Os discípulos pensavam que Jesus não estava atento ao
desespero que eles estavam passando, mas o Mestre mostrou que o que faltava realmente
neles era fé nAquele que estava na embarcação deles. Na correria do dia a dia,
somos tentados a pensar que Deus não está conosco, mas Ele está ao nosso lado em
todos os momentos do nosso dia (Josué 1.9; 1 Coríntios 3.16). Deus não está em
nosso meio apenas dentro do templo ou durante um ato religioso, Ele está o
tempo todo presente em nosso ser. Quando o Senhor nos prova, não quer dizer que
esteja contra nós, como um inimigo que quer ver nosso mal. Ele é um Pai amoroso
que nos molda para que possamos crescer espiritualmente (1 Coríntios 10.13; Hebreus
12.1-11; Tiago 1.2-4,12). Ele não está interessado em ver nosso sofrimento. Sua
alegria é ver nossa conquista e vitória diante das adversidades.
O povo hebreu no deserto interpretava o sofrimento como abandono
da parte Deus (Êxodo 14.11,12; 16.3; Números 14.2-4). Eles não conseguiam
entender o trabalhar de Deus diante das dificuldades. Muitos deles deixaram de
entrar na terra prometida por não se mostrarem dignos de a possuir.
Tanto a trajetória israelita quanto o episódio sobre o mar
da Galileia nos mostram que a permissão divina à exposição de uma prova não
está determinando o afastamento de Deus da nossa vida, tão pouco, o Seu
silêncio não significa que Ele não está nos ouvindo ou vendo nosso sofrimento.
Deus entende nossas dificuldades e sabe de tudo que passamos. Seu silêncio não
é uma declaração de que Ele não está conosco durante uma prova, mas, sim, de
que daqui a pouco vêm milagres extraordinários para nós. Só quem estava no
deserto pôde beber de uma água que antes era amarga, só quem estava lá viu
jorrar de uma rocha águas cristalinas e potáveis. Apenas os que estavam ali
comeram do maná provido pelos céus. De igual modo, apenas os que estavam no
barco em meio a uma terrível tempestade puderam ver ela se transformando em uma
brisa calma sob o som da voz de Jesus. Todos os que não presenciaram essas
coisas jamais saberão a sensação. Apenas ouvirão histórias dos que viveram
essas coisas. E os que viram de perto pagaram o preço dessa participação.
por Osiel de Sá
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