Mantendo a tradição das cantatas

Mantendo a tradição das cantatas


Para um início de entendimento, apresentamos o termo Tocata, que era muito evidente no período barroco (séculos XVI a XVIII), constituído unicamente de peças musicais escritas e produzidas somente por instrumentos musicais. Não havia vozes.

O termo Cantata, por sua vez, se refere a uma obra musical cantada e tocada, estando, assim, numa evolução à Tocata, evocando um tema próprio, assim como ocorre com um livro. Normalmente, uma Cantata possui um título que anuncia seu tema principal, contém suas músicas individuais ou sequenciais, mas com conteúdo trazendo temas interligados ou não.

Atribui-se a Alessandro Grandi, no século XVII, o emprego da palavra Cantata a peças musicais dessa época. Inicialmente, essas obras tinham o estilo musical lírico, transmitindo sentimentos seculares ou religiosos.

Nesse período, obras magníficas foram compostas por renomados compositores, como Alessandro Scarlatti, Giacomo Carissimi, Johann S. Bach, Wolfgang A. Mozart, Beethoven, G.F. Handel, dentre outros. Posteriormente, especialmente com o avanço do protestantismo, esse gênero musical tendeu mais ao censo religioso, todavia buscando uma linguagem musical e textual de fácil acesso ao povo cristão desprovido de tanta cultura na arte da música e da literatura, seja religiosa ou não.

O objetivo tem sido, até hoje, trazer temas bíblicos em prosa e verso, de forma cantada e de forma musicada, buscando explorar as riquezas contidas no âmago da música, riquezas estas enviadas por seu Criador, o Deus Todo-Poderoso.

Pessoas inspiradas, dotadas por Deus para essa arte, entendendo que a música tem o poder de provocar no ouvinte os mais diversos sentimentos, não só na alma, mas também no próprio corpo (haja vista a música ser dinamogênica, ou seja, tem a capacidade de alterar o estado muscular a depender de seu caráter de composição suave ou intensa), com a graça de Deus, de maneira harmônica, compuseram temas bíblicos onde frases musicais se conectaram a frases literárias de formas esplêndidas, nos trazendo composições que geram reflexões imediatas, contemplativas e profundas, que talvez, se fossem apresentadas isoladas, sem música, não conseguiriam obter resultados tão abençoadores.

A música nos auxilia a acompanhar o sentido das frases, dos assuntos, dos eventos a que ela está se associando. Se há uma frase, por exemplo, dramática, a música evidenciará em seu modo tonal e melódico o sentimento do drama.

Se o período literário for de entusiasmo, claro, o compositor adornará esse período com tom adequado, que denominamos de tom maior e melodia festiva, clara, imediata, não contemplativa, e assim por diante. Essa fusão (se fundem mesmo) entre a música e a frase ou motivo literário toma proporções maravilhosas. Convido o leitor a se recordar do hino 350 de nosso hinário Harpa Cristã, intitulado Vivifica a Tua Igreja, de autoria de H. Maxwell Wrigth, onde há uma letra em forma de oração, uma petição profunda, onde o compositor compõe uma música calma em tom menor, nos levando a cantá-la num sentimento de alta conexão contemplativa com o Altíssimo.

Por isso é que vemos, graças a Deus, esse tipo de adoração, impregnada com forte apelo evangelizador na forma de cantata, produzido em épocas direcionadas em nosso calendário, tais como Natal, Páscoa e outras.

Essa atitude de evangelização e divulgação da Palavra de Deus em forma de cantata tem trazido muitos benefícios para a conversão de almas e para o ensino da Bíblia, como, por exemplo, a cantata Cristo Está Vindo, de caráter escatológico, cujas músicas com suas letras nos remetem a reflexões e despertamentos inusitados a respeito das maravilhas do Céu!

Tomo a permissão de trazer experiências abençoadoras que obtivemos em nossa igreja, a Assembleia de Deus no bairro da Lapa, em São Paulo, onde com coral, orquestra, solistas, grupos vocais, todos dentro de uma mesma obra de cantata, empenhados em ensaios, orações e em estímulo à membresia através de convites impressos ou eletrônicos, a trazerem visitantes, presenciamos. ao término da adoração. dezenas de almas se rendendo a Jesus. Quantas almas também nós ganhamos em outras oportunidades para o Senhor! Impressionante o poder da música, o poder da Palavra, a inspiração do autor, o esforço dos envolvidos, todos em um só propósito: a glória de Deus, a adoração a Ele e o resgate de almas!

Registro aqui cantatas que nos marcaram muito pelo senso sacro, senso artístico, senso até social, que nos levaram e levam outros grupos musicais a obterem comunhão profunda com o Deus da música e com a força evangelizadora que trazem. São elas, dentre outras: Maior Amor (John Peterson); Experiência com Deus (Gary Rhodes e Claire Cloninger); Vivo Está (Claire Cloninger & Gary Rhodes); Deus Conosco (Don Moen); Deus em Nós (Don Moen); e Deus por Nós (Don Moen).

Alegra-me ver em nosso país, por onde ando, igrejas, que, mesmo diante de tantas dificuldades, sejam financeiras, seja de trabalhos intensos – talvez até com falta de estímulo de alguns pastores –, temos homens e mulheres vocacionados nesse ministério da música. A despeito de tais dificuldades, esses têm, com muita determinação e amor ao Deus que eles servem, buscado, na maioria das vezes com seus próprios recursos, estudarem instrumentos, canto e regência, e têm desenvolvido trabalhos de seminários musicais que visam trazer despertamento e crescimento cultural. Esses trabalhos têm sido despertadores e formadores de novos talentos!

Trago aqui a absoluta convicção de que devemos ter criatividade, buscando ao Senhor para isso, no sentido de sermos mais operosos no Reino dEle, através dos diversos ministérios existentes e despertando outros que ainda não possuímos, para que sejamos frutíferos em tudo.

Gostaria de estimular os pastores que estão à frente de uma igreja que entendam como é importante seu prestígio e apoio aos grupos musicais. Estes são aliados importantíssimos para o bom desempenho dos trabalhos da igreja e podem, com sua ajuda, desenvolver trabalhos preciosos para a edificação do povo de Deus.

As cantatas têm sido ferramentas valiosas no processo de evangelização e aprendizado da Palavra, independente de seu tema. Ou seja, devemos evangelizar em tempo e fora de tempo. Seja Natal, seja Páscoa ou outro evento voltado para o trabalho da igreja.

Deixo aqui a sugestão de que, durante o preparo de um trabalho de cantata, haja grande empenho de divulgação, haja o agrupamento, se possível de outros grupos musicais da igreja, trabalhando em plena harmonia, desenvolvendo a comunhão, o que certamente trará entusiasmo coletivo e prestígio aos que talvez se sintam isolados ou pertencentes a grupos musicais menores.

É possível proceder assim. Deve-se ter sabedoria, singeleza no trato interpessoal, muito amor e empenho para a produção de um trabalho de grande envergadura, que trará expectação a todos os membros da igreja. Sejam os que tocam ou cantam, sejam os que não fazem parte de grupos musicais.

Afirmo, com toda experiência obtida em mais de 30 anos à frente de trabalho musical na igreja, que devemos não só manter a tradição de praticar nossas cantatas, mas nos empenhar ao máximo para realizarmos uma produção musical de altíssimo nível, pois estaremos operando tudo com exclusividade para o Rei dos reis e Senhor dos senhores, também edificando os Seus filhos!

por Nílton Didini Coelho

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