O Tempo das Vinhas Nazireias

O Tempo das Vinhas Nazireias


“O seu mandato na ONU será lembrado por diminuir a estatura da organização ao nível mais baixo de todos os tempos, permitindo-lhe tornar-se um epicentro do antissemitismo e do incitamento anti-Israel” – foram essas as duras palavras proferidas por Israel Katz, Chanceler de Israel, em carta, compartilhada pelo Ministério de Relações Exteriores daquele país, ao chefe da ONU, Sr António Guterres. Na missiva, Katz reafirma sua desaprovação à postura da ONU, especialmente em seus últimos relatórios, ignorando ou, segundo palavras do Chanceler, “rejeitando” o ataque terrorista de Outubro, numa postura que parece apenas focar nos atos posteriores de Israel frente ao atentado. A resposta da organização é considerada por Israel como “inaceitável”, e constitui uma “rejeição aos atos hediondos documentados [...] atos que ainda estão sendo perpetrados”. Ainda segundo o Chanceler, “o mundo está esperando há cinco meses” pelas ações da ONU em defesa de um país soberano que teve sua segurança violada numa série de ações terroristas, fartamente documentadas, com o agravante de terem sido reveladas participações e financiamentos de grupos e instituições que se propagam como foros de igualdade e de paz.

A declaração de Israel Katz não deve ser confundida com uma expectativa do governo israelense de que suas queixas diante das ofensivas atuais sejam entendidas pelos organismos internacionais. Israel desde cedo compreendeu que conta com Seu Deus e seu povo. As Forças de Defesa de Israel notificaram a solicitação de mais de mil civis, já liberados do serviço militar, para retornarem à ativa e participarem do combate às forças terroristas do Hamas. No site cristão “Unidos por Israel”, nossos irmãos expressaram em forma de oração o desejo de que esses voluntários sejam guardados e fortalecidos pelo Senhor: “Louvamos Tua fidelidade e agradecemos por homens e mulheres corajosos que, mesmo liberados da obrigação de lutar, respondem ao chamado de seu país com fervor renovado. Senhor, cobre-os com teu escudo de proteção. Guarda seus corpos de qualquer dano, suas mentes de qualquer medo e seus corações de qualquer desespero. Que a Tua paz, que excede todo o entendimento, esteja com eles em cada momento”. A força dos guerreiros e a oração dos santos não invalida a queixa de Katz diante dos poderes mundiais. Faz-se necessário lembrar o ataque em si, a violência cometida contra inocentes, as crianças mutiladas, as mulheres violentadas e os jovens mortos. Além disso, a existência de reféns, cujas vidas somente poderão ser salvas por algum ato misericordioso de Deus, uma vez que a prática de troca por prisioneiros do Hamas tem se mostrado uma semeadura de outros futuros ataques e, as estratégias de libertação têm chegado ao limite de todos os recursos da inteligência israelense mostra que somente o Senhor Nosso Deus pode preservar e devolver salvas as vidas dos reféns. Sem desconhecer a tragédia que se abateu sobre os moradores de Gaza a partir dos ataques de Outubro, essa não é uma guerra que se possa simplificar com frases de efeito ou discursos politicamente corretos de paz. Ainda que se queira resumir os fatos ou, pior, aproveitar-se deles como alavanca de projeção política mundial, é no calor e no clamor da batalha que a dura realidade se mostra. Que nação, mesmo dentre as que mais fervorosamente condenam Israel, se manteria impassível diante do ocorrido e diante das malhas subterrâneas de ataque reveladas? Que governo assistiria à confirmação dos projetos inimigos para o seu fi m sem levantar todas as suas forças na tentativa de autopreservação?

Israel Katz, em suas palavras, parece refletir o espanto que muitos de nós temos diante de um mundo aparentemente sem governo, num tempo disforme – de toda a forma de senso e de ética – caminhando à deriva para sua própria destruição, lembrando que os terroristas que, hoje, atacam Israel, também executam suas ações nos mais diversos cantos do mundo. Se a outrora mais alta organização (ao menos na esperança de alguns) desceu ao nível mais baixo, tornando-se epicentro do antissemitismo e voz para a justificativa de toda ação contra Israel, algo de muito poderoso fugiu ao controle dos homens. Ao menos por um tempo.

Tempo – a dimensão em que a História acontece. Os trabalhadores rurais em Israel conhecem bem esse território sem marcações terrestres, mas que determina os segredos de cada estação naquilo que acontece na Terra. “Há tempo para tudo”, revelou-nos Salomão. Existe, mesmo, até um tempo para o descontrole. Assim ensina a Lei sobre o ano sabático (Levíticos 25). Por seis anos, o solo é trabalhado, o plantio e a colheita seguem seu curso natural. O sétimo ano, contudo, é o sábado da terra. O “shabat haharetz” não é para o homem, como pensam alguns, mas da terra. O amor de Deus faz com que, no sexto ano, a colheita seja de tal maneira abundante, que não seja necessário ‘incomodar’ o precioso solo com o tratar agrícola. No sétimo ano, nada de semeadura, apenas descanso. Ao homem, enquanto a terra descansa, resta o trabalho: o proprietário da terra pode colher sua novidade (primícias de Deus, novidades da terra para seu dono), conforme a necessidade de sua família, de seus servos, de seus animais e de todo o que se abrigue debaixo de sua proteção. Em seguida, aquilo que nasceu naturalmente durante o sétimo ano é franqueado ao pobre, à viúva, ao peregrino. Saciados esses, os campos ficam à disposição dos animais silvestres. Tudo isso envolve trabalho, administração, armazenamento, economia, estratégias. É interessante ouvir de alguns irmãos que tirarão um “ano sabático”. A conclusão mais óbvia é a de que estão dispostos a muito, muito trabalho, sobretudo administrativo. Que o Senhor os ajude! Uma menção especial sobre esse tempo precisa ser feita às raposinhas, aquelas mesmas que o trabalhador rural é instado a espantar das vinhas. No ano sabático, obedecida a sequência já apresentada, até elas têm acesso aos cobiçados frutos. As raposas são toleradas nas vinhas não são podadas. Qualquer um que já tenha contemplado uma videira na expansão máxima de seus ramos e folhas sabe que pode transformar-se numa densa cobertura verde. Em Israel, as videiras dos anos sabáticos, assim folhudas e estendidas em todas as direções são chamadas de vinhas nazireias. A referência é aos cabelos dos nazireus, sejam aqueles que, por voto temporário raspam a cabeça e, posteriormente, dedicam a Deus um tempo sem fazer passar a navalha em suas madeixas, sejam aqueles dedicados ao nazireado desde a infância, com cachos volumosos e, por vezes, revoltos. As vinhas nazireias são a marca visível de um ano sabático. A impressão é de desgoverno total na plantação. É preciso ter paciência. Tudo isso é apenas por um tempo. Logo as vinhas serão podadas, a terra será disciplinada pela aradura, as ervas daninhas serão removidas e todo o bom presente do Senhor será semeado.

Se o amado irmão, contemplando a plantação dos homens, por notícias constantes de injustiça, violência e opressão, tem visto nascer, na forma de um sentimento íntimo, uma sensação de desgoverno sobre a terra, sugiro meditar nas palavras que fortaleçam a certeza de que a Terra pertence ao Senhor e jamais foge ao Seu governo. Há, no entanto, um tempo para tudo, até mesmo para a ofensa e a incompreensão. Há um tempo para as vinhas nazireias, mas a ceifa está próxima e não devemos desanimar. Além do mais, com relação aos corações humanos, nosso campo particular de semeadura, não podemos e não devemos parar. Semeamos a semente do Evangelho em todo o tempo, sem desfalecermos, aguardando, com fé, o descanso eterno a nós reservado.

por Sara Alice Cavalcanti

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem