1. Tribos Urbanas
O conceito surgiu em 1985, com o sociólogo francês Michel
Maffesoli. O termo define novas formas de associação entre indivíduos. Neste
diapasão, grupos de pessoas passaram a se reunir a partir da vontade de se
diferenciarem da normatividade e de fugir da massificação. Surgiram
“microgrupos” que passaram a se identificar pela aparência, vestuário, uso do
corpo e gostos em geral: sexual, musical, visual e outros (ICLE, 2011, p. 521).
Essa partilha de gostos provocou uma mudança no paradigma social. Tal conduta é
percebida nas “tribos” presentes na educação e na vida social. Nesta
perspectiva, o modelo de “identidade” do indivíduo cedeu lugar à
“identificação” tribal. Neste contexto, prevalece a “lei dos irmãos” ou os
rituais da tribo, que ensejam “maneiras de se estar junto que integram não
somente a dimensão racional, mas também a dimensão afetiva e emocional” (ICLE,
2011, p. 521-532).
2. Características das tribos urbanas
As ideias de pertencimento a uma coletividade e de
identificação com uma estética e estilo musical próprios são os fatores de
maior relevância:
2.1 Pertencimento. Esta necessidade é uma motivação
humana fundamental. Os seres humanos passam a maior parte de sua vida interagindo
com outras pessoas (LEARY et al., 2013). Como as tribos urbanas surgem como
desagravo à normatividade, então, se as palavras já não bastam para quebrar o conservadorismo,
criam-se tribos na tentativa de mudança (VILLELA et al., 2006).
2.2 Coletividade. Ratificamos que as tribos se
definem por “redes de amizades que se formam a partir de interesses e
afinidades em comum, nas quais os membros aderem aos mesmos pensamentos,
hábitos e forma de se vestir” (SOUZA et al., 2014). Assim, a adesão a certa
coletividade complementa a necessidade de pertencimento.
2.3 Estética A imagem de uma tribo é definida pelo
vestuário. Para seus adeptos, não é suficiente ter um visual semelhante
entre si, mas é imperioso ser diferente das outras tribos. Por isso, a ênfase
em demasia nos detalhes das roupas, cabelos e todos os acessórios que identificam
a tribo.
2.4 Música. A preferência por um mesmo estilo musical
une os conceitos de pertencimento e coletividade. Tribalistas frequentam os
mesmos lugares para apreciar a mesma música. Nesses locais, “grupos de pessoas
reúnem-se para a partilha de emoções por meio da música, criando um espaço
potencial de acolhimento” (SOUZA et al., 2014).
3. Exemplos de tribos urbanas
São consideradas tribos os hippies, skatistas, surfistas,
metaleiros, skinheads, punks, motoqueiros, roqueiros, veganos e outros. Abaixo,
segue uma síntese dos funkeiros, emos e góticos:
3.1 Funkeiros. O termo “funk” está associado ao sexo:
“Tratava-se de uma gíria dos negros americanos para designar o odor do corpo
durante as relações sexuais”’ (MEDEIROS, 2006, p. 13). Nos anos 70, a expressão
foi ressignificada e passou a identificar um estilo musical. No Brasil, o funk
está associado à violência e à criminalidade, com letras de forte apelo sexual
e desprovidas de qualidade cultural (FILHO et tal., 2004, p. 12). Os funkeiros
se vestem de modo sensual, com calçados e roupas de marcas, anéis e correntes
de ouro, e muita ostentação (MERILYN, 2023).
3.2 Emos ou Emo. Surgiu nos anos 80, nos EUA. Sua
música é uma vertente do punk. As letras são introspectivas e falam de
tristezas e sofrimentos (CARVALHO, 2014). O estado de espírito é habitualmente melancólico,
com atração pela automutilação e pelo suicídio (SOUSA & FONSECA, 2009, p.
209). Usam franjas que podem ser pintadas de arco-íris e os olhos, com lápis preto.
Usam ainda unhas de cores vivas e roupas escuras, que podem combinar roxo,
verde e vermelho; cintos com grandes fivelas, tênis coloridos e piercings. A
homossexualidade e a bissexualidade são práticas comuns (RIBEIRO, 2024).
3.3 Góticos. Teve início no Reino Unido no final da
década de 1970. As canções são carregadas de melancolia, angústia, abandono e
decepções amorosas. O gênero também faz alusão à morte, automutilação, morcegos
e vampiros (VILLELA et tal., 2006). A estética é marcada por roupa preta,
maquiagem escura, crucifixo, rosto pálido, cabelos lisos escuros, compridos e
desalinhados e expressão triste. Não gostam de praia, caminham pela noite e frequentam
locais “excêntricos” (cemitérios), tendo alguns adeptos da wicca (bruxaria) e
satanismo (SOUSA & FONSECA, 2009, p. 209).
4. A nova vida do cristão
As Escrituras ensinam, que “se alguém está em Cristo, nova
criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios
5.17). Significa que uma “nova condição” é conferida para quem está “em Cristo”,
tornando-se o oposto da antiga vida “em Adão” condenada pelo pecado (Romanos
5.11-15). Esta nossa nova vida é caracterizada pela salvação “em Cristo” e por todos
os benefícios da redenção. Os cristãos já possuem “senso de pertencimento”,
isto é, pertencem a Cristo (1 Coríntios 3.23; Gálatas 5.24). Portanto, o
cristão não possui necessidade de pertencer a tribo urbana alguma. O cristão
também faz parte da “coletividade” da Igreja, uma vez que a eleição é
corporativa (Efésios 1.4,5,7,9; 1 Pedro 1.1; 2.9). A eleição é coletiva e
abrange o ser humano como indivíduo, somente à medida que este se identifica e
se une ao Corpo de Cristo, a Igreja verdadeira (STAMPS, 2013, p. 1808). Assim,
o cristão não precisa ser Tribalista.
Quanto à estética e à música, o cristão já foi liberto de
sua vã maneira de viver (Efésios 4.22). Livre das amarras deste mundo, o cristão
se veste com decência e pudor sem sensualizar ou ostentar (1 Timóteo 2.9; 1 Pedro
3.2,3). O estilo musical é direcionado para louvar a Deus (Salmos 150.1-6) e
não para satisfazer as obras da carne (Romanos 8.13; Efésios 4.17).
5. O papel do cristão
A Igreja tem o papel de ser o “sal da terra e a luz do
mundo” (Mateus 5.13,14). O sal possui dois usos principais: conservar e dar
sabor. Nesse aspecto, o cristão deve conservar a moralidade a fim de que a sociedade
não apodreça totalmente. Deste modo, “assim como Cristo revitalizou e deu gosto
à vida do crente, cada discípulo, por sua vez, deve fazer o mesmo pela vida de outros”
(HARPER, 2019, p. 57). Se o cristão ceder ao tribalismo e não cumprir o seu
papel de sal, a vida das pessoas sem Cristo permanecerá insípida.
A luz dissipa as trevas. Cristo disse que “não se pode
esconder uma cidade edificada sobre um monte” (Mateus 5.14b). Desta forma, quem
pertence a Cristo e à Sua igreja deve mostrar ao mundo a luz do Evangelho.
Mathew Henry (2008, p. 49) discorre que ocultamos a luz “ao calar quando
devíamos falar, ao fazer o que todos fazem, ao deixar que o pecado empane a luz,
em não fixar nas necessidades de outros”. Esconder a luz implica condenar o
mundo à escuridão. Neste sentido, Cristo advertiu: “Vê, pois, que a luz que em
ti há não sejam trevas” (Lucas 11.35).
Considerações finais
As tribos urbanas são um reflexo do relativismo cultural e
do afrouxamento dos valores absolutos. A sociedade se fragmenta e a vida humana
perde seu valor quando o tribalismo é institucionalizado. A necessidade de
pertencimento, o vazio da alma e a falta de paz só podem ser preenchidos em
Cristo (Romanos 5.1). O cristão deve ser tolerante com as diferenças culturais,
mas não pode ser dominado por nenhuma delas (1 Coríntios 6.12). Neste mister,
no meio de uma geração corrompida, os cristãos devem “resplandecer como astros
no mundo” (Filipenses 2.15).
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Renata Oliveira. Da música à tribo: os emos
desde suas origens aos dias de hoje. 10º Interprogramas de Mestrado em
Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, 2014.
FILHO, J. F. & HERSCHMANN, M. Funk carioca: entre a
condenação e a aclamação da mídia. Revista ECO. Pós, ago/dez 2003.
FONSECA, Paula; SOUSA, Helena Sofi. As Tribos Urbanas as
de Ontem até às de Hoje. Revista do Hospital de Crianças Maria Pia, 2009,
vol. XVIII, n.º 3.
HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon. Vol. 6. Rio
de Janeiro: CPAD, 2019.
HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2013.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
ICLE, Gilberto; MAFFESOLI, Michel. Pesquisa como
conhecimento compartilhado: uma entrevista com Michel. Educação &
Realidade, v. 36, n. 2, maio-ago, 2011. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
LEARY, M.
R.; KELLY, K. M.; COTTRELL, C. A.; SCHREINDORFER, L. S. Construct validity
of the need to belong scale: Mapping the nomological network. Journal of
Personality Assessment, v. 95, n. 6, 2013.
MEDEIROS, J. Funk. Carioca: crime ou cultura. São
Paulo: Terceiro Nome, 2006.
MERILYN, karen. Moda funk: a estética que une música,
cultura e estilo. Disponível em: https://stealthelook.com.br.
RIBEIRO, Paulo Silvino. Os emos como uma tribo urbana.
Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/emo.htm.
SOUZA, Alessandra et al. Contexto das tribos urbanas.
Revista Ciências humanas e sociais. Maceió, v. 2, n.2, nov 2014.
STAMPS,
Donald C. (Ed). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2013.
VILLELA, Gustavo. Góticos, a vida em preto. Eclética
Revista Digital. PUC – Rio. Jul/Dez 2006.
por Douglas Roberto de Almeida Baptista
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