O cuidado do cristão com o meio ambiente

O cuidado do cristão com o meio ambiente

O conceito de meio ambiente faz parte do ordenamento jurídico do Brasil. A Lei Federal 6.938/1981, que dispõe sobre Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 3º, inciso I, define meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Ele compreende toda a vegetação, o solo, a água e o ar, a atmosfera e os fenômenos do clima, os animais e os micro-organismos, dentre outros.

Em busca de conscientização ambiental e da divulgação dos princípios de sustentabilidade, a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu a data de 5 de junho para celebrar o “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Mercê da relevância do tema e da indispensável preservação da natureza, este artigo enfatiza os ensinos bíblicos acerca dos cuidados com o meio ambiente, bem como apresenta uma reflexão sobre os excessos cometidos pela militância ecológica.

A perspectiva bíblica sobre o meio ambiente

Deus aparece no primeiro versículo da Bíblia como o Criador de todas as coisas (Gênesis 1.1). O Comentário Bíblico Beacon (2005, vol. 1, p. 31) destaca que “o céu e a terra não são Deus nem deuses; nem é Deus igual à natureza. Deus é o Criador e a natureza é seu trabalho manual”. Desta forma, o meio ambiente é identificado como sendo criação pertencente a Deus (Salmos 24.1; Jó 41.11). Além de ser o dono de tudo o que existe (Salmos 50.12), Deus também é o sustentador de todo o Universo (Hebreus 1.3; Colossenses 1.17). Toda a criação é sustentada pelo poder da Palavra de Deus, que chamou o Universo a existência. 

Ao término do ato criativo, Deus colocou o homem no jardim para ser o mordomo da criação: “Enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai” (Gênesis 1.28). Deus delegou autoridade ao homem e o tornou responsável pela preservação do planeta. Assim, o futuro da terra passou a depender da administração humana. Em complemento, Deus confiou ao homem duas tarefas primárias e essenciais: “...o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gênesis 2.15). Esses dois termos, “cultivar e guardar”, resumem o mandato divino para que o homem fosse o provedor de sua família e o protetor da criação.

O termo hebraico para “cuidar” é shãmar, que significa conservar, preservar. Walter Kaiser (2015, p. 284) salienta que o decreto divino “não dava permissão para o mau uso da terra e o saque de seus recursos sem os repor com cuidado e sem restaurá-la a seu estado anterior”. Porém, a Queda no Éden desencadeou um desequilíbrio tal que afetou a própria natureza: “Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo” (Gênesis 3.17b,18). Em consequência, o homem decaído, a pretexto de sobreviver, provoca destruição quando explora a natureza de modo irresponsável.

Os ensinos acerca da preservação do meio ambiente

A Bíblia estabelece princípios a serem observados para a correta mordomia da terra. No pacto mosaico, foi instituído o ano sabático, demonstrando a preocupação do Criador com a terra: “Seis anos semearás tua terra, e recolherás os seus frutos; mas ao sétimo a dispensarás e deixarás descansar” (Êxodo 23.10 e 11). Neste cenário, os israelitas eram educados a não cortar as árvores (Deuteronômio 20.19), instruídos a tratar com benevolência os animais domésticos (Deuteronômio 22.4; 25.4), orientados a respeitar o ecossistema e os biomas (Deuteronômio 22.6), e a enterrar os seus excrementos (Deuteronômio 23.13).

O Salmo 104 relata as muitas vozes da natureza. Charles Spurgeon (2017, vol. 2, p. 973) destaca que o poema narra o cosmos completo: mar e terra, nuvem e luz do sol, plantas e animais como provas expressivas da existência de Deus. A Bíblia, poeticamente, diz que, ante a face do Senhor, os céus se alegram, a terra se regozija, o mar se agita, as árvores batem palmas, e os montes cantam (Salmos 96.11-13; 98.7-9). Cristo ensina que nenhum pássaro cai do céu sem que Deus o saiba (Mateus 10.29). Estes textos ratificam que a natureza é criação divina. Deste modo, o louvor a Deus implica em respeitar aquilo que Ele criou.

Assim, os abusos contra o meio ambiente constituem-se em ofensa ao Criador. O desmatamento imprudente, a poluição inconsequente e demais ações irrefletidas, resultam em grave desequilíbrio ambiental. Esta desarmonia afeta a própria sobrevivência humana. Vários fatores são listados como vilões desta agressão, tais como: densidade demográfica, avanço tecnológico e uso indiscriminado de aditivos. No entanto, o mal maior é a busca desenfreada pelo progresso que usa a natureza como algo descartável. Tal postura sinaliza que aquilo que o homem faz com a natureza é o reflexo de sua moralidade pessoal.

Os excessos da militância ecológica

Em nossos dias, o tema do meio ambiente tem frequentemente ocupado os noticiários. Estatísticas alarmantes são divulgadas pela grande mídia, em especial acerca dos índices de desmatamento na Amazônia. Embora tais dados sejam passíveis de contestação e algumas narrativas sirvam ao espectro político brasileiro, não se pode negar a necessidade de inibir a exploração leviana de nossa floresta tropical. Contudo, o cuidado do homem com o meio ambiente se tornou em militância ideológica-político-partidária. Desta forma, ONGs que atuam na Amazonia são alvo de acalorada discussão.

De outro lado, temos a perspectiva panteísta e panenteísta da natureza. O panteísmo é a ideia que Deus e o universo são idênticos, e o panenteísmo é conceito de que o universo é Deus, embora Deus seja mais do que o universo. O Novo Dicionário de Teologia (2011, p. 251) ressalta que as ideias de “Mãe Natureza” passaram a se tornar praticamente conceitos substitutivos de Deus. Seus adeptos consideram que o corte de árvores e o abate de animais quebram a unidade com o cosmos. Carl Henry (2007, p. 199) alerta que “por isso é que vemos tanto misticismo secular e religioso envolvidos com a proposta de salvação do planeta”.

Nesse diapasão, a Teologia da Libertação apregoa que é preciso ouvir o grito da terra. Em 2009, na Assembleia Geral da ONU, Leonardo Boff propôs que a data de 22 de abril fosse transformada no Dia Internacional da “Mãe Terra”. A justificativa foi que a terra é a “Eva universal”, semelhante a Gaia, deusa grega responsável pela fecundidade da terra. Desse sincretismo, se propagam ideologias esotéricas e místicas que acreditam que a Terra libera energia positiva aos que a buscam, sendo repelidora de forças negativas. Seus defensores fazem uso de cristais, florais de Bach, defumações e o culto à Mãe Gaia.

Considerações finais

Deus é o Supremo Ser, Criador dos céus e da terra (Isaías 45.18). Ele é um ser transcendente, fora da criação; e imanente, relaciona-se com a criação (Salmos 113.5-7; Colossenses 1.17). O Deus Criador é um ser pessoal, distinto do mundo (oposto ao panteísmo/panenteísmo), mas ativo nele (oposto ao deísmo). Deus confiou ao homem o domínio benigno sobre a natureza (Gênesis 1.28; 2.15). Porém, o pecado afetou a relação humana com o meio ambiente. 

Nesse aspecto, as Escrituras incluem a esperança da redenção da natureza (Romanos 8.22 e 23). O céu e a terra que conhecemos desaparecerão para darem lugar a uma nova criação (2 Pedro 3.7). O cristão aguarda um novo céu e uma nova terra (Apocalipse 21.1). Cristo confirmou essa profecia ao dizer: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mateus 24.35). Não obstante, apesar da esperança escatológica, enquanto viver nesta terra, o cristão tem a responsabilidade de zelar pelo meio ambiente (Tito 2.12).

Referências Bibliográficas

BOFF, Leonardo. Discurso na ONU: porque a Terra é nossa Mãe. 22 abr. 2012. Disponível em: <https://leonardoboff.org/2012/04/22/discurso-no-onu-por-que-a-terra-e--nossa-mae/>. Acessado em: 25 abr. 2023.

FERGUSON, Sinclair B. Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2011.

HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007.

KAISER JR, Walter. O Cristão e as Questões Éticas da Atualidade: Um Guia Completo para Pregação e Ensino. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.

SPURGEON, Charles. Os Tesouros de Davi. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

por Douglas Roberto de Almeida Baptista

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