Lições para o futuro em Obadias

Lições para o futuro em Obadias

Para compreendermos a visão do profeta Obadias em seu livro, nos versículos 1-4 e 21, é mister considerar o tempo de sua mensagem. Mas, primeiro, vejamos o que diz o texto da referência citada. “Visão de Obadias: Assim diz o Senhor Jeová a respeito de Edom: Temos ouvido a pregação do Senhor, e foi enviado às nações um embaixador, dizendo: Levantai-vos, e levantemo-nos contra ela para a guerra. Eis que te fiz pequeno entre as nações; tu és mui desprezado. A soberba do teu coração te enganou, como o que habita nas fendas das rochas, na sua alta morada, que diz no seu coração: Quem me derribará em terra? Se te elevares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, dali te derribarei, diz o Senhor”; “E levantar-se-ão salvadores no monte Sião, para julgarem a montanha de Esaú; e o reino será do Senhor”.

Os estudiosos tendem a situar esta obra posteriormente a 586 a.C. (data da destruição do Reino de Judá pelo rei Nabucodonozor), considerado pelos judeus o pior momento na história da nação. Ademais, é necessário responder: Quem foi Edom e o que aconteceu naquela época?

O reino de Edom foi uma nação constituída pelos descendentes de Esaú, irmão de Jacó. Esaú, por sua vez, foi um imoral e um profano. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou” (Hebreus 12.14-17).

Ao negociar o inegociável, cedendo aos clamores de sua carne, Esaú abdicou da bênção, ao desprezar o sagrado em troca de um prazer passageiro. Ainda hoje existem pessoas que trocam a eternidade por um instante de falsa satisfação. Mas o que se espera de um indivíduo que, ao contemplar o seu irmão gêmeo em desgraça, venha a demonstrar falta de compaixão ou indiferença? Falta de misericórdia e ainda se junte aos inimigos para pilhar o que restou? Assim agiu Edom.

Contrário ao que apregoa o espírito de Caim, somos, sim, responsáveis por nossos irmãos (Gênesis 4.9). Note-se que a postura dos israelitas frente a Edom era eticamente orientada pela ordem divina: respeitar e buscar a paz (Números 20.14-21; Deuteronômio 2.4-7; 23.7). Os edomitas ou edomeus (nomenclaturas étnicas dos descendentes de Esaú) não apenas demonstraram satisfação com a ruína de Judá, como dela participaram (Obadias 12-14). Em todas as ocasiões que teve em sua trajetória, Edom aproveitou-se de inimigos maiores e mais capazes que se arvoravam contra Judá para aniquilá-lo. Geração após geração, esse ciclo era nutrido pelo orgulho (Obadias 3), inveja, e falta de compaixão (Provérbios 24.17, 18).

Devido à sua posição geográfica privilegiada, os edomitas acreditavam que eram inalcançáveis. Do alto de sua cadeia montanhosa, o monte Seir oferecia defesas naturais contra os adversários. Das fendas das rochas, enganados por sua soberba, sentiam-se protegidos. 

Entretanto, o próprio Deus entrou em guerra contra Edom e o advertiu: “Ainda que subas às estrelas, de lá eu te derrubarei” (Obadias 4). Isso significa que o Senhor retribuirá, a seu tempo, tudo que foi semeado (Gálatas 6.7).

Dessa narrativa de juízo e restauração, de retribuição e esperança, temos três lições para o nosso futuro. Primeira lição: cuidado com o passado! Ele tem de estar bem resolvido, a fim de ser uma aprendizagem e não uma sepultura. Para isso acontecer, é urgente perdoar os que nos feriram. Edom mantinha ressentimentos contra seu irmão Israel que, justificadas ou não, ornaram-se uma raiz de amargura, uma fonte de veneno. Como se diz, “a vingança é o veneno que eu tomo esperando que o outro morra”.

Temos nas páginas bíblicas o exemplo do patriarca José, filho de Jacó (Gênesis 41.51-52), que foi alvo da ira de seus irmãos e acabou sendo escravizado e vendido no Egito. Contudo, apenas ao gerar Manassés (“Deus me fez esquecer”), ele foi capaz de gerar Efraim (“Deus me fez prosperar”). Da mesma maneira, é imperativo reconhecer a soberania divina: o Senhor havia escolhido Jacó e não cabe a ninguém insurgir-se contra os Seus desígnios. Se Edom tivesse se sujeitado à eleição divina e feito paz com Israel, teria usufruído da bênção do Altíssimo.

Ainda que seja difícil acatar decretos que nos são incompreensíveis, para ter um futuro de paz, devemos acolher com humildade a soberania de Deus em nossa jornada. Talvez experiências de luto, relacionamentos quebrados, enfermidades, traumas e tragédias em diferentes esferas da vida tenham marcado a nossa biografia. Ainda assim, em vez de questionar a Deus, é mais sábio aquiescer ante a Sua onisciência, na certeza de que o que foi vivido lá atrás não tenha poder de nos atrapalhar de receber a bênção que está adiante!

Segunda lição: cuidado com o presente! O grande desafio é não deixar que o instante presente tire a nossa perspectiva do futuro. Quem visitasse Israel no dia da sua ruína jamais poderia imaginar que, em pleno século 21, a nação estaria no mapa do mundo, constantemente ameaçada e continuamente em prosperidade.

No pior momento na história de Judá, o Senhor indica ao profeta que o “agora” não é tudo e não é o fim: Ele é o Deus da História. O quadro atual não é o quadro final. O retrato daquela ocasião mostra Israel por baixo e Edom por cima; Israel humilhado e Edom exaltado; mas, séculos depois, Israel subsiste e Edom desapareceu. O Senhor é quem abate o orgulhoso e levanta o abatido; Ele é quem dirige o curso da nossa vida, e dEle vem a palavra final. O sofrimento de hoje não se pode comparar com a glória por vir. O dia da dor não é eterno: uma nova manhã há de resplandecer sobre os filhos da Promessa.

O Salmo 126 evoca aqueles que, enquanto choram, semeiam, e hão de voltar com a sua recompensa. Eis a última lição, imprescindível, para viver um bom futuro: cuidado com a semeadura! Obadias ensina que é essencial cuidar do passado, para que não nos mate; do presente, para que não nos roube a esperança; e de como temos semeado, se quisermos colher um amanhã feliz.

A indiferença contra os irmãos, o rancor contra os inimigos e a inclemência contra os que sofrem: tudo será retribuído. Nosso comportamento ante a dor alheia revela o nosso coração, e Deus nos prova.

A semente má só pode gerar frutos de iniquidade e ciclos de impiedade. Mas a semente do perdão, regada com amor sacrificial, nutrida com intercessão perante o Deus de toda a graça, refletirá frutos de justiça. Que o amor de Jesus, o Servo Sofredor, nosso modelo de abnegação e fonte de perdão, transborde de nós para muitas vidas – e que elas sejam alcançadas pelo Evangelho vivido no dia da calamidade. Assim, passada a noite escura, brilhará um novo amanhã, e o Reino será do Senhor.

Por Glória Cruz.

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