O tão pouco falado pecado da gula

O tão pouco falado pecado da gula

Na era da técnica e da tecnologia, parece démodé falar sobre alguns conceitos absolutos e, sem dúvida, um desses conceitos que ou não é mais aceito ou, pelo menos, é bastante questionado pela sociedade secular hodierna é o de pecado. À sociedade de hoje busca novas definições tanto do conteúdo como da forma para o conceito de pecado. Isso se tornou assim porque esta é a “era dos questionamentos às verdades absolutas” e, dentre esses questionamentos, a primeira pergunta é relativa à realidade do pecado: “O pecado ainda existe?”.

A ideia de pecado perdeu o sentido para os seguidores da pós-modernidade por dois motivos. O primeiro deles é o ateísmo. O pecado só pode ser considerado a partir da admissão da existência de Deus. Deus é o pressuposto do pecado. No entanto, se Deus deixa de ser um pressuposto, o conceito de pecado deixa de existir. O ateísmo filosófico vai dizer que Deus não existe e o ateísmo teórico vai viver como se Ele não existisse. Logo, se Deus não existe para a pessoa ou se existe para ela, mas não é um ser pessoal e moral, portanto não há ofensa a Ele. Ou seja, não há pecado.

Mas, em segundo lugar, convivemos com a era do pluralismo cultural e religioso. Com os entrelaçamentos de culturas vêm os costumes, os modos de pensar e as mais diversas cosmovisões. Daí para o relativismo ético e moral a distância fica bem pequena, fazendo com que o conceito de pecado se dilua. Deve-se somar a isso ainda um falso conceito de liberdade, que faz com que os homens estejam cada vez mais se comportando como senhores dos seus próprios destinos. Esse falso conceito de liberdade cria novos limites ou destrói todo tipo de limites. Esse antinomismo (negação da lei) exclui qualquer possibilidade da existência do pecado.

Com base no ateísmo filosófico e no pluralismo cultural, a leitura que as novas teologias fazem do pecado é totalmente contrária à Bíblia. O liberalismo teológico apresenta o pecado apenas como inadequações sociais, injustiças e coisas do gênero. Logo, nessa abordagem, o pecado se torna uma questão de desajustes entre homens e homens e não mais uma afronta direta à santidade de Deus. Tudo isso para poder dizer que pecados dantes entendidos como drásticos hoje já não são mais nem computados na esfera dos chamados pecados. E essa mentalidade muitas vezes influencia até crentes. Muitos pecados passaram a ser minimizados e aceitos socialmente em nossos dias, sendo compreendidos muito mais como desajustes de educação do que propriamente como pecados, e um deles é o pecado da gula.

O que provoca o pecado da gula

À luz da Bíblia, a gula é um pecado e sempre foi visto nos primeiros séculos da Igreja como tal, mas a nomenclatura explícita “pecado da gula” só passou a ser popularizado no quarto século d.C., quando a Igreja Católica nomeou quais seriam os pecados capitais, e dentre eles estava a gula. Ao mencionar as obras da carne em Gálatas 5, o apóstolo Paulo menciona entre elas a glutonaria, ou seja, um vício de comer e beber em excesso.

Na Bíblia, esse pecado é visto como uma consequência do esvaziamento de sentindo para a vida. À luz da Bíblia, a gula é um veículo de compensação para os anseios do homem e uma reação de fuga ou de proteção — consciente ou inconsciente — diante da perda de esperança, como vemos em textos como Filipenses 3.18,19 e 1 Coríntios 15.32, e de uma maneira mais desenvolvida na Parábola do Rico Insensato, contada por Jesus em Lucas 12.13-21. Nessa Parábola, fica bem claro que a falta de uma perspectiva futura gera no homem um sentimento de ansiedade, e uma das maneiras de procurar suprir isso é através do exagero em comidas. Sem dúvida, essa maneira nefária de lidar com o apetite terá consequências físicas e psicológicas, como vemos nos exemplos de atletas que chegam a um ponto da vida que imaginam que não têm mais nada para conquistar porque seus corpos já não respondem mais como antes, e se lançam à busca de subterfúgios para suprirem aquela necessidade de conquistas, e um desses é o aumento do consumo de alimentos e bebidas, o que lhes acarreta um sobrepeso, prejudicando-lhes a careira, o nome, o salário e a saúde, quando não trazendo-lhes consequências ainda maiores.

Mordomia do corpo

Na Bíblia, o pecado da gula é também uma forma de má mordomia do corpo, que é o templo do Espírito Santo. Todos sabem que os maus hábitos alimentares e a maneira desregrada como lidamos com a nossa alimentação trarão prejuízos ao nosso corpo físico.

O cristão deve ser moderado ao se assentar à mesa para comer. O alimento deve ser apreciado, porém com moderação. Paulo adverte em 1 Coríntios 3.16,17 que Deus trata diretamente com aquele que administra de maneira inconsequente o seu próprio corpo.

Como resultado do vazio da alma do homem, nessa época de aumento das condições econômicas, em tempos de prosperidade financeira, o homem é levado a transformar seu dinheiro em muito carboidrato, gordura, colesterol, açucares e coisas do gênero para serem consumidos e sentidos pelo seu corpo, para proporcionar sensação de prazer, especialmente em datas de apelo emocional como réveillon e Natal. O cristão, porém, deve ser moderado, pois deve zelar pelo seu corpo e não agir como quem não tem esperança.

O pecado tem várias faces, inclusive, eventualmente, a face de pratos apetitosos e convidativos. Paulo, porém, diz aos irmãos coríntios “Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”, 1 Coríntios 6.12b. À ideia aí implícita é exatamente a habilidade do autocontrole, que é exigido na prática de qualquer um dos apetites físicos, ou seja, a capacidade de dizer não a qualquer coisa em excesso. A isso a Bíblia chama de temperança, e a inclui como um dos aspectos do fruto do Espírito (Gálatas 5.22).

Por, Joel Paulino da Silva.

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