Os primeiros cristãos reuniam-se para cultuar ao Senhor no templo (Atos 2.42-47). Este modelo de culto tem sua origem histórica na sinagoga. No exílio babilônico, distanciados do Templo de Jerusalém, os judeus sentiram saudade de Deus, então buscaram fortalecer a fé por meio de reuniões públicas, compostas de oração, louvor e exposição bíblica. Herdamos tradicionalmente este modelo de adoração e nos habituamos ao culto público. Trata-se de uma prescrição bíblica (Hebreus 10.25).
Embora Estêvão tenha afirmado que Deus não habitava em templos feitos por mãos humanas, o próprio Cristo chamou o Templo de “a casa de meu Pai” (Atos 7.48; João 2.16). Devemos levar em consideração que a intenção de Estêvão era destacar que a presença de Deus não estava limitada exclusivamente ao espaço físico de um edifício religioso, mas transbordava pelo mundo, pois Ele tem o Céu como Seu trono e a Terra por estrado dos Seus pés (Isaías 66.1; Atos 7.49). Em pensamento similar, Thomas Brooks declarou: “Embora o Céu seja o palácio de Deus, não é a sua prisão”. Deus está no céu, está no Templo e está onde dois ou três reúnem-se em Seu nome, assim como se manifesta a quem O busca individualmente, no seu quarto particular (Mateus 6.6; 18.20).
O culto público é uma bênção! Somos edificados comunitariamente. Porém, a Bíblia nos ensina que os homens frequentemente se apegam aos rituais religiosos enquanto esquecem-se do essencial. No Antigo Testamento, é possível percebermos que constantemente os judeus “cediam ao fascínio de uma religiosidade teatral e auto-motática”. Kierkegaard afirmava que muitos cristãos em sua época caíam na ilusão da religiosidade, abrigando-se em uma vida construída em hábitos institucionais providos por um cristianismo mecânico.
Em razão desse perigo, precisamos desenvolver outra forma de culto, menos pública e mais íntima. Esse modelo foi seguido pelos heróis da fé ao longo dos séculos. É um culto pessoal. Nessa fórmula, não há espaço para os holofotes, nem para o exibicionismo. Esse tipo de culto foi ensinado por Jesus como instrumento de combate à hipocrisia religiosa dos fariseus. O culto público, quando desprovido da inteireza de coração, torna-se uma atividade religiosa improdutiva. Quando o culto é praticado de forma mecânica, automática e superficial, perde o seu sentido para Deus e torna-se sacrilégio.
De modo contrastante, no culto privado não existe plateia, nem mediações ou interlocutores humanos. Não há espaço para a encenação, nem tampouco para a promoção de carismas. Neste culto, o microfone perde seu sentido e o coração quebrantado adquire protagonismo, pois nos aproximamos de Deus sem rodeios, cerimônias, burocracias ou subterfúgios. No culto pessoal – feito no altar da graça –, ofertamos nossa sinceridade a Deus enquanto nos alimentamos do Seu amor incondicional. A base para este culto está no livre acesso a Deus, garantido pelo sangue de Cristo (Hebreus 10.19-22).
A história do Cristianismo nos ensina que os grandes heróis da fé eram homens que amavam o culto secreto e que gastavam horas no exercício da oração. Quando John Bunyan foi sentenciado à prisão perpétua, fez da sua cela um altar. O “sonhador imortal” durante muito tempo foi privado do culto público, contudo tocou o coração de Deus no cubículo de uma prisão. Embora preso, conheceu a liberdade de servir a Deus sem regras. John Wesley, o metódico estudante de Oxford, passava horas orando em oculto, assim como George Witefield. Estes homens entendiam que o molho de lã deveria permanecer na eira da súplica até que fosse molhado com o orvalho do céu.
A adoração pública não nos isenta da adoração secreta. O culto público é uma bênção, assim como o culto privado. Um não exclui o outro. Na verdade, se complementam e devem ser praticados concomitantemente. Nossa espiritualidade precisa ultrapassar os contornos da igreja-edifício a fim de invadir a intimidade de nossa vida pessoal.
Por, Israel Thiago Trota.
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