Sobre o uso de velas na liturgia

Qual a origem e o sentido do uso de velas na Igreja Católica Romana e em algumas igrejas protestantes, e quais as razões bíblicas para responder quem usa?

Dentre os fatores que têm separado os diversos  segmentos cristãos ao longo da história da igreja, certamente um dos mais importantes é a liturgia seguida durante a realização dos cultos. E dentre tantas práticas diferentes, temos o uso de velas durante as celebrações, praticado, em especial, por católicos romanos, além de algumas igrejas históricas como anglicanos, luteranos, alguns metodistas e alguns presbiterianos.

Parafraseando a pergunta em tela, três questões naturais se levantam sobre esse assunto:  Quando teve início a prática de se usar velas nas reuniões de culto por parte desses  segmentos? Qual a origem ou fundamento para se adotar tal uso? Que efeitos essa prática tem sobre a espiritualidade dos celebrantes?

Não há um consenso sobre quando se iniciou o uso de velas nos cultos cristãos. Alguns autores dizem que a prática teve início em 320 d.C., mas não há fontes confiáveis que autorizem tal informação. Além do mais, muitos teólogos e historiadores católicos romanos e até mesmo reformados alegam que o emprego de velas ou luminárias, como candeeiros e lamparinas, fazem parte do rito cristão desde os tempos em que a igreja se reunia em catacumbas, devido às intensas perseguições sofridas durante os primeiros séculos de história da igreja.

A adoção das velas como elemento  presente no culto passou a intensificar-se a partir dos tempos em que a igreja tornou-se religião praticada em todo o Império Romano, com status de religião oficial (no século IV). Nesse período, a comunidade cristã passou a se reunir em prédios, alguns deles antigas instituições públicas, e a apresentar uma liturgia bem sistematizada com a presença de elementos simbólicos “recheando” o ambiente da adoração cristã.

Diferentemente da espiritualidade simples dos tempos apostólicos (Efésios 5.19; Colossenses 3.16), as reuniões dessa nova cristandade eram carregadas de formalismo e passaram a utilizar elementos simbólicos para atender à demanda de uma parcela da igreja pseudo-convertida, que necessitava de um culto com o uso de objetos que representassem, de forma material, a presença do Senhor. Houve uma adaptação dos padrões cultuais do Antigo Testamento para as celebrações da igreja. As cores dos utensílios, as vestes do sacerdote e as luminárias, entre outras práticas — algumas até pagãs —, foram sendo importadas para a liturgia cristã. Assim, as velas passaram a ser usadas como equivalente do candelabro do Santuário ou Templo judaico. Alega-se também que tais luminárias representam a pessoa de Jesus, a luz do mundo.

Sabe-se, de forma conclusiva, que as reuniões da igreja apostólica eram desprovidas de tais elementos materiais. É que a presença do Espírito Santo dispensava o uso de objetos,  enquanto, no Antigo Testamento, esses elementos eram usados para prenunciar, como  sombras, as realidades espirituais experimentadas pela comunidade primitiva.

Deve-se entender, portanto, que tal prática é inócua. Nada acrescenta à espiritualidade do crente. Não é pecaminosa em si, mas é totalmente dispensável, pois, num culto verdadeiro, a presença real de Cristo ilumina corações e mentes. Na verdadeira adoração, o que mais importa é o estado de comunhão verdadeira com Deus e não os elementos externos que embelezam o ambiente, e que podem esvaziar a alma do adorador.

Por, Emmanuel Elmani de Carvalho.

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