Biblicamente, ainda há apóstolos hoje?

Existem apóstolos ainda hoje em nosso meio? E seria correto alguém ostentar esse título em nossos dias?

Com o suicídio de Judas, o colégio apostólico (chamado de os “Doze”, cf. Marcos 67; Atos 6.2) ficou incompleto. Os onze tomaram então a iniciativa de repor a falta, utilizando um método secular (Atos 1.26), que teve como pressuposto seletivo de escolha dois pré-requisitos para o candidato: 1) Ter sido discípulo de Jesus e, por conseguinte, andado com Ele desde o início de Seu ministério terreno; e 2) também ter tido contato com o Senhor após a crucificação, para poder testemunhar de Sua ressurreição (Atos 1.21,22). Evidentemente que se a pergunta refere-se a esse grupo, é lógico que a resposta é negativa (Apocalipse 21.14). Porém, está claro, por vários exemplos, que havia outros apóstolos além dos “Doze” (Atos 14.14; 1 Coríntios 15.5-9).

Acredito que a indagação talvez seja motivada pela “síndrome do apostolado” que vem tomando conta do movimento evangélico brasileiro. Não obstante, o ministério de apóstolo ou “enviado” é, sim, para contemporaneidade. Agora, se existem ou não apóstolos, tal discussão escapa do campo da teologia exegética (onde o tópico é ponto pacífico por parte da maioria dos biblistas), e torna-se tematizável apenas na perspectiva da teologia prática. Inicialmente, torna-se imprescindível que se distinga ministério como chamado ou dom divino de cargo eclesiástico, onde o portador pode ostentar um título sem necessariamente ter o dom (que é a investidura de autoridade dada por outrem, no caso, Deus, cf. Efésios 4.11).

Como se manifesta o dom? Paulo, “apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” (Romanos 1.1; 1 Coríntios 1.1; 2 Coríntios 1.1; Gálatas 1.1; Efésios 1.1; Colossenses 1.1; 1 Timóteo 1.1; 2 Timóteo 1.1; Tito 1.1), fornecem informações valiosíssimas ao dizer, por exemplo: “Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor” (1 Coríntios 9.2). Após o concílio de Jerusalém, Paulo e Barnabé foram enviados sob a constatação de que eram “homens que já expuseram a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 15.26). Assim, o que comprova o ministério de apóstolo são os frutos e não titulação autoimposta ou mesmo concedida por alguém. Daí surge então a dúvida pelo fato de Paulo ter aparecido dizendo que não foi feito apóstolo por vontade humana, mas pela de Deus que o chamou. É no mínimo ingênuo supor que tal postura não foi questionada. Porém, sua prática não deixou margem alguma para se pensar o contrário. Mesmo assim, ele ainda forneceu uma forma de as pessoas averiguarem a autenticidade e vigência de seu apostolado citando que a pregação do Evangelho de Jesus Cristo (visto que havia “outros evangelhos”) fixava essa condição (Gálatas 1.4-10). Um dos pontos que mantém uma pessoa como apóstolo é a inalterabilidade da mensagem de quem o enviou.

Em Marcos 6.30 (porção escriturística comumente aceita como o primeiro dos Evangelhos, sejam eles sinóticos ou o joanino), há uma revelação sutil, pois no versículo 7 do mesmo capítulo vê-se claramente que os “Doze” foram chamados de discípulos antes de partirem para a missão designada pelo Mestre. Ao voltar, eles apresentam, no versículo 30, um relatório e, então, são referidos pelo evangelista como “apóstolos”. O título, mesmo no caso dos Doze, só veio após a demonstração do chamado ou do dom! Em outras palavras, eles receberam o título porque foram “enviados”. Sem essa função, não se tem apostolado, mas apenas pedantismo.

Finalmente, é necessário que se utilize o título de “apóstolo”? Definitivamente, não. Apostolado não é título, mas dom. Aparece e fixa-se pelos frutos e não por nomeação.

Por, César Moisés Carvalho.

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