Esse quadro acima revela a “síndrome do ninho vazio”, onde a mãe, o pai ou o casal se depara com esse vazio. É certo que cada indivíduo genitor reage ou expressa as suas emoções de forma diferente, e essa diferença tem a ver com a sua subjetividade, com o seu contexto sócio-cultural. O período da síndrome do ninho vazio (SNV) acontece associado com diversas outras mudanças, como aposentadoria e menopausa, que agravam os sentimentos de depressão e baixa auto-estima. Com a saída dos filhos, mulheres que abdicaram de suas vidas e de sua individualidade para os cuidados de seus filhos acabam sentindo-se rejeitadas, incapazes e muitas até arrependidas. Frases como “Não sirvo para mais nada” são comuns de se ouvir, porque muitas só exerceram em seus casamentos papéis de mãe, da cuidadora. Na verdade, é função imprescindível no casamento a clareza dos papéis. O homem é marido de sua esposa e ela, esposa de seu marido — ou seja, além de pai e mãe, há tudo que se entende como convivência de um casal.
Aquelas mães e pais mais controladores acabam sofrendo mais os efeitos do esvaziar do ninho, uma vez que esses filhos não se encontram mais na visão total de seus olhos. Alguns pais, até de forma inconsciente, são “castradores”, pois tentam em tudo criticar seus filhos, por puro medo de que estes realmente cresçam. O filho, nesse momento, precisa ser forte psiquicamente e ter a capacidade de mostrar a esses pais que está crescendo, se desenvolvendo, que é saudável e que sair de casa não significa, em hipótese alguma, falta de amor. Os filhos jamais devem bater de frente com seus pais, dizendo que eles são “caretas”, “antigos”, “errados” ou que você é “sabe-tudo”. Ao contrário, entender a dor de seus pais e dizer a eles que continuarão sempre sendo amados é uma ótima forma de ajudá-los a enfrentar o ninho vazio. Demonstrar isso através de ações e palavras e expressar o eterno respeito e reconhecimento por tudo o que esses pais fizeram de bom para você como filho, ao mesmo tempo que você planeja sua vida e segue o seu próprio caminho, poderá trazer um certo conforto a eles e será menor o sentimento de rejeição sentido por eles. Poder conversar sobre a os sentimentos envolvidos na síndrome do ninho vazio é muito saudável tanto para o casal como para os filhos. Como a própria Palavra de Deus afirma: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas boas palavras o alegram” (Provérbios 12.25).
Estudos mostram que aqueles pais que estão mais ativos, e de alguma forma trabalham, assim como mães que têm outros afazeres, que não necessariamente os da casa, acabam passando pela fase SNV com mais tranquilidade, assim como mães que têm mais filhos em casa ou seus filhos casados morando próximos. O importante também é salientarmos que o problema não está necessariamente no ninho vazio, mas, sim, no vazio existencial que já existia ainda com o ninho cheio, do pai ou da mãe. Outro ponto importante é a diferença entre homem e mulher. De um modo geral os homens têm mais dificuldades de falarem sobre o assunto, e acabam reprimindo as suas emoções. Promover o diálogo poderá ser enriquecedor para o casal cristão, que pode aproveitar esse momento para falar de seus medos em relação às mudanças de suas vidas. Tenho visto no consultório que os casais enfrentam muito melhor essa fase da vida com o diálogo, o apoio mútuo, e parte dessa síndrome é apenas medo do novo, que gera ansiedade e insegurança.
O casal deverá aproveitar que o ninho está aparentemente vazio para se aproximar ainda mais afetivamente e sexualmente um do outro. As muitas lutas e funções da vida afastam outras funções importantes do casal, e esse é um momento próprio para deixar de viver apenas em função dos seus filhos, alguns casos quase um casamento “de fachada”, e partir para um reencontro dentro do próprio casamento, agora mais maduro e sem as inseguranças lá do início, quando vieram os primeiros filhos etc.
A fase do SNV é importante também para que o casal tenha a clareza que jamais deixarão de ser pais de seus filhos, mas que é importantíssimo que possam dar a possibilidade de seus filhos crescerem com a vida e acreditarem que a educação que eles proporcionaram irá contribuir para que sejam cidadãos de bem, de moral e de caráter; ou seja, filhos capazes de amarem a si, a seus pais e acima de tudo a Deus. A Bíblia diz: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Então, fica claro a importância dos pais criarem filhos com afeto seguro, pois, sendo assim, se amarão e conseguirão amar ao próximo, porque na verdade só é capaz de amar ao próximo quem se ama.
Os pais que se encontram com os ninhos vazios deverão observar que a tão sonhada frase “Enfim, sós!” estará mais presente do que nunca, não por “se livrarem dos filhos” — Jamais! — , mas por terem agora mais tempo um para o outro. Se você está nessa situação, aproveite esse momento para que você se redescubra em muitas áreas de sua vida (Provérbios 5.18).
Assim como um dia vocês se amaram, se não estiverem nesse momento tão envolvidos, achando que a vida a dois não tem mais sentido, pois já criaram seus filhos e acabam se sentindo perdidos, reconquistem um ao outro, façam as coisas que antes não podiam, caminhem, façam atividades físicas, participem de mais atividades na igreja, estudem, façam cursos teológicos, faculdades juntos ou individualmente, participem de mais grupos de orações, façam novos desafios na vida a dois. Vocês poderão, em muito, contribuir com as obras sociais de sua igreja.
Vejam o momento da saída de seus filhos como mais uma etapa vencida e como um momento de novas possibilidades de crescimento, com uma melhor qualidade de vida física, psicológica e espiritual. Com o casamento de seus filhos, os netos chegarão e uma nova e linda etapa em suas vidas vocês vão descobrir, sendo avós. E você sabe: Avós são pai e mãe com açúcar!
A vida pode ser vista através de nosso olhar como sendo triste ou bela. Cada um olhará através de suas janelas internas. Não se esqueça: Como a Palavra de Deus diz, “há um tempo determinado para cada coisa” (Eclesiastes 3.1). Sejamos cristãos obedientes e nos alegremos no Senhor. O coração alegre aformoseia o rosto. Vamos reconstruir novos ninhos de amor dentro de cada um de nós, a cada dia.
Por, Valquiria Andréia Salinas Gourlat.
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