Casamento: com crises ou sem crises?

Quando duas pessoas se conhecem, tudo é muito lindo: olhares, desejos, paixão, tudo parece perfeito. Com o passar dos anos, alguns casais passam a achar monótono e chato o casamento, e alguns até pensam em um novo relacionamento ou no divórcio. Falta diálogo, sobram discussões e o distanciamento afetivo fica evidenciado. Segundo pesquisas, os casais que não se tocam, não fazem carícias e não se beijam são casais menos saudáveis em face aos que tem carinho e afeto. Casais que adoecem por dentro e por fora e, como uma panela de pressão prestes a explodir, um dos dois desabafa ou adoece, torna-se amargo ou fica murcha como uma flor prestes a perder a vida (Cantares 1.2).

O que os casais não sabem é que não adianta mudar de parceiro, pois esse processo em ciclo repetirá novamente, e a tendência de buscar por parceiros semelhantes no comportamento, por não entenderem como se dão os processos conscientes e inconscientes de suas escolhas. Por isso conhecemos, eu e você, diversas pessoas que estão no terceiro, quarto ou quinto casamentos. Repetem os mesmos modelos. Os casais não são ensinados a tolerarem frustrações, a respeito de um companheiro(a). Não entendem que a paixão acaba, mas o amor é que poderá fazer com que o casamento permaneça para sempre. O fato é que a rotina e a monotonia tornam casais infelizes. As pessoas tentam buscar a felicidade no outro, no parceiro, quando a pessoa tem que ser feliz internamente, em Deus, em si mesma e somente depois no outro. Casais mais realistas são capazes de perceber a vida como ela é: discutem cada etapa da vida, cada decisão, seja a respeito dos filhos, das compras etc. Isso ocorrem com os que não são narcisistas (que pensam em si próprias), pois acabam vivendo de forma feliz e comemorando de forma bem-humorada cada momento da vida juntos. Como diz a Palavra de Deus: "O coração alegre aformoseia o rosto, mas na tristeza do coração o espírito se abate" (Provérbios 15.13). O versículo mostra que um sentimento interno é visível no externo, no rosto de um cônjuge. Por muito tempo se falou sobre a crise 7 anos de casamento, ou 10 anos, ou 20, dentre outras, porém isso acaba servindo como uma forma de conformismo, algo como: "Ah, todo mundo passa por isso!". Isso faz com que até hoje casais fiquem presos na desculpa do "É normal" e não parem para observar o que está acontecendo, o que estão sentindo.

Todos nós sabemos quando algo não está bem, mas o que talvez muitos não saibam é que tudo começa em casa: nossas neuroses, seguranças, inseguranças, amores ou desamores. A forma como vamos nos relacionar na vida infantil e adulta, inclusive no casamento, tem a ver com as nossas experiências da infância, sejam elas saudáveis ou traumáticas. Por esse motivo, nós, psicólogos e terapeutas de casais, sempre iremos investigar de forma sistemática e organizada a vida infantil e familiar de cada um dos cônjuges e, no caso da terapia sistêmica, acreditamos que quanto mais dados colhermos de nossos pacientes, mais fácil será a compreensão da vida a dois. Assim colhemos dados até a terceira geração do homem e da mulher. Há pessoas que afirmam não ser possível restaurar a um casamento, mas na verdade esse tipo de pessoa se acha autosuficiente, ou pior, é medrosa. Também deixo claro que há casos sim de ordem espiritual, e um bom conselheiro espiritual poderá ajudar nesses casos; e para outros se faz necessário um especialista. O papel da terapia é entender a dinâmica familiar a fim de que possa diminuir o sofrimento psíquico (do casal e de toda a família, que acaba sendo afetada), buscando soluções para uma  boa convivência familiar, onde são trabalhados a autoestima, a cumplicidade e o diálogo, entre outras questões. Isso diminui as crises e aumenta a tolerância. Para que a crise possa ser vencida, é necessário que o casal esteja disposto, em primeiro lugar, a NÃO negar a crise; e em segundo, em identificar o problema e buscar ajuda para assim encontrar soluções.

Um relacionamento só é possível se ambos quiserem, marido e mulher, saírem da crise. Quanto mais você conhecer o seu cônjuge e você passar a se conhecer, inclusive o seu funcionamento psíquico, (principalmente aquele em que você age de forma inconsciente), melhor você se relacionar com o seu companheiro. O outro sempre será o outro, que pensa e sente de forma diferente da sua. Poderá até ter desejos semelhantes, mas ele é ele, e ela é ela. Poderão se amar e muito, desde que um aceite o outro. Às vezes, questiono: "Como pode um casal estar casado tanto tempo e não se conhecer, e se tratar como estranhos?". Talvez por uma questão de ego, vaidade e medo, acabam se escondendo em si próprios, se fechando e não conseguem expor a realidade de seus sentimentos ao outro. Vença seus medos e suas fantasias, procure um profissional antes que você acabe se expondo para toda a sociedade em que você vive e para a qual você tenta esconder sua realidade vivendo "de fachada". Não é possível viver se escondendo direto,  pois certamente as pessoas mais maduras perceberão nas pequenas coisas do dia-a-dia que seu casamento não é assim tão feliz como aparenta ser. Ou pior: abra-se antes que você ou seu cônjuge chegue a um divórcio, que poderá ser muito doloroso e que, na maioria das vezes, poderia e pode ser evitado. Todos nós temos algum grau de dificuldade no casamento, pois cada um foi criado de forma diferente e por famílias diferentes. Construa, com a graça de Deus, a forma de vocês; não uma forma idealizada, mas um casamento real e feliz. Casais que conseguem ultrapassar a barreira do medo, da insegurança, da vaidade, do orgulho e da autossuficiência são capazes de superar crises conjugais no decorrer da vida e se tornarão cúmplices, eternos amigos, amantes e felizes, com uma relação saudável e amadurecida. Na terapia, não se busca encontrar quem está certo ou errado, quem vai vencer, se o marido ou a mulher. Não! Ambos não são rivais, não devem viver em competição de poder, de ego, de espaço ou de aceitação dos outros, mas devem ser parceiros e passar a sonhar juntos, pois só juntos conseguirão superar as crises. Hoje, muitos casais estão tão preocupados com o olhar do outro, do externo, que não buscam ajuda e acabam sendo vítimas de um sistema religioso que quer e exige "modelos e referências". "Eu sou modelo na igreja onde estou; não posso me expor, quem vai me aconselhar se lá sou líder máximo?". Assim se mantém casamentos conhecidos como "fachadas", quando na verdade poderiam desenvolver um diálogo maduro a fim de compreender em as dificuldades conscientes e inconscientes do casal e ambos serem felizes. Deus quer abençoar os casais, porém, no que depender do casal, Ele provavelmente não irá interferir. Se preciso, busquem a ajuda de um profissional crente, pois buscar ajuda é demonstração de amor, de querer mudar e melhorar, e só amando somos felizes. Permitam-se amar. Você pode ser mais feliz do que você é ou já foi. Só depende de vocês. Acredite!

"O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor jamais acaba" (1 Coríntios 13.9).

Por, Valquíria Salinas Goulart.

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