Noé não é: filme distorce relato bíblico

Superprodução confunde as pessoas sobre a verdadeira história do Dilúvio

Não é de hoje que Hollywood se interessa por temas bíblicos. Desde a primeira versão de Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMilles, lançada em 1923 (e que teria um famoso e premiado remake em 1956, com o célebre ator Charlton Heston no papel de Moisés), os grandes estúdios de cinema norte-americanos já produziram pelo menos uma centena de filmes com temática bíblica que percorreram as telas de todo o mundo – sem contar as produções independentes. E não é difícil de captar as razões desse interesse da indústria cinematográfica norte-americana pelas histórias da Bíblia: primeiro, todos os grandes estúdios de cinema dos Estados Unidos foram fundados por judeus, os quais ainda hoje dominam boa parte do mercado cinematográfico naquele país; e segundo, os Estados Unidos eram, até pouco tempo, um país esmagadoramente protestante.

Filme Noé fere a Bíblia e vai mais além do que a mitologia judaica 

Só que o tempo passou e, já faz algumas décadas, especialmente desde os anos 60, que Hollywood passou a ser mais um canal de propagação de comportamentos e ideias que se chocam com a Palavra de Deus do que um canal de promoção de valores judaico-cristãos.

Infelizmente, a maioria esmagadora dos filmes hollywoodianos das últimas quatro décadas divulga e promove a licenciosidade, o sexo ilícito, a pornografia, o gayzismo, a liberação das drogas, a rebeldia, o relativismo moral, o agnosticismo, o ecumenismo, a Nova Era, o ocultismo, a violência etc. Mesmo em filmes em que aparecem valores bíblicos, estes muitas vezes aparecem envolvidos confusamente com práticas que não têm nada a ver com esses valores. E ainda há outro detalhe: até mesmo no caso de filmes que contam histórias bíblicas, o que se vê é uma distorção do relato das Escrituras. É o caso da superprodução Noé, que entrou em cartaz nos cinemas de todo o mundo em abril (2014).

O filme Noé é um projeto do diretor judeu norte-americano Darren Aronofsky. Apesar de ser filho de judeus ortodoxos, Darren é ateu, mas esperava-se que, independente de seu ateísmo, pelo menos tratasse a história de Noé com o mínimo de respeito à narrativa bíblica, o que não aconteceu. O filme recebeu críticas de judeus, evangélicos, do Vaticano e até de muçulmanos, já que a história de Noé aparece também no Alcorão. Em alguns países islâmicos, ele chegou até a ser proibido. O motivo? A história de Noé é totalmente distorcida para se criar um personagem ambientalista radical, do tipo andrófobo (que acha que toda a humanidade - inclusive ele mesmo e sua família - deve ser exterminada para só os animais viverem) e que vai muito mais além até do que a mitologia judaica.

Um dos poucos pontos positivos do filme, apontados pelos críticos cristãos, é a narrativa da criação do mundo e da Queda do homem, se bem que Adão e Eva antes da Queda apareceriam no filme como seres de luz, quase como anjos, o que fere a Bíblia. Outros pontos positivos são a ênfase na corrupção da humanidade antes do Dilúvio e a inundação ocorrendo, como diz a Bíblia, com chuva e o rompimento das fontes de água abaixo da terra (Gênesis 7.11). Fora isso, há uma salada de mitologia judaica e invenção da cabeça do diretor/roteirista Darren Aronofsky, onde o autor vai até muito mais além do que a própria e inconfiável mitologia judaica.

Como ressaltam os críticos, o filme, por exemplo, abusa da figura dos anjos caídos, denominados “guardiões” ou “vigilantes”, que aparecem na obra apócrifa Livro de Enoque. Essa obra faz parte da mitologia judaica, que corretamente não a aceita como cânone, isto é, como livro inspirado da Bíblia hebraica (o Antigo Testamento). Nela, 200 anjos responsáveis por guardar a Terra resolvem se relacionar com mulheres e, por esse pecado, são condenados a se tornarem espíritos errantes (demônios), banidos completamente do Céu. Alguns, porém, são presos para sempre em uma parte da Terra. Os filhos desses anjos caídos com as mulheres se tornam gigantes, os chamados “Nefilins”. Essa lenda foi toda construída a partir de uma interpretação equivocada de Gênesis 6.4, que diz que “os filhos de Deus” se relacionaram com “as filhas dos homens”. Ali, na verdade, é uma referência aos filhos de Sete (linhagem de servos de Deus) que se misturaram com as filhas de Caim (linhagem de pessoas afastadas de Deus). Diz o texto de Gênesis que alguns filhos desses relacionamentos eram gigantes. Desde então, o termo “Nefilim” é usado para se referir a gigantes de forma geral, como em Números 13.33 e Deuteronômio 9.2. Lembremo-nos ainda que Jesus disse que os anjos não podem se relacionar sexualmente com os humanos (Mateus 22.30).

No filme, porém, até mesmo a narrativa fantasiosa do Livro de Enoque é desrespeitada. Os “guardiões” aparecem como sendo os próprios Nefilins e sua aparência é de pedra, transformados assim pela condenação divina. E mais: por ajudarem Noé, eles são perdoados por Deus e se salvam no final! Nem o inventivo criador do Livro de Enoque pensaria numa saída dessas.

E para piorar: a Bíblia diz mais de uma vez que na Arca entraram Noé, sua esposa, seus três filhos – Sem, Cão e Jafé – e as respectivas esposas de seus três filhos (Gênesis 7.7,13). No filme, porém, só o mais velho Sem tem esposa; e um dos inimigos de Noé também consegue entrar na Arca escondido, e depois briga com o patriarca lá dentro. Outro detalhe: não é Deus que fecha a porta da Arca no filme, diferentemente do que diz a Bíblia. A narrativa bíblica é clara quanto ao fato de que Deus fechou a porta por fora (Gênesis 7.16), provavelmente para evitar que Noé fosse tentado a abri-la para salvar os que gritavam desesperados pedindo ajuda para não perecerem no Dilúvio.

Finalmente, para fazer de Noé um ambientalista moderno, Aronofsky coloca como inimigo do patriarca bíblico Tubalcaim, quando a Bíblia não fala nada disso. Tubalcaim é escolhido como contraponto a Noé pelo cineasta porque ele foi, segundo a Bíblia, o primeiro artífice de bronze e de ferro (Gênesis 4.22). A ideia é colocar Noé como um amante da natureza e Tubalcaim como um amante da destruição com suas armas. Enfim, é uma tentativa de transformar a história de Noé em uma espécie de Avatar bíblico. O filme Avatar, do cineasta ateu e anticristão James Cameron, é uma fantasia/ficção científica que foi sucesso de bilheteria no cinema em 2009, sendo exaltado por boa parte da crítica internacional secular e que se notabilizou não apenas pelos seus efeitos especiais, mas por pregar descaradamente uma mensagem de ambietalismo naturalista pagão.

Enfim, o filme Noé está longe de ser um filme bíblico. Ele é apenas uma ficção inspirada em uma história da Bíblia e que, com certeza, só vai trazer confusão para a mente de quem não conhece o texto bíblico. Para quem conhece, não instrui nada. É só entretenimento secular, nada mais. Para ler mais sobre esse assunto, adquira a edição 100 da revista GeraçãoJC, da CPAD, que aborda esse tema com mais detalhes.

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