O resgate da pregação bíblica

Escreve o apóstolo Paulo: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”, Romanos 10.14-17.

Esse texto do apóstolo se constitui um desafio ao papel “kerigmático” da Igreja, que é o de pregar a Palavra de Deus a tempo e fora de tempo, a tantos quantos puderem ser alcançados. O apóstolo cita a escritura profética de Isaías 52.7 para reforçar o papel da Igreja de anunciar o Evangelho de Cristo, que tem caráter universal. Ora, se o Evangelho é universal, a sua aplicação exige uma proclamação universal. A pregação, portanto, é a tarefa primordial da Igreja de Cristo e todas as demais tarefas eclesiásticas são subsidiárias da pregação.

Nesta escritura, o apóstolo Paulo lembra aos judeus convertidos que eles perderam a primazia de serem o único povo especial a proclamar a mensagem de salvação ao mundo. Na nova dispensação, as diferenças foram desfeitas. Não há mais distinção entre judeu e gentio (grego), porque a mensagem da salvação é para todos os que invocam o Senhor (Romanos 10.12). O versículo 17 mostra o lugar da Palavra de Deus no ministério da pregação, quando diz: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo”. Em essência, o texto declara que não haverá fé para aceitar o Evangelho sem pregação. A pregação, portanto, implica no ato de falar a Palavra de Deus e, para falar a Palavra, é preciso estar devidamente preparado para essa tarefa.

A mensagem pregada é tão singular que o seu conteúdo não é determinado pelo pregador, mas pelo Senhor. O apóstolo Paulo entendeu essa verdade e, então, declarou: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1.23, 24). Naturalmente, precisamos entender que a pregação não depende apenas do pregador, mas deve haver uma relação de compromisso com o Senhor da Palavra e com aqueles que nos ouvem.

Um púlpito sem pregação é, indiscutivelmente, um púlpito vazio, desnudo. A relação entre o púlpito e a pregação deve ser, acima de tudo, uma relação de qualidade e conteúdo. No ministério de Jesus, a pregação e o ensino ocuparam lugar central no intenso e rápido tempo de Seu ministério terrestre. Ele identificou-se como pregador público pela primeira vez numa sinagoga da cidade de Nazaré, na Galileia, onde fora criado. Lá, se identificou e afirmou Seu papel de comunicador “kerigmático”. Tomou o livro de Isaías e leu o texto referente à Sua identificação missionária, comentando-o e aplicando-o à Sua apresentação pessoal (Lucas 4.16-21).

Jesus não teve um púlpito exclusivo para pregar. Seu ministério foi o de um pregador itinerante. Seu púlpito, quase sempre, era improvisado. Não carregava consigo algum estrado ou balcão para falar como um orador atrás de uma tribuna. Seu púlpito podia ser o alto do monte, a popa de um barco, o alto de uma pedra, a mesa de uma residência familiar ou mesmo a tribuna de uma sinagoga. Ele não tinha lugar fixo para pregar, não tinha uma sede de reuniões, mas pregava em todos os lugares nos quais houvesse oportunidade de pregar sobre o Reino de Deus. Jesus arrastava multidões para ouvir Seus sermões.

O que é pregação? Segundo Fhillips Brooks, “pregação é a comunicação da verdade, do homem para os homens. Ela contém dois elementos essenciais: verdade e personalidade”. Essa definição nos remete a outro professor de Homilética, Richard L. Mayhune, que escreveu que “a autenticidade da pregação bíblica se mancha hoje de modo significativo devido ao fato de os comunicadores contemporâneos estarem mais preocupados com a relevância pessoal do que com a revelação de Deus. A Escritura inequivocamente requer uma proclamação centrada na vontade de Deus e na obrigação que tem a humanidade de obedecer. A exposição pressupõe um processo exegético que extrai o significado que Deus deu à Escritura e uma explicação desse significado em um modo contemporâneo. É necessário resgatar a essência bíblica e o espírito apostólico da pregação expositiva”.

Há um despertamento da liderança evangélica séria pelo resgate da autêntica pregação bíblica. Paulo foi incisivo ao apelar para a responsabilidade de, tão somente, “pregar a palavra” ( 2 Timóteo 4.2). Existe um fosso entre o padrão de pregação bíblica dos dias apostólicos e o padrão demonstrado nos dias atuais. A profecia de Amós parece estar se cumprindo nos dias atuais, quando ele diz: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Jeová, em que enviarei sobre a terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Amós 8.11). A pregação atual parece a guloseima do “algodão doce”, que parece colorido, mas é cheio de ar, pois não tem peso algum. O seu conteúdo é pobre, porque só ilude. O versículo 12 de Amós 8 diz ainda: “E irão errantes de um mar até outro mar e do Norte até o Oriente; correrão por toda parte, buscando a palavra do Senhor, e não acharão”. Essa profecia, se aplica à realidade atual, demonstra a necessidade dos nossos dias. Temos excelentes pregadores, cuja oratória e retórica atraem multidões famintas, mas suas mensagens são vazias de conteúdo genuíno da Palavra de Deus. Precisamos crer no poder da Palavra de Deus como suficiente para operar os milagres que só Deus pode fazer.

Nossos púlpitos estão empobrecidos porque alguns pregadores modernos roubam a glória da pregação para eles mesmos e o alvo da pregação não é atingido nem alcançado. O povo precisa ouvir a Palavra de Deus.

Todo pregador comprometido com a sua igreja e o que ela ensina deve possuir um conteúdo bíblico e teológico que é a condição “sine que non”, ou qualidade indispensável, da proclamação neotestamentária. Por isso, a única fonte segura de todo pregador deve ser a Palavra de Deus. Dela o pregador extrai a sua mensagem, tendo o cuidado de fazê-la mediante uma exegese cuidadosa que mantenha a pureza da mensagem genuína e viva da Bíblia Sagrada.

Por Elienai Cabral.

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