Sobre a autoridade de Jesus

Sobre a autoridade de Jesus


Jesus de Nazaré é o centro da fé cristã, e um dos aspectos inconfundíveis de Jesus como Ele exercia autoridade, não a partir do uso de força ou opressão, como era comum no mundo romano do primeiro século, mas através da mansidão e do poder restaurador. O Evangelho de Marcos nos convida a observar esse estilo ímpar de liderança, revelando a natureza da autoridade de Jesus.

Autoridade de Jesus em Marcos

Em Marcos 1.21,22, vemos Jesus ensinando na sinagoga de Cafarnaum e o povo extremamente admirado, pois Ele falava “como quem tem autoridade, e não como os escribas”. O termo grego exousía, que significa “autoridade”, “poder legítimo” ou “direito de agir”, aponta para uma autoridade que flui da própria pessoa, que é legítima e livre, diferente da que se apoia apenas em cargos ou tradições. Logo em seguida, Jesus expulsa um espírito imundo — ou seja, não apenas Ele fala, mas age com autoridade que liberta e dá dignidade (Marcos 1.23-26).

A mesma autoridade aparece quando Jesus perdoa e cura um paralítico, revelando poder sobre corpo e alma (Marcos 2.1-12), ou através de gestos compassivos, que tocam, e quando ressuscita a filha de Jairo (Marcos 5.21-43), demonstrando que a Jesus não se impõe à distância: Ele se aproxima, escuta, toca e restaura! Em outro momento, Jesus, ao ver a multidão como ovelhas sem pastor, se compadece e começa a ensiná-la (Marcos 6.34), mostrando que Sua autoridade vem da compaixão. Ele não lidera pela força, mas pelo amor que serve, doa e se entrega até o fim. Esse tipo de liderança, que é pela humildade, é muito diferente dos modelos de domínio e de imposição seculares.

Contraste com o autoritarismo dos poderes terrenos

Esse contraste fica bem claro quando Tiago e João pedem lugares de honra (Mc 10.35-45). Jesus convoca para Si os discípulos e diz: “Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; mas, entre vós não será assim” (Marcos 10.42-43a). A palavra grega traduzida nesse texto como “autoridade sobre elas” é katexousiazō, que contém a preposição katá, que significa “sobre”, “contra” ou “de cima para baixo”; e o verbo exousiázō, derivado de exousía. Assim, katexousiazō carrega o sentido de autoritarismo, um tipo de autoridade opressiva e dominadora, usando o poder contra o outro, impondo-se com força ou controle abusivo. Esse termo aparece só duas vezes no Novo Testamento (Mateus 20.25; Marcos 10.42), o que evidencia sua escolha intencional por Jesus para denunciar modelos de liderança centrados em dominação, subjugação e controle. Tal autoridade é sustentada pela coerção, é de modo geral imposta, característica comum nas estruturas dominantes do mundo. Jesus denuncia essa autoridade pervertida, típica daquele tempo e que persiste no presente, e também formula outro caminho: “Mas, entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos” (Marcos 10.43,44).

No Reino de Deus, a verdadeira grandeza se mede pela humildade e o serviço, e não por poder ou prestígio. Jesus convida os discípulos a ver as armadilhas do poder terreno e aceitar o serviço do amor como a verdadeira liderança – uma autoridade transformada e libertadora que é o coração do Reino.

A liderança no Reino

A redefinição da autoridade alcança seu ápice na imagem do servo. Jesus oferece o novo modelo deslocando o eixo da autoridade da imposição para o serviço, do status para a disposição de abaixar-se, de cuidar, de servir. Jesus se apresenta como exemplo e fundamenta Sua autoridade em Sua entrega total – não apenas ensina sobre o serviço, mas o vive (Marcos 10.45). O Seu ministério se caracteriza pela atenção aos excluídos, pelo toque nos impuros, pela escuta dos marginalizados e pela disposição a sofrer e morrer por amor. Nesse paradigma da negação da autonomia, se manifesta o kenósis (esvaziamento de si), o abandono do privilégio em favor da vida do outro (Filipenses 2.6-8). Essa insurreição do paradigma cultural de poder se fortalece quando Ele cura no sábado (Marcos 3.1-6) ou permite ser tocado por uma mulher em restrição devido a seu fluxo de sangue (Marcos 5.25-34), ou quando acolhe crianças (Marcos 9.36,37), fazendo com que Sua autoridade se expresse com compaixão e de forma servidora sem qualquer imposição, mas pela doação. O modelo do servo que Jesus apresenta é um contraste profético ao poder opressivo e centralizador de direção do mundo. Seguir Jesus é renunciar o autoritarismo e adotar a humildade do servo que serve com coerência, escuta e ama aos menos favorecidos.

Este chamado também transforma as estruturas que envolvem a liderança eclesiástica. Onde há autoritarismo ou centralização, o modelo de Cristo é negado. A autoridade saudável é compartilhada, construída em relações horizontais e na prática do cuidado – uma liderança com o outro, nunca sobre o outro. Não se trata de rejeitar a liderança, mas de redefinir o fundamento da liderança de acordo com Cristo: serviço, amor concreto e engajamento com a vida. Nesta direção, todos são chamados para viver em uma luta de humildade. Portanto, assumir a autoridade do Reino é resistir aos modelos autoritários, vivendo uma liderança humilde, compassiva e libertadora. Ou seja, é no cuidado e não no controle que a autoridade cristã revelará seu sentido real. O verdadeiro líder cristão não impõe, mas caminha ao lado, acolhe e se doa.

Referências bibliográficas

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VINE, William Edwy. Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

por Wilson Faraço

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