Cristãos no Irã pedem oração pôr fim do regime e denunciam perseguição

Cristãos no Irã pedem oração pôr fim do regime e denunciam perseguição


Após a guerra, governo dos aiatolás aumenta caça a opositores e aos cristãos da igreja clandestina no país, que é a que mais cresce no mundo

O conflito entre Israel e Irã, que escalou no mês de junho, fazendo o mundo temer o início de uma Terceira Guerra Mundial caso os Estados Unidos ingressassem na guerra, acabou rapidamente exatamente após isso que se temia acontecer. Os Estados Unidos atacaram o país persa, concluindo os ataques de Israel ao projeto nuclear iraniano, iniciado dias antes. Caças B-2 Spirit de última geração dos EUA bombardearam as instalações nucleares mais profundas do regime iraniano por meio de algumas bombas destruidoras de bunkers profundos somadas a 30 mísseis Tomahawk, destruindo completamente o projeto nuclear iraniano, segundo reconhecimento da maioria dos especialistas, de líderes do governo de Israel e do próprio governo iraniano. O resultado dos ataques e o cessar-fogo aceito pelo Irã logo em seguida levaram as autoridades mundiais ao alívio. Afinal, um dos maiores temores do mundo era o Irã chegar à bomba nucelar, o que já estava muito perto de acontecer – de acordo com alguns especialistas, era questão de poucos meses. Além do projeto nuclear, o governo islâmico do Irã gastava mais de 700 milhões de dólares por ano com armas e dinheiro para o Hamas e o Hezbollah. Porém, com a destruição de grande parte de sua infraestrutura militar, a capacidade de o Irã ajudar esses e outros grupos terroristas, como os Houthi do Iêmen, ficou bastante diminuída.

Após o conflito, uma pergunta surge naturalmente para nós, cristãos: em meio a toda essa situação, como estava e como está hoje a igreja iraniana, que é justamente a igreja que mais cresce hoje no mundo, segundo levantamentos recentes de agências internacionais de missões já divulgados pelo jornal Mensageiro da Paz?

Reações dos cristãos no Irã e em Israel

Em matéria publicada em 23 de junho, a Christianity Today informou que, segundo fontes da diáspora iraniana que têm contato com cristãos que ainda vivem no Irã, os ataques israelenses ao país persa foram recebidos pelos cristãos em solo iraniano com “medo e esperança” – medo por atingirem seu país e esperança por desejarem “uma mudança de regime”, vista como possibilidade devido ao conflito. Por outro lado, havia também o temor de que, caso o regime não caísse, a perseguição sobre os cristãos aumentasse – e foi isso que realmente aconteceu. Ainda em 19 de junho, o governo do Irã começou a prender qualquer pessoa suspeita de colaboração com Israel e os Estados Unidos. Mais de 200 pessoas foram presas nas primeiras horas. Os grupos cristãos estavam entre os focos do regime em sua “caça às bruxas”.

 “Em vez de proteger o povo, o governo iraniano agora está prendendo qualquer pessoa flagrada tirando ou compartilhando fotos e vídeos com a imprensa. Os cristãos são especialmente vulneráveis, pois correm o risco de serem acusados de espionagem e considerados ameaça à segurança nacional. Se sua fé for descoberta, as consequências são ainda piores. Por favor, nestes dias sombrios, seja uma voz pela igreja iraniana”, afirmou um cristão no Irã em entrevista à agência Portas Abertas.

Um caso recente ilustra como os cristãos iranianos são vistos pelo regime. Em 27 de junho, a iraniana Laleh Saati, de 46 anos, foi liberta da prisão após mais de 15 meses encarcerada por “agir contra a segurança nacional” ao participar de uma organização cristã considerada “sionista”. Esse tipo de sentença é uma manobra judicial muito comum utilizada para condenar pessoas que se convertem ao Cristianismo. Presa no dia 13 de fevereiro deste ano na casa do próprio pai em Teerã, Laleh foi submetida a interrogatórios intensivos durante três semanas. Após a libertação, ela foi proibida de viajar durante dois anos e sua liberdade foi concedida sob a condição de que ela não tenha qualquer contato com a imprensa ou com pessoas de fora do Irã. Laleh havia pedido asilo à Malásia, onde viveu e praticou sua fé livremente por alguns anos, mas voltou ao Irã em 2017, para cuidar de seus pais idosos e após se frustrar com a lentidão no seu processo de asilo. Fotos e vídeos do seu batismo na Malásia foram usados contra Laleh em seu julgamento. Ela foi julgada pelo juiz Iman Afshari na Corte Revolucionária de Teerã e considerada culpada. Laleh não recebeu tratamento médico na prisão e há preocupações com sua saúde mental e seu bem-estar.

Segundo informações de uma cristã no Irã que é pastoreada à distância pelo pastor Shahrokh Afshar, ex-muçulmano e fundador da Fellowship of Iranian Christians, a primeira organização cristã iraniana nos EUA e que conta com uma congregação online com falantes de persa de seis países, “o governo iraniano está ouvindo os telefonemas das pessoas e prendendo pessoas nas ruas”. Conta Afshar que, no domingo 22 de junho, “autoridades iranianas executaram um homem acusado de espionagem”. Ela falou também de civis que acabaram sendo atingidos pelos ataques israelenses, não obstante as Forças de Defesa de Israel terem visado alvos militares, líderes e cientistas do regime dos aiataolás, e não civis, e também terem avisado com antecedência os cidadãos iranianos dos ataques por meio de milhares de panfletos em persa que foram lançados pelos aviões israelenses, que tomaram os céus do Irã, sobre os locais que seriam atacados.

Segundo Afshar, “a crescente igreja clandestina do Irã” estava “muito, muito assustada”, sobretudo porque, devido aos ataques, por vários dias, muitos iranianos ficaram sem energia elétrica, água ou acesso à internet. De acordo com o líder cristão, havia um “complexo conjunto de emoções” entre os cristãos iranianos e mesmo os iranianos em geral. “Por um lado, eles estão felizes por alguém ter vindo resgatá-los das mãos desse ditador”, referindo-se ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. “Por outro lado, é o seu país, a sua vizinhança, os seus vizinhos e os seus entes queridos que estão sendo bombardeados. Como deveriam se sentir?”. O problema é que muitas pessoas, apesar dos avisos das forças de defesa israelense, permaneceram na região, sendo gravemente afetadas. Foi somente depois que Israel iniciou seus ataques a Teerã que o medo aumentou e os moradores realmente fugiram da cidade, congestionando as rodovias. A capital densamente povoada do Irã abriga mais de 10 milhões de pessoas, o que representa aproximadamente 10% da população do país, mas, segundo Afshar, após o início dos ataques, “Teerã virou uma cidade fantasma”.

“As pessoas estão abandonando suas casas e pertences, fugindo das grandes cidades sem saber se ou quando poderão voltar. Os preços dos alimentos dispararam, e muitos estão tentando estocar em caso de emergência. Em cidades menores, hotéis e pousadas estão lotando rapidamente”, relatou uma líder cristã no Irã à agência Portas Abertas. Só ao final do conflito as pessoas voltaram à Teerã.

Segundo a Christianity Today, todos os crentes iranianos com quem eles conseguiram conversar disseram que, embora os iranianos tivessem medo dos bombardeios, a maioria estava “relativamente aberta a ataques que possam derrubar o regime. Eles estavam “sofrendo com isso”, mas diziam que havia “um preço a ser pago pela liberdade”, disse Hormoz Shariat, fundador do Iran Alive Ministries, uma plataforma de transmissão cristã. “Portanto, eles não estão ressentidos com Israel, nem com os Estados Unidos”. “Na verdade”, disse Shariat, “eles estavam esperançosos”. O líder cristão acrescentou que muitos iranianos estavam “implorando” a Israel para lançar uma operação no Irã que espelhasse os ataques direcionados no Líbano no ano passado, que dizimaram os terroristas do Hezbollah. Os iranianos não queriam “uma guerra sem fim com baixas em massa”, observou ele, mas acolhiam “ataques israelenses que removessem líderes ‘com precisão de laser’”. Ele disse que os iranianos estavam “esperançosos de que uma mudança de regime esteja próxima”.

“O povo do Irã não quer guerra. Eles anseiam por paz. Mas o que pode ser feito quando o governo se recusa a renunciar e precisa ser removido por força externa? Nos últimos 46 anos, especialmente nos últimos anos, os iranianos foram às ruas em protesto, e milhares de jovens foram mortos por este regime. Talvez agora seja o momento em que o sangue deles trará mudança real e liberdade”, afirmou uma cristã iraniana em entrevista à agência Portas Abertas. Durante a guerra, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chegou a abordar diretamente a questão da busca de Israel por uma mudança de regime em Teerã. “Isso pode ser um resultado, mas cabe ao povo iraniano se levantar por sua liberdade”, disse ele, observando que Israel “pode   criar condições que os ajudem a conseguir isso”.

A guerra também impactou a todos em Israel, disse Meno Kalisher, pastor da Assembleia Casa da Redenção de Jerusalém. O número de mortos em Israel devido aos ataques do Irã poderia ser muito maior do que foi se Israel não tivesse investido pesadamente em abrigos antiaéreos e sistemas de defesa antimísseis. Ainda assim, dezenas de israelenses morreram devido a disparos de mísseis lançados propositalmente contra populações civis – inclusive, contra um hospital – e, ocasionalmente, sobrecarregando as defesas israelenses. O pastor Kalisher declarou em meio à guerra: “Nós realmente confiamos no Senhor e oramos. Estamos orando pela igreja iraniana”. A maioria dos membros de sua congregação tem acesso a abrigos antiaéreos. Já no Irã, abrigos antiaéreos são escassos.

Irã: um antigo amigo de Israel

Historicamente, os persas nunca foram inimigos de Israel. Foi sob o governo de Ciro, o Grande, que os judeus receberam autorização para retornar para sua terra. Foi sob o governo persa que o povo judeu recebeu autorização de reconstruir sua cidade e o Templo de Jerusalém. E após a criação do Estado de Israel em 1948, o Irã era o único país da região que não fazia oposição ao estado judeu, estabelecendo, inclusive, laços econômicos e militares com Israel por décadas. Todos esses laços, porém, foram rompidos quando ocorreu a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou a monarquia secular do Irã e estabeleceu uma república islâmica no país. O aiatolá Ruhollah Khomeini substituiu o xá, e o novo líder rompeu laços com Israel e com o Ocidente, além de implementar códigos de vestimenta rigorosos e suprimir os direitos humanos no país. Cristãos e muçulmanos mais moderados têm sofrido sob o regime dos aiatolás desde seu início.

De acordo com a Lista Mundial de Observação da Portas Abertas, o Irã ocupa o nono lugar na lista de países onde é mais perigoso ser cristão. Cristãos de origem muçulmana frequentemente enfrentam prisões e longas penas de prisão por terem rompido com a fé islâmica e por serem vistos como supostos agentes de influência ocidental no país.

Em 2009, ocorreram protestos no país sob alegações generalizadas de fraude eleitoral, no que se expandiu para uma série de protestos contra a repressão às liberdades civis pela República Islâmica do Irã. O regime, então, reagiu com violência, o que resultou na morte de mais de 30 pessoas, além de vários feridos  e presos. Em 2022, as autoridades iranianas mataram mais de 75 pessoas após os protestos relacionados à morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que morreu sob custódia após ser presa pela polícia da moralidade islâmica do Irã por supostamente não usar véu islâmico.

Said Najafy, um cristão iraniano que viveu no país até o ano 2000 e hoje é líder ministerial na Bélgica, disse, em entrevista à Christianity Today, que “o regime quer destruir Israel desde 1979 e que o povo iraniano tem sofrido com isso”, e acrescentou: “Queremos voltar aos velhos tempos, quando éramos amigos. Estamos orando e torcendo para que o regime caia o mais rápido possível”.

Irã: o país onde o Cristianismo mais cresce no mundo

Em contrapartida, o Cristianismo tem crescido no país. Segundo estimativas, como já publicado pelo jornal Mensageiro da Paz em sua edição de abril de 2023, a igreja que mais cresce no mundo – percentualmente falando – está no Irã, e ela é majoritariamente jovem, pentecostal e composta em sua maioria por mulheres.

Se o número oficial de cristãos – ortodoxos, católicos e protestantes – no Irã é de 300 mil, estima-se que, na verdade, o número de cristãos da igreja clandestina seja de mais de 1 milhão. O próprio governo iraniano manifestou em 2019 preocupação com o crescimento vertiginoso do Cristianismo no país. De acordo com um relatório de 2022 da Operation World, de apenas 500 evangélicos no Irã em 1979, hoje “as estimativas sugerem que o número é maior do que 1 milhão”, com “um grande número de persas encontrando o Cristo ressurreto também fora do Irã. A Igreja na Pérsia não crescia tão rápido desde o sétimo século”. O relatório lembra que, no Irã, “uma pessoa pode receber uma sentença de morte por apostasia – abandono da fé islâmica”. Ao final, ele declara que “esse crescimento é um movimento notável do Espírito Santo, com muitos sinais e maravilhas, sonhos e visões sendo relatados”.

Segundo relatório da agência missionária Asia Link, “as igrejas domésticas do Irã começaram a crescer mesmo quando seus líderes continuaram a ser mortos. [...] O Irã é o lar da igreja que mais cresce no mundo. Deus está claramente se movendo entre os iranianos, abrindo os olhos para a falsa esperança do Islã e para a vida eterna encontrada em Cristo”. A agência ressalta que “por vários anos” apoiou “a produção e distribuição de cartões SD cheios das Escrituras e materiais evangelísticos. Todos os anos, centenas de iranianos encontram equipes de divulgação distribuindo esses cartões, com muitos encantados com o presente que há muito desejavam para explorar as reivindicações do Cristianismo. Louvado seja Deus por aqueles que chegam à fé através deste ministério!”.

A Asia Link enfatiza que “a igreja no Irã continua a crescer em ritmo acelerado” e que, em razão disso, “há uma necessidade urgente de uma nova geração de líderes teologicamente treinados e piedosos”. Logo, para atender a essa demanda, agência missionária apoia “uma faculdade que treina remotamente estudantes iranianos para o ministério, garantindo a preparação contínua de novos pastores para o rebanho em crescimento”. O relatório da Asia Link conclui celebrando: “Louvado seja Deus pelo que Ele fez no Irã! Onde antes as perspectivas eram sombrias, hoje está o lar da igreja que mais cresce no mundo. Aleluia!”.

A matéria já mencionada da Christianit y Today, datada de 23 de junho deste ano, traz depoimentos de cristãos iranianos dizendo que “milhares de mesquitas foram fechadas no Irã”, e que “alguns clérigos muçulmanos atribuem o fechamento das mesquitas à falta de financiamento, mas outros dizem que a causa mais provável é a baixa frequência”. Oremos pelo Irã

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