Agendas têm afetado a saúde e a relação dos pastores com familiares
Uma nova pesquisa científica publicada no dia 7 de maio pela revista Plos One corrobora uma realidade já observada por cristãos e líderes religiosos: a vida espiritual ativa resulta no bem-estar ao corpo. Os coordenadores do estudo acompanharam mais de 3 mil pessoas nos Estados Unidos por seis anos, e o resultado foi que as pessoas com maior engajamento religioso ou espiritual revelam melhores indicadores de saúde física, principalmente na terceira idade.
Os pesquisadores disseram que a espiritualidade vem antes
dos bons resultados clínicos, indicando que a fé atua como fator de proteção. A
psicoterapeuta e escritora Débora Fonseca concorda que o zelo com a vida
espiritual afeta diretamente a saúde do corpo. “Você já deve ter ouvido que
pessoas que não perdoam ficam amargas, ressentidas, e isso afeta órgãos do
corpo [...] A partir do momento que temos um cuidado com a nossa vida
espiritual, que nos estimula, por exemplo, a perdoar, a gente também contribui para
que o nosso corpo e a nossa mente estejam sendo cuidados”, afirma.
A profissional ressalta que não se pode separar corpo, alma e
espírito. “Tudo está interligado. Quando lemos em Hebreus que estamos numa
corrida, isso estimula a abandonar os pesos, que podem ser pecados, ausência de
perdão ou dificuldade no autocuidado. Pessoas que não cuidam dos seus traumas,
da alimentação, do sono, da identidade, da autoestima [...] tudo isso
influencia a saúde”, conclui.
O relatório dá conta de que em casos que envolvem doenças crônicas
ou cuidados paliativos, a espiritualidade facilita na decisão do paciente ao
tratamento, na atenuação da dor e no confronto aos desafios emocionais e
sociais, incluindo as comunidades de fé que servem como locais de apoio fundamentais
para os pacientes e seus familiares. Essa e outras pesquisas que envolvem o
comportamento humano conjugado a uma vida de comunhão com Deus reforçam o argumento
de que sensibilidade e sabedoria, reconhecendo que o milagre também se revela
nos pequenos progressos, nos vínculos de fé e na presença do Senhor em meio aos
processos de cura, está em pleno acordo com a Bíblia (Provérbios 17.22).
Falando no comportamento humano, outra pesquisa, desta vez em
torno das atividades pastorais, denuncia que o zelo se transforma em um peso
invisível quando a agenda não dá tréguas. Isto inclui a rotina dos cultos,
aconselhamentos, reuniões, visitas, viagens e preleções. A carreira
ministerial, para muitos líderes cristãos, ultrapassa os limites, provocando o
cansaço comum, tornando-se uma corrida interminável.
O que parece dedicação por parte do líder evangélico, na
verdade, são sintomas do workaholismo, ou vício em trabalho, que tem adoecido emocionalmente
as lideranças, impactado famílias e, em alguns casos, substituído a genuína espiritualidade
por produtividade compulsiva, destruindo a resistência dos líderes. O Dr.
Charles Edward “Chuck” Lawless Junior, professor de Evangelismo e Missões no Seminário
Southeastern, apresenta o seu exemplo: “Escrevo este post como uma confissão e
um pedido de oração. Sou workaholic”.
O pastor, aos 64 anos, admite que está aprendendo a
descansar verdadeiramente em Deus, mesmo após décadas de ministério. “Trabalho
em três organizações diferentes e prego ou ensino quase semanalmente em
diferentes lugares da América do Norte. Estou ocupado”, confessou.
De acordo com Lawless, a sua atividade ministerial não se
resume a um problema de agenda, mas de alma. “Separar ‘estou trabalhando duro
porque amo a Deus’ de ‘estou trabalhando duro porque o trabalho é o meu Deus’
nem sempre é fácil para mim”, escreve. O pastor admite que, muitas vezes, encontra
seu valor em suas realizações. Esta é uma confissão que encontra similaridade
na rotina de muitos líderes que não conseguem desacelerar sem sentir culpa por
estar “trabalhando para Deus”.
“Uma das grandes armadilhas é o senso de urgência que
acompanha a vocação pastoral. O que fazemos tem ramificações eternas”, lembra ele,
citando a pregação do Evangelho, o discipulado e o cuidado com os membros.
“Esse entendimento, embora verdadeiro, pode levar a uma rotina em que o
descanso parece quase profano. Sempre há mais pessoas para alcançar, mais
sermões para preparar, mais membros da igreja para guiar”, conclui o pastor
Lawless.
Ainda discutindo sobre comportamento, mais um relatório tem servido
como diagnóstico para muita gente. O pastor sênior da Igreja Cristã do Sudeste,
em Louisville, Kentucky (EUA), Kyle Idleman, denuncia o perigo da atual geração
viciada nos estímulos digitais em excesso, que conseguem adoecer a vida
espiritual. Se o advento da tecnologia trouxe a versatilidade no cumprimento de
tarefas e conforto ao homem moderno, por outro lado, as brilhantes telas que
exibem todas as possibilidades também fazem com que a mente humana parece cada
vez menos capaz de simplesmente parar. No mundo moderno, a distração tornou-se
um modo de existir, levando a exceção se transformar em norma. Temos hoje a
fragmentação da atenção, diálogos interrompidos por notificações e
relacionamentos afetados pela ausência de presença real. “Somos a geração mais
distraída da história. A distração não apenas nos impede de fazer coisas, as também nos impede de nos tornarmos quem fomos criados para ser”, explica o
pastor, que publicou um artigo em seu site, onde explica que o ser humano vivencia
uma “reconfiguração cerebral” com a distração enraizada nos cérebros, produzindo ansiedade, o emocional desconectado e a estagnação
espiritual. Ele conta que, certa feita, ao brincar de charadas com a família, a
sua filha de oito anos o imitou como um personagem curvado digitando sobre um laptop
sem parar, alheio ao redor. Os demais membros da família gritaram “Pai!”,
reconhecendo quem a menina estava encenando.
“Forcei uma risada, mas por dentro senti um soco no
estômago. Era assim que minha filha me via [...] sempre olhando para outra coisa,
nunca totalmente envolvido com ela. Nossa vida espiritual está sofrendo não
porque rejeitamos a Deus, mas porque estamos distraídos demais para perceber
que Ele está lá”, confessa o pastor.
Uma pesquisa conduzida por acadêmicos de Harvard e publicada
na última semana de maio propôs que o “florescimento humano” tem conexão com a
fé e a espiritualidade, com os cristãos praticantes obtendo pontuações mais
altas do que os não religiosos. Os coordenadores do Estudo Global Flourishing
analisaram mais de 200 mil pessoas em 22 países nos últimos cinco anos.
O Florescimento Humano, também conhecido como “flourishing” em
inglês, redunda a um estado de bem-estar, saúde e realização de um indivíduo em
diversos aspectos da sua vida, transcendendo a simples felicidade. O professor Tyler
VanderWeele, que conduziu o relatório, disse que “a frequência a serviços
religiosos foi um dos fatores mais consistentemente associados ao bem-estar
atual ou subsequente, em todos os países e em todos os resultados”. Ele sugere uma
conexão entre a frequência a serviços religiosos ou a cultos e a felicidade. O
reverendo Joshua Rey, da Holy Trinity Roehampton, disse que “a explicação para nossa
ansiedade, angústia, consternação e desesperança diante da prosperidade e
liberdade incomparáveis que desfrutamos neste país é junk food, smartphones e o
declínio da religião organizada”.
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