A disciplina da oração e meditação

A disciplina da oração e meditação


A oração é poderosa em todas as áreas de nossa vida. Cabe a nós, como igreja e liderança, retornar a uma vida de profunda conexão com Deus, o que implica uma oração disciplinada

Vivemos tempos difíceis no que diz respeito à oração. Tanto boa parte da igreja como a maioria dos líderes estão negligenciando a oração. Oramos pouco, sem compromisso e sem propósito. O apóstolo Tiago, em sua carta, no capítulo 4, versículos 3, afirma: “Pedis e não recebeis porque pedis mal...”. Este texto fala de nossa forma e intenção na oração. Jesus nos ensinou a orar com disciplina, quando disse em Mateus 6.6: “Mas tu, quando orares, entre no teu quarto e, fechando a porta, orarás a teu Pai que está em secreto e teu Pai que vê em secreto te recompensará”. Jesus nos ensinando a programar um tempo de oração, isto é, a termos uma disciplina de oração.

Quando falamos em disciplina, estamos falando sobre educação, regras, pontualidade, frequência. Orar com disciplina implica fechar o quarto, ficar a sós com Deus, extrair do ambiente tudo que tire a atenção e focar no que está fazendo, e estipular tempo e local de orar como um hábito diário e permanente.

A Bíblia nos fala em oração de Gênesis a Apocalipse. Adão falava com Deus, seus ­filhos ofereceram sacrifício, mas a Bíblia diz em Gênesis 4.26 que foi com Enos, ­filho de Sete, que começou a invocar o nome do Senhor. Abraão orou por Ló e sua família para que o Senhor não os destruísse, em um dos momentos mais lindos da Bíblia, quando ele falava com Deus como dois amigos íntimos, episódio descrito em Gênesis 18.20-31. Jacó começou a orar quando se encontrou com o Senhor em Betel, depois outra oração signi­ficativa dele foi no Vau de Jaboque, quando teve um encontro profundo com Deus. Seu nome foi mudado e no fi­nal de sua vida ele orou e profetizou por seus fi­lhos, o que é narrado em Gênesis 49. Moisés orou pelo povo durante quarenta anos, o Salmo 90 é uma oração de Moisés; e Josué orou na conquista e durante seu governo. Depois de Josué, nos tempos de crise no período dos juízes, o povo clamou a Deus e Ele levantou os juízes para libertação dos opressores.

Samuel foi um exemplo de homem que tinha comunhão com Deus em oração. E os reis oraram, como Davi, que escreveu lindos salmos de oração, mais de 40 deles. O que dizer dos sacerdotes e dos profetas? Foram orações e profecias poderosas, com Deus revelando o futuro de Israel e de todos os povos, a exemplo do que vemos em Daniel, Ezequiel e Zacarias. Jesus passava noites de oração e ensinava Seus discípulos a orar e a receber respostas. Os apóstolos e a igreja perseguida oraram muito ao Senhor. En­fim, a oração é a forma do povo de Deus se comunicar com o Todo-Poderoso.

Quando Jesus veio ao mundo, nos ensinou como orar com disciplina, quando passou noites de oração. Precisamos aprender com Ele a orar de forma disciplinada. Lucas 5.16 diz: “Jesus, porém, se retirava para lugares solitários e orava”. Nós, obreiros da casa do Senhor, precisamos ter o nosso momento a sós com Deus. Veja como é interessante isto: Jesus, antes de escolher os doze, orou a noite toda: “Naqueles dias, Jesus se retirou para o monte a fi­m de orar e passou a noite orando a Deus, e quando amanheceu chamou os seus discípulos e escolheu doze, entre eles...” (Lucas 6.12,13). Se Ele precisou passar a noite em oração para escolher Seus obreiros, nós, como seres humanos mortais, devíamos passar muito mais tempo orando para escolher obreiros para servir a Deus conosco.

A Bíblia está cheia de exemplos de como orar de forma organizada e com proposito. Orar com disciplina é planejar o tempo, a frequência, a assiduidade, a forma e o propósito pelo qual oramos ou jejuamos. Infelizmente, muitos de nós nos ocupamos tanto com outras coisas que não temos nem um horário diário para passar algum tempo com o Senhor.

Diferentes tipos de oração com base no propósito

A Bíblia fala de orações especí­ficas, como:

1. Oração de Confissão. O exemplo mais importante da Bíblia é o Salmo 51, quando o rei Davi confessa seu pecado e pede misericórdia ao Senhor.

2. Oração de Intercessão. Em João 17, encontramos a mais linda e poderosa interseção feita por nosso Mestre por Seus apóstolos e pelos Seus servos de todas as épocas.

3. Oração de Súplica ou Petição. O Salmo 141 é um exemplo de súplica realizada por Davi. Uma oração tremenda diante do Senhor. Outro exemplo de petição foi quando Jesus estava no Getsêmani, quando disse: “Meu Pai, se possível passa de mim este cálice; todavia não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26.39).

4. Oração de Louvor e Gratidão. Vemos um outro tipo de oração em Filipenses 4.5: ação de graças. Diz o texto: “Sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. Muitos exemplos de orações de ação de graças podem ser encontrados nos Salmos.

5. A O ração de Imprecação. Orações imprecatórias são encontradas, por exemplo, nos Salmos 7, 55 e 69. Elas são usadas para invocar o juízo de Deus sobre os ímpios e, assim, vingar os justos.

Exemplos de orações atendidas pelo Senhor

Na Bíblia e na história da igreja, temos muitos exemplos de orações de servos de Deus que foram atendidas pelo Senhor. Veja a oração de Jonas, com a maravilhosa resposta de Deus; a súplica de Ana, tendo Samuel por resposta; a oração de Estêvão antes de sua morte, quando ele viu o céu aberto; a oração de Josué, que fez parar todo o sistema solar para Deus conceder vitória a seu povo; Daniel e seus companheiros oraram e Deus revelou os segredos da história da humanidade que ainda estão se cumprindo; a oração de confi­ssão de Davi no Salmo 51; a oração de Moisés pedindo que Deus perdoasse o povo ou riscasse seu nome do livro da vida; e tantos outros casos de orações respondidas. Que pensemos nossas vidas e ministérios no que diz respeito à nossa vida de oração.

Vejamos algumas orações que mudaram o mundo:

1. Joseph Ababalola (Nigéria). O gigante nigeriano Ababalola, numa ocasião, juntamente com seus companheiros, começou a orar em um domingo, cada um na sua vez, e quando chegou a sua vez e ele orou e terminou com "amém", já era 21h de quarta-feira 21. O grupo passou três dias em oração e Deus mandou um avivamento.

2. Evan Roberts (País de Gales). Em outubro de 1904, Evan Roberts, aos 26 anos, começou orar e desenvolveu uma paixão pelo Espírito Santo. Ele fez um jejum de três dias sem comer e sem beber água. No dia seguinte, foi pregar em vilarejos, bares, estações de trem, em boates e clubes. Em três meses, as discotecas, os prostíbulos e os clubes fecharam na cidade, e se deu início ao famoso avivamento no País de Gales. Nesta época, as fábricas de vinho da cidade foram à falência, porque os bêbados se renderam a Cristo.

3. John Knox (Escócia). John Knox, um gigante da fé do século XVI, foi um dos homens que mais amou a oração, mais do que qualquer outra coisa no mundo. Ele é conhecido por sua paixão pela oração e pelas almas. O escocês orava quatro horas ininterruptas por dia. Sua famosa oração era “Dá-me a Escócia ou eu morro”. Depois dessa oração, o Senhor varreu o país europeu com conversões em massa. Sua paixão e os resultados que obteve por meio da oração levaram Maria, a rainha dos escoceses, a pronunciar a famosa frase: “Eu temo as orações de John Knox mais do que todo o exército militar da Europa”.

4. George Müller (Inglaterra). George Müller amava tanto a oração que não dispensava esse momento por nada e ninguém. Numa ocasião, Müller estava orando em seu quarto de oração, em uma época em que sua fama já era notória. A rainha da Inglaterra foi, então, à sua casa e sua empregada bateu na porta de seu quarto, dizendo: “Sr. Müller, a rainha está na sala, querendo falar com você”. Ele respondeu: “Diga à senhora rainha que agora não posso, pois estou falando com Rei dos Reis e não vou atendê-la”. Em vez de a rainha odiar Müller, passou a admirá-lo. Por esse comportamento, a rainha disse a seguinte frase, que fi­cou famosa: “Um homem de joelhos vale mais que um exército armado”. Estas palavras foram emitidas pela rainha da Inglaterra depois que conheceu as histórias de oração de Müller.

5. Os Morávios. Com os morávios, houve um grande avivamento que começou como uma campanha de oração que durou 100 anos. No dia 13 de agosto de 1727, na cidade de Herrnhut, a igreja de 300 membros ouviu uma pregação sobre a cruz e o Cordeiro de Deus. Enquanto a congregação se preparava para realizar a Santa Ceia, “o Espírito Santo caiu sobre eles”. A presença de Jesus foi sentida muito forte por todos os membros da igreja, até mesmo por dois crentes que não estavam presentes no culto e trabalhavam a 30 km do templo. Duas semanas depois do derramar do Espírito Santo, que ­ficou
conhecido como “O Pentecostes da Morávia”, a igreja iniciou um relógio de oração de 24 horas, que duraria 100 anos, sem interrupção.

Este avivamento, promovido por meio de uma oração íntima e profunda daquela igreja, fez nascer o movimento missionário moderno. Durante os 25 anos após o derramamento do Espírito, 100 trabalhadores foram enviados para pregar o Evangelho em quase todos os países da Europa e em muitas tribos na América do Norte, América do Sul, Ásia e África. Em 1791, 65 anos depois do início
do ministério de oração, a igreja já havia enviado mais de 300 missionários até os con­fins da Terra. Isso aconteceu muito antes do “Pai das Missões Modernas”, William Carey, viajar para a Índia em 1793.

Avivamentos que começaram pela oração

Além dos morávios, podemos pensar em outros grandes avivamentos que aconteceram a partir da oração. Seguem alguns:

1. O avivamento da Reforma Protestante (século XVI). Os historiadores de Lutero revelam que Lutero não apenas orava frequentemente, mas também refletia e ensinava sobre a natureza, o conteúdo e a prática de oração, especialmente em sua obra Um Modo Simples de Orar. A Reforma Protestante foi a grande arrancada da igreja.

2. O Grande Despertar (século XVIII). O segundo grande avivamento, conhecido como “O Grande Despertar”, ocorreu no século XVIII, principalmente na América do Norte. Este movimento foi marcado por intensas reuniões de oração, pregação apaixonada e uma ênfase renovada na salvação pessoal através de Cristo. O Grande Despertar nos ensina sobre a importância da conexão pessoal com Deus, um princípio que é tão relevante hoje quanto era naquela época.

3. O Avivamento de Gales (1904-1905). O avivamento ocorrido em Gales foi concomitante ao evento de Azusa Street, mas em um contexto cultural completamente diferente. Esse avivamento começou em uma reunião de oração de jovens e transformou a nação de Gales, com milhares de pessoas se convertendo ao Cristianismo. A história do Avivamento de Gales nos ensina que Deus pode atuar em qualquer local, em qualquer cultura, para trazer as pessoas
de volta para Ele.

4. O Avivamento da Rua Azurza (1906-1915). Em 1906, o reverendo William Seymour iniciou seus trabalhos em Los Angeles com reuniões de oração, e veio o derramamento do Espírito Santo, se tornando um grande avivamento da história do pentecostalismo. Os fundadores de nossa igreja no Brasil, os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingrem, foram cheios do Espírito Santo nos Estados Unidos como fruto daquele derramamento de poder que teve início na Rua Azuza, em Los Angeles.

Oração, meditação e ciência

Nas últimas décadas, a ciência vem se interessando na pesquisa sobre o poder da fé e da oração. De acordo com o pós-doutor em Neurociências e membro da Sociedade de Neurociência dos Estados Unidos, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a oração tem impacto no funcionamento cerebral. “Durante a oração, há uma ativação de regiões específi­cas, como o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado posterior e anterior, partes normalmente relacionadas à autorreflexão, mas com ligações também com a empatia. Além disso, ela também ajuda a reduzir a atividade da amígdala, região relacionado ao estresse e a questões emocionais”. Vale salientar que o córtex pré-frontal medial desempenha papéis nas funções cognitivas e emocionais, como na tomada de decisões, no planejamento e no controle emocional. Tudo isto se equilibra no cristão que hora. O Dr. Fabiano também a­rma que “o ato de orar também ajuda na liberação de neurotransmissores relacionados com o prazer e bem-estar geral, como endorfina e dopamina, o que explica a sensação de paz trazida pela oração, o que ajuda na redução do estresse e ansiedade”. Veja como isso é importante: os neurotransmissores fazem a ligação entre um neurônio transmissor e o neurônio receptor, fazendo tudo funcionar em nosso corpo.

Não é novidade que a oração tem sido objeto de estudo por vários cientistas ao redor do mundo, que tentam comprovar e buscar aprofundamento sobre o seu poder. Estudiosos da Universidade Duke, nos Estados Unidos, por exemplo, confirmaram que a oração pode influenciar a capacidade orgânica de enfrentar doenças. Quando a pessoa ora, dizem eles, é fortalecido o lobo frontal, parte do cérebro que ativa o sistema imunológico. De acordo com o mesmo estudo, a pessoa que tem fé vive 25% mais que os descrentes. Além disso, tem mais saúde física e mental, pressão arterial normal e um sistema de defesa orgânica muito mais forte.

Veja que essa pesquisa fala sobre a oração aumentar a imunidade. Precisamos valorizar e praticar mais a oração, por tudo que já sabemos pelas Escrituras e nossa experiência, e agora também por tudo que a ciência está descobrindo. O médico cristão Don Colbert, especialista em tratamentos naturais e grande pesquisador de assuntos relacionados à cura pela fé, afirma que a oração pode até regenerar o cérebro. Ele a­firma que “muitas pessoas que fazem uso desta prática [oração] apresentam benefícios psicológicos e espirituais, como uma sensação de maior clareza, propósito, gratidão, senso de conexão e bem-estar geral”, explicou ele durante entrevista à CBN News nos Estados Unidos.

Colbert citou um estudo da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, que descobriu que 85% das pessoas que lidam com uma doença grave e buscam ajuda na oração são benefi­ciados. “Isso mostra que a oração não é apenas um fenômeno cultural, mas um aspecto fundamental da experiência humana. No entanto, muitas pessoas ainda lutam para conciliar o poder da oração a uma visão de mundo cientí­fica.

O psiquiatra e psicanalista Pedro Onari analisa que a oração tem a capacidade de mudar a neuroplasticidade cerebral. “A prática constante cria novas sinapses de memória, facilitando o acesso à experiência espiritual individual”, pontua o fundador do Instituto Onari, com o objetivo de levar “conhecimento da ciência em saúde mental, Psicanálise e Psiquiatria sem perder o foco nos ensinamentos de Jesus e na Palavra de Deus”. Nesta pesquisa, o autor fala sobre plasticidade cerebral. Isso signifi­ca que a oração pode mudar o cérebro humano.

Interessante que há uma pesquisa publicada na Frontiers na qual é dito que a prática de fechar os olhos durante a oração pode influenciar nosso cérebro, aumentar o foco e potencializar os efeitos psicológicos e emocionais da oração. Quando fechamos os olhos em oração, reduzimos a carga sensorial e direcionamos a atenção para nosso interior, o que facilita nossa conexão espiritual.

A oração é poderosa em todas as áreas de nossa vida. Cabe a nós, como igreja e liderança, retornar a uma vida de profunda conexão com Deus, o que implica uma oração disciplinada. Lembrando que orar tem um efeito semelhante ao que a ciência chama de meditação mindfulness, que signi­fica atenção plena. Logo, oração é atenção total e meditação profunda de forma positiva.

Nestes tempos trabalhosos, precisamos retornar a um momento de oração de forma programada. Que a oração retorne à nossa rotina, que faça parte de nossa agenda e que seja feita com propósito e disciplina, a ponto de passamos horas com o Senhor todos os dias.

REFERÊNCIAS:
Agrela, Fabiano Entenda os impactos da oração no cérebro comprovados pela ciência, Benicio Biz Editores, https://tnsustentavel.eco.br/ 29/02/2024, acesso 04.04.2025.

Os 7 grandes avivamentos da história, minutos com Deus, https://minutoscomdeus.com.br/acesso em 05/04/2025

Scot, Patricia, Ciência atesta o poder da oração, Comunhão, https://comunhao.com.br/2023,acesso 05/04/2.

Mendes, Bruno, Alê Rocha,www.alerocha.net, acesso 05.04.2025.

por Israel Alves Ferreira

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