A missão educadora da Igreja e suas manifestações em nossos dias
O ministério da educação cristã consiste em fazer e ensinar discípulos fundamentado na autoridade das Escrituras Sagradas. O seu compromisso se relaciona com a Grande Comissão ordenada por Jesus. Sua atuação é primordial para o crescimento de uma igreja espiritualmente saudável e doutrinariamente bíblica. Mercê de sua importância, o artigo em questão apresenta o conceito desse ministério, da missão educadora dos crentes, e os principais agentes da educação cristã no âmbito da Igreja.
O conceito de educação cristã
A palavra “Educação” vem do latim educare que
significa literalmente “guiar”, “levar”, “tirar de”, “retirar”, “conduzir para fora”.
No texto do Novo Testamento, entre outros, destaca-se o emprego da palavra grega
paideia com o sentido de “instruir”, “formar”, “ensinar” e “educar”. Na Grécia
Antiga, a paideia referia-se tanto ao modo como à meta da educação. O
Dicionário Bíblico Wycliffe (2006, p. 597) assegura que, quando aplicada às
crianças, ela tem sentido de treinamento e correção (Hebreus 12.5-11); e no
caso de adultos, se refere àquilo que desenvolve a alma, corrigindo erros e
controlando as paixões (2 Timóteo 3.16).
Em termos gerais, a educação é um processo contínuo de
desenvolvimento e aperfeiçoamento do ser humano. No sentido formal, ela designa
o ensino como um sistema que compreende tanto a teoria quanto a prática. No
aspecto da educação cristã, o ensino-aprendizagem se fundamenta na revelação
divina, cujo livro texto é a Palavra de Deus. No âmbito eclesiástico, sua
ocupação é o ensino sistemático e contínuo das doutrinas bíblicas (Mateus 28.20;
Atos 15.35; Colossenses 1.28, 2 Timóteo 2.2). Na esfera da sociedade civil, dedica-se
à educação formal, acadêmica e intelectual com o embasamento e a práxis dos
princípios cristãos (Mateus 5.13-14; Romanos 12.1-2).
A missão educadora da Igreja de Cristo
O Senhor confiou à Igreja a tarefa da Grande Comissão (Mateus
28.19-20; Marcos 16.15). Nesse aspecto, o ensino cristão sempre esteve relacionado
ao IDE estabelecido por Jesus. A incumbência é tanto de formação de indivíduos como
de transformação da sociedade. Trata-se de uma ordenança proclamadora e de um
mandato educacional. É responsabilidade dos discípulos de Cristo evangelizar e
ensinar as doutrinas bíblicas (1 Timóteo 4.13; 2 Timóteo 4.2). Em vista disso,
Paulo enfatiza a necessidade da dedicação ao ensino (Romanos 12.7). O apóstolo
aponta para o indispensável “esmero” e “diligência” da Igreja no exercício do
dom de ensinar.
Desse modo, o ministério da educação cristã se reveste de
notável importância, uma vez que, bem estruturado pode cabalmente cumprir a missão
ordenada à Igreja. Sua atividade é imprescindível no propósito de instruir,
expor e corrigir o erro (2 Timóteo 3.16) a fim de produzir verdadeira
transformação na natureza humana (Efésios 4.22-23).
Os agentes da educação cristã nas Assembleias de Deus são diversificados
e possuem áreas de abrangência variadas. Entres eles, destaca-se o culto de
ensino; a Escola Dominical; a obra evangelística e missionária; a formação
teológica; e a atuação de uma escola de cunho confessional.
Nos pontos a seguir, veremos cada um desses aspectos.
A função do culto de doutrina
O termo “doutrina” vem do grego didache e significa
“ensinamento ou aquilo que é ensinado” (VINE, 2002, p. 579). Nesse sentido, o
culto de estudo bíblico tem a função de ensinar de forma dogmática a Palavra de
Deus. Por isso, também é identificado como culto de doutrina. Assim sendo,
ratifica-se que o principal objetivo desse culto é ensinar, defender e manter a
ortodoxia cristã. A ortodoxia é a interpretação correta e autorizada das
doutrinas bíblicas. O livro texto é a Bíblia Sagrada, única fonte de autoridade,
a inerrante, infalível, completa e inspirada Palavra de Deus. Desse modo, o
ensino da Bíblia ocupa a maior parte do tempo destinado ao culto de doutrina.
Trata-se de uma das grandes responsabilidades pastorais. A defesa
do genuíno evangelho, o ensino da ortodoxia e o aperfeiçoamento dos santos
constituem-se no propósito original da chamada ministerial (Efésios 4.11-12). É
dever do pastor da Igreja combater os falsos ensinos e fortalecer a fé da
membresia. Em consequência da avalanche de mensagens de autoajuda, do grande
apelo ao relativismo e do sincretismo religioso, muitos cristãos têm sido
arrastados para a prática de uma fé estranha ao Evangelho. O compromisso da liderança
com a verdade bíblica evita que os crentes sejam enganados e os impede de naufragar
na fé pelos impetuosos ventos de doutrinas heréticas (Efésios 4.14).
Nesse propósito, cabe ao líder usar toda ferramenta disponível
para que o culto de doutrina cumpra sua função na educação cristã. Para isso, a
Bíblia deve ser interpretada sob a orientação do Espírito Santo, observando as regras
gramaticais e o contexto histórico e literário (SOARES, 2017, p. 29). O
ministro também deve fazer uso da Declaração de Fé, que traz as interpretações
autorizadas das Escrituras e os ensinos oficiais das Assembleias de Deus no
Brasil. Paulo adverte aos líderes acerca dessa imprescindível tarefa. A Timóteo,
recomendou: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina...” (1 Timóteo 4.16). E a
Tito, asseverou: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tito 2.1).
O papel da Escola Dominical
A Escola Dominical (ED) desempenha com excelência o papel de
maior agência de educação cristã, porque evangeliza enquanto ensina, atendendo
aos dois lados da ordem de Jesus: fazer discípulos e ensinar (Mateus 28.19-20).
Nessa compreensão, o teólogo Antonio Gilberto (2005, p. 21-23) enfatiza que são
três os principais objetivos da ED, a saber: (a) ganhar almas para Jesus, o que
requer dedicação para conduzir o aluno a aceitar a Cristo (2 Coríntios 12.15);
(b) desenvolver a espiritualidade e o caráter cristãos, o que engloba empenho na
formação dos hábitos cristãos (Gálatas 5.22); e (c) treinar o cristão para o
serviço do Mestre, o que demanda propiciar oportunidades para a capacitação de
obreiros (2 Timóteo 2.2,15).
Para atingir essas metas, o currículo da ED merece destaque
pela sua abrangência específica. Ao contrário do culto de doutrina que reúne em
um único auditório todas as faixas etárias, a ED divide-se em três segmentos principais:
(a) infanto-juvenil, que se subdivide por idade em Berçário (0-2), Maternal
(3-4), Jardim de Infância (5-6), Primários (7-8), Júniores (9-10),
Pré-Adolescentes (11-12), Adolescentes (13-14) e Juvenis (15-17); (b) Jovens
(18-24 anos); e (c) Adultos (25 anos em diante). Essa organização obedece às fases
do desenvolvimento humano e sua capacidade cognitiva e intelectual para o
aprendizado. Esse agrupamento por idade visa à eficácia do ensino. Desse modo,
para uma ED eficaz, essa formatação não deve ser negligenciada.
Outro aspecto a ser enfatizado refere-se ao conteúdo programático
que integra as lições bíblicas. O material didático preserva a autoridade
suprema da Palavra de Deus como única regra infalível de fé e prática (2 Timóteo
3.14-17). As lições refletem a ortodoxia professada pelas Assembleias de Deus
e, assim, contribuem para manter a unidade doutrinária no Corpo de Cristo. Os
alunos são estimulados a crescer na graça e no conhecimento (2 Pedro 3.18); a
buscar o batismo no Espírito Santo (Atos 2.39); experimentar os dons espirituais
(1 Coríntios 12.1); santificar-se (Hebreus 12.14); cumprir o Ide de Jesus (Marcos
16.15); e aguardar vigilantes a volta do Senhor (1 Tessalonicenses 4.16-17).
Nesse aspecto, o pressuposto bíblico do currículo não é apenas um referencial teórico,
mas, sobretudo, serve padrão para a práxis cristã.
A obra evangelística e missões
Como já observado, a ordem de Cristo na Grande Comissão compreende
tanto o “fazer” discípulos, como também o “ensinar” discípulos. Ratifica-se, portanto,
que evangelizar e realizar missões é cumprir a vontade divina de “ganhar” e “instruir”
as almas. Nas palavras de Jesus, encontramos o modelo para a prática do
discipulado eficaz (Mateus 28.18-20). Percebe-se no texto o emprego e a
repetição do adjetivo (todo, todas, tudo, todas): (a) todo o poder no céu e na terra
é dado a Jesus (Mateus 28.18); (b) os discípulos devem fazer discípulos de todas
as nações (Mateus 28.19); (c) os discípulos devem ensinar tudo o que Jesus
disse (Mateus 28.20a); e (d) Jesus promete estar com os discípulos todos os
dias (Mateus 8.20b).
Nesses versículos, observa-se as seguintes particularidades:
(a) A autoridade é de Cristo. Não se pode fazer ou ensinar discípulos em nome de
instituições ou de pessoas, mas em nome de Cristo. (b) O discipulado deve ser
universal. A proclamação do Evangelho implica a necessidade da capacitação dos crentes
para evangelizar o mundo todo. (c) Ensinar a doutrina de Cristo. O
ensino-aprendizagem faz parte do processo de discipulado tanto quanto ao ato de
batizar nas águas. E (d) a promessa da presença permanente de Cristo. O
cumprimento dessa verdade na vida dos discípulos se dá por meio do envio do
Consolador (João 14.16). Nesse diapasão, o próprio Cristo assegurou o poder do Espírito
Santo que capacita a Igreja para cumprir essa nobre missão (Atos 1.8).
Ciente dessa responsabilidade, cabe à liderança despertar os
crentes para a obra missionária e a tarefa de evangelização. Missões e
evangelismo podem e devem ser realizados em qualquer lugar, de modo individual
ou coletivo, local ou transcultural, perto ou longe, a tempo e fora de tempo (2
Timóteo 4.2). Evangelizar significa literalmente “proclamar notícias boas”, ou
seja, “contar a alguém a respeito de Cristo” (Atos 8.4). Nessa percepção, fazer
“missões só oferece duas opções: ir ou enviar” (EMAD, 2005, p. 32). Por essas
razões, a Igreja necessita reagir diante das acusações de proselitismo do
patrulhamento ideológico, e da mordaça do Estado que luta para inibir os
valores cristãos. Uma das marcas da Igreja é anunciar o Evangelho sem nada
impor, apenas pregar. A obra de convencimento quem realiza é o Espírito Santo
(João 16.8).
A formação teológica
O ensino teológico formal, com a estrutura de institutos,
seminários e faculdades teológicas, não fez parte das primeiras décadas das Assembleias
de Deus. No entanto, isso não significa que a Igreja descuidasse do estudo da
Bíblia. O que se pode afirmar é que os estudos bíblicos não aconteciam no
espaço acadêmico, mas em cultos e reuniões diversos (BAPTISTA, 2017, p. 232). Por
isso, alguns dos pioneiros eram contrários ao que chamavam de “fábrica de
pastores” pelo perigo de ficarem com as “cabeças cheias e o coração vazio”
(DANIEL, 2004, p. 381). No entanto, após intensos debates, em 1971, a Convenção
Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) criou a Comissão de Educação Religiosa,
hoje Conselho de Educação e Cultura (CEC), cuja função é normatizar a educação
teológica das ADs.
Desde então, a Educação Cristã recebeu um forte aliado na formação
teológica dos líderes e dos crentes em geral. Nesse sentido, a igreja hodierna oferece
aos vocacionados a oportunidade de cursar a teologia formal. Essa capacitação
acontece na modalidade de ensino livre nos níveis básico, médio e avançado. E,
ainda em Instituições de Ensino Superior (IES) credenciadas no Ministério da
Educação (MEC), que ofertam cursos teológicos de graduação e pós-graduação. O preparo
inclui o conhecimento da teologia bíblica e sistemática; o estudo das línguas
originais do texto sagrado; as regras e os princípios da interpretação e
aplicação da Bíblia; a homilia e a oratória como a arte de preparar e pregar
sermões, dentre outras relevantes disciplinas de aprimoramento.
Portanto, é imperioso que as Igrejas invistam na criação e na
manutenção de cursos na aérea teológica tanto na modalidade “livre” como “acadêmica”.
Norman Geisler (2010, vol. 1, p. 12) assevera que “os teólogos evangélicos creem
que a Bíblia corresponde a um comunicado infalível e absolutamente verdadeiro,
que se originou de um Deus infinito, pessoal e moralmente perfeito”. Nessa
perspectiva, o aprendizado teológico, quando fundamentado na autoridade
bíblica, coopera com a sadia exposição doutrinária e impede o ensino contraditório
com o credo denominacional. A inclinação anti-intelectualista que nutre
desconfiança em relação à teologia é produto de desinformação e atrapalha os
esforços em direção à formação teológica pentecostal na defesa da fé cristã (Judas
v.3).
A escola confessional
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabelece
que a educação escolar básica no Brasil abrange a educação infantil, o ensino
fundamental e o ensino médio (LDBEN, Art. 21). A educação básica tem como finalidade
“desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em
estudos posteriores” (LDBEN, Art. 22). Os currículos dos sistemas e redes de ensino,
como também as propostas pedagógicas das escolas públicas e privadas da educação
básica são definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nela estão
previstos o ensino do darwinismo e a sua teoria da evolução como ciência
irrefutável; a religião como sendo construção cultural da humanidade; e, nas ciências
sociais, os alunos são estimulados a desnaturalizar condutas e a relativizar
costumes, dentre outros.
Para evitar a exposição dos alunos a uma educação secularizada,
a Igreja pode contrapor e ofertar uma educação baseada em princípios cristãos. A
legislação brasileira autoriza a criação de escolas de cunho confessional. Trata-se
de instituição privada caracterizada por seguir uma “confissão de fé” (LDBEN,
Art. 19). Nesse caso, a escola pode pautar a educação conforme suas convicções religiosas.
No entanto, não pode prescindir da legislação educacional em vigor. Por exemplo,
terá que ensinar o evolucionismo de Darwin, mas também poderá ensinar o criacionismo
bíblico; o ensino religioso obedecerá ao credo doutrinário denominacional; e os
temas sociais seguirão os pressupostos e os valores do Cristianismo.
Com o objetivo de propiciar a educação confessional nas AD, a
CGADB, por ocasião da 8ª Assembleia Geral Extraordinária (AGE), realizada em
Belém (PA) em 2019, instituiu a Rede Assembleiana de Ensino (RAE). A finalidade
principal é a promoção do aprimoramento cultural e intelectual dos membros da
CGADB e demais interessados, por meio da criação e manutenção de
estabelecimentos de educação básica: o “Colégio Assembleiano”. A Rede oferece um
projeto educacional de alto padrão de qualidade. Sua implantação requer ampla visão
do Reino de Deus e investimento econômico. O resultado será a formação sólida,
ética, acadêmica e cultural de cosmovisão cristã das novas gerações
pentecostais.
Considerações finais
O ministério da educação cristã promove, acompanha e
estimula o desenvolvimento do crente, desde a sua conversão e durante todo o processo
de seu amadurecimento espiritual. Alicerçado na autoridade das Escrituras, na formação
do caráter e na capacitação do crente ao serviço cristão, os agentes da
educação cristã terão cumprido o seu papel quando for perceptível mudanças nas
pessoas e na sociedade que atestem a transformação de vidas (1 Coríntios
6.10-12). Quando nos distanciamos da missão educadora da Igreja, a fé cristã é desvirtuada.
Portanto, a ordem de Cristo deve ser obedecida: “Ide, fazei discípulos...
ensinando-os” (Mateus 28.19-20).
Referências Bibliográficas
ANTONIO, Gilberto. A Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD,
2005.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
LDBEN, Lei nº 9.394/1996.
BUENO, Telma. Educação Cristã Reflexões e Práticas. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012.
EMAD, Escola de Missões das AD. Guia Prático de Missões. Rio
de Janeiro: CPAD, 2005.
LEBAR, Lois E. Educação que é cristã. Rio de Janeiro: CPAD,
2012.
PFEIFFER, F. Charles. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006.
SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de
Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
VINE, W. E. Dicionário Vine: o significado exegético de
todas as palavras do Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
por Douglas Roberto de Almeida Baptista
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