Sobre a serpente ser a “mais astuta que todas as alimárias do campo”

Sobre a serpente ser a “mais astuta que todas as alimárias do campo”


A narrativa de Gênesis 3.1 traz a informação de que a serpente “era a mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus havia feito”. O que isso quer dizer exatamente no texto original em hebraico?

Gênesis é o livro das origens do céu, da terra, do homem e de todo o universo. Registra também a entrada do pecado no mundo humano. O capítulo 3 mostra quem provocou a tentação, os envolvidos nela e que roteiro foi seguido, bem como as consequências sobre Adão e Eva, sobre a sua família e, por fim, sobre toda a humanidade, chegando até os nossos dias.

Deve-se observar o sentido original de pelo menos duas palavras hebraicas que se destacam no versículo 1 do referido capítulo: primeiro, a palavra nahãs, traduzida por serpente ou cobra. Segundo, a palavra hebraica arum, traduzida por sagaz ou astuta. Quanto à primeira, F.F. Bruce afirma: “a serpente: cobra (BLH) seria uma tradução melhor, pois trata-se da palavra hebraica normal nahas. Embora o elo com Satanás esteja implícito no v. 15 e explícito no NT, não é explicado aqui. Ela é apresentada como o mais esperto e inteligente (Leupold) entre os animais selvagens – não há conotação negativa na palavra. A tentação é retratada como que vindo não de um ser superior, mas e um ser inferior, sobre o qual a mulher deveria ter exercido domínio. Como a mulher ouviu o réptil, não é explicado no texto” (F.F. BRUCE, 2015, p. 160).

Assim como o teólogo citado, um grande número de estudiosos da Bíblia acredita que a informação primária do texto em análise é que Satanás fez uso de um animal, uma criatura de Deus, de rara inteligência, sagacidade ou esperteza que, de alguma forma ,chamava a atenção, possivelmente por seu porte ou andar destacado ou, simplesmente, devido à sua sagacidade. Portanto, pode-se afirmar que o texto fala tanto de uma serpente enquanto animal, como também destaca a figura do tentador que, posteriormente, se tornou conhecido como a antiga serpente (Apocalipse 12.9; 20.2).

Com relação à segunda palavra em destaque, Heber Carlos de Campos afirma: “Por um lado, não havia nenhum problema no fato de esse animal ser sagaz porque o termo hebraico arum (traduzido como sagaz) pode ter uma conotação positiva como ‘prudência, esperteza, inteligência e perspicácia’ (Provérbios 1.4; 15.5;19.25; Mateus 10.16). Por outro lado, a palavra arum pode ser usada de modo pejorativo e negativo na Escritura e significa pessoas que possuem astúcia (1 Samuel 23.22; Efésios 4.14) e são ardilosas (Lucas 20.23), enganando com palavras (Jó 15.5) e armando ciladas para que outros caiam (Salmos 83.3; Jó 5.12) [...] No texto de Gênesis 3.1, podemos ver a sobreposição da sagacidade do bem pela sagacidade do mal. Satanás, que tenta Eva, toma a sagacidade positiva da serpente e a faz instrumento de sua sagacidade negativa” (CAMPOS, 2019, pp. 44,45).

A  continuidade  do  capítulo  3 mostra que Satanás entrou no habitat original do ser humano e escolheu uma serpente astuta para executar o seu plano de tentação. E sua sagacidade torna-se ainda mais evidente ao escolher a Eva e não a Adão, seu esposo. Ela era a esposa daquele com quem Deus havia feito o pacto diretamente. Adão tinha ouvido as instruções diretamente do Criador. Eva conhecia a ordem de Deus quanto a não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.16,17), mas ela não era o cabeça do lar (1 Timóteo 2.14). “Satanás abordou Eva com o objetivo de distorcer a perspectiva que ela possuía a respeito das ordens de Deus e, lançando dúvidas sobre a palavra de Deus, sugeriu uma alteração da ordem de Deus e ainda desmentiu a ordem divina falando o contrário do que Deus havia afirmado: ‘certamente não morrereis’ (Gênesis 3.4). Ele provocou a queda da raça humana, por meio do engano. O engano será o meio principal que Satanás usará para levar as massas à rebelião contra Deus no fim da história (2 Tessalonicenses 2.8-12; Apocalipse 20.8)” (STAMPS, 2010, p. 36).

Referências

BRUCE, F.f. Comentário Bíblico NVI Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2015.

CAMPOS, Heber Carlos de. O Habitat humano. O paraíso perdido. São Paulo: Hagnos, 2019.

STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

por Rayfran Batista da Silva

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