Para uma melhor compreensão deste texto (Romanos 6.6), precisamos analisar seu contexto imediato (Romanos 6.1-23), onde a expressão “corpo do pecado” está inserida, bem como seu contexto mais abrangente – a doutrina da justificação pela fé, que é o objetivo central do apóstolo Paulo ao escrever esta Carta aos cristãos que estavam em Roma (Romanos 1.15).
Em todas as igrejas que Paulo fundou, ele teve que lutar com
dois grandes inimigos da fé em Cristo: (1) o legalismo da religião judaica e (2)
a imoralidade dos gentios. Esta igreja em Roma, apesar de não ter sido fundada
por Paulo, não era uma exceção, pois entre seus membros havia judeus e gentios,
muitos deles citados nominalmente pelo apóstolo (Romanos 16). Nesta Carta,
Paulo defende enfaticamente a justificação pela fé (Romanos 1.16, 17) e o faz
de forma muito abrangente, apontando inicialmente a velha natureza humana caída
e escravizada pelo pecado (capítulo 1) e expondo a seguir o injustificável
argumento dos judeus que se julgavam superiores aos demais povos pelo simples
fato de serem descendentes de Abraão, desconsiderando a verdadeira justiça de Deus,
“o qual recompensará cada um segundo as suas obras” (Romanos 2.6), com esta
justiça se aplicando a todos indistintamente: “Porque, para com Deus, não há
acepção de pessoas (Romanos 2.11).
No capítulo 3, Paulo segue mostrando que os judeus que
tinham o conhecimento da lei, bem como os gentios, “todos estão debaixo do pecado,
não há um justo, nem um sequer [...] todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus” (Romanos 3.10, 23). Logo, Paulo apresenta o argumento da
justificação pela fé (capítulos 4 e 5), mostrando que por um homem (Adão) todos
fracassaram, mas que por um homem (Jesus Cristo) todos são justificados mediante
a fé nEste. Assim, “onde o pecado abundou, superabundou a graça”! Seguindo seu
raciocínio da justificação pela graça, Paulo mostra (capítulo 6) que esta graça
alcançada por meio da fé não anula a justiça de Deus, e que tendo sido alcançados
por esta graça, a velha natureza escrava do pecado foi morta e no batismo foi
sepultada “para que como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai,
assim andemos nós também em novidade de vida” (Romanos 6.5).
Então, quando Paulo faz menção da destruição do “corpo do
pecado” (Romanos 6.6), ele não está se referindo à destruição ou mutilação do
nosso corpo físico, mas, sim, da velha natureza adâmica escravizada pelo pecado,
que deve continuar morta, sem nenhuma influência em nossa nova vida em Cristo
para não sermos mais servos do pecado. “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado,
para que a graça seja mais abundante. De modo nenhum...” (Romanos 6.1, 2).
Paulo afirma que os que recebem esta regeneração por meio da fé devem
“considerar-se mortos para o pecado e vivos para Deus” (Romanos 6.11), e que
viver em Cristo significa não permitir que reine “o pecado em vosso corpo mortal,
para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os
vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade” (Romanos 6.12,13).
Antes éramos servos do “corpo do pecado”, da nossa natureza humana
dominada pelo pecado, para obedecer às concupiscências da carne. Desta forma,
obedecíamos e seguíamos os impulsos do pecado, sendo servos obedientes às suas
concupiscências. Ao sermos alcançados pela graça de Cristo, por meio da fé, “o
nosso velho homem foi com ele crucificado” (Romanos 6.6), o corpo do pecado foi
desfeito. Assim, nos tornamos servos desta nova natureza em Cristo Jesus: “Mas agora,
libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação, e pôr fim a vida eterna” (Romanos 6.22).
por Sergio Bastian
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